Rio

Repórter do GLOBO é detido por fotografar ação da polícia na desocupação da Favela da Oi

Ele foi filmado por um policial após ser imobilizado
Policial aponta arma para beco no entorno da Favela da Oi Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Policial aponta arma para beco no entorno da Favela da Oi Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO - O repórter do jornal O GLOBO Bruno Amorim foi detido pela Polícia Militar por fotografar a operação de desocupação da Favela da Oi, no Engenho Novo. Um PM arrancou os óculos de Bruno, deu-lhe uma chave de braço e o acusou de incitar a violência. Após ser imobilizado, ele foi filmado pelo mesmo policial, que dizia: "Estou filmando um repórter da Globo que estava jogando pedras. Vocês mostram a nossa cara, agora estou mostrando a sua". O policial estava sem identificação na farda.

- Na hora em que fui preso, policiais estavam brigando com os manifestantes - afirmou Bruno.

Bruno teve o seu aparelho celular apreendido por mais de uma hora e não conseguiu se comunicar com a redação até as 9h20m. Jornalistas de outros veículos começaram a ligar para suas chefias para informar a prisão. O repórter foi levado para a 25ª DP (Rocha), sendo liberado em seguida. O caso não foi registrado pela polícia. Ao ser detido, Bruno foi acusado de desacato, incitação à violência e resistência à prisão. Desde o início da ação, na manhã desta sexta-feira, os policiais ameaçaram prender repórteres e cinegrafistas que faziam a cobertura da reintegração de posse.

Na madrugada desta sexta-feira, a polícia ameaçou dar voz de prisão a outro repórter do GLOBO, Leonardo Barros, que estava no local acompanhando a movimentação dos PMs. Os PMs mandaram Leonardo correr, caso contrário seria preso. Ele se negou. Então ordenaram que se afastasse ou seria preso por resistência e desacato. Os militares não estavam deixando os profissionais da imprensa registrarem a confusão. Ainda na madrugada, antes de iniciar a desocupação, repórteres de emissoras de TV também foram ameaçados.

Durante a confusão, um grupo de pessoas que saiu do prédio depredou carros da TV Globo, SBT e Record, estacionados perto de um posto de gasolina.

Abraji, Abert, ANJ e sindicato condenam prisão

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a  Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Jornais  e o Sindicato dos Jornalistas do Rio condenaram a prisão do repórter do GLOBO.

Segundo a nota da Abraji, "ao prender Bruno Amorim e ameaçar com prisão outros repórteres, a PM do Rio presta um desserviço. Ao depredar automóveis dos meios de comunicação, manifestantes se unem à polícia no ataque ao direito à informação de toda a sociedade". A nota da associação também cita a ameaça feita por policiais militares ao repórter Leonardo Barros.

Já a Abert afirmou que "é extremamente preocupante o uso de métodos violentos empregados tanto pela Polícia Militar como por cidadãos civis, com o objetivo de impedir o trabalho jornalístico e privar a sociedade do acesso à informação".

"Espera-se das autoridades de Segurança do Estado a apuração dos abusos cometidos", cobrou o presidente da Abert, Daniel Pimentel Slaviero.

A ANJ disse que é "inadmissível que profissionais no exercício da atividade jornalística sejam alvo de violência por parte de policiais, que deveriam zelar pela segurança pública, e de integrantes de grupos radicais. A ANJ espera que as autoridades responsáveis pela segurança pública no Rio de Janeiro tomem as providências necessárias à garantia da integridade física de profissionais de imprensa e que o governo federal implemente o anunciado protocolo nacional de operação das forças policiais, de forma a assegurar o livre exercício do jornalismo em situações de conflito."

Já o texto do sindicato diz que a prisão de Bruno "tratou-se da mais violenta ação conjunta da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro de censura e repressão de jornalistas".