25/10/2014 10h05 - Atualizado em 27/10/2014 11h44

Documentário 'Sete Corações' faz homenagem aos mestres do frevo

Filme mostra, com delicadeza, o cotidiano e as ideias dos maestros.
Pré-estreia será neste domingo (26), no Janela Internacional de Cinema.

Roberta RêgoDo G1 PE

Spok (terceiro da esquerda para a direita) teve a ideia de homenagear seus mestres: Guedes Peixoto, Duda, Edson Rodrigues, Zé Menezes, Clóvis Pereira, Ademir Araújo e Nunes (Foto: Divulgação/Leopoldo Conrado Nunes)Spok (terceiro da esquerda para a direita) teve a ideia de homenagear seus mestres: Guedes, Duda, Edson, Menezes, Clóvis, Ademir e Nunes (Foto: Divulgação/Leopoldo Conrado Nunes)

Ao tentar fazer uma pesquisa sobre o frevo, o maestro Spok se deparou com uma grande carência de registros, especialmente audiovisuais. Com diversos prêmios conquistados e em meio a mais uma turnê internacional, o pernambucano Spok é o mais atuante maestro da nova geração. Nasceu daí a ideia de homenagear seus mestres, enquanto ainda estavam vivos. Foi assim que Clóvis Pereira, Duda, Guedes Peixoto, Ademir Araújo, Zé Menezes, Edson Rodrigues e Nunes viraram protagonistas do longa-metragem “Sete Corações”, que tem pré-estreia neste domingo (26), no cinema São Luiz às 11h, dentro do festival Janela Internacional de Cinema.

 Assista ao trailer aqui.

Os sete integram a segunda geração de compositores de frevo – na primeira estão autores como Capiba e Nelson Ferreira. “Quando Spok veio com a ideia, eu parabenizei. Falei: ‘Você vai fazer uma coisa que Nelson Ferreira, Zumba e Levino não tiveram’. Nós somos parte dos mestres, mas não somos os mestres definitivos”, disse Edson Rodrigues, um dos sete homenageados.

Marco Zero do Recife fica repleto durante o carnaval (Foto: Reprodução/Sete Corações)Frevo atrai multidão para o Marco Zero do Recife no carnaval
(Foto: Reprodução/Sete Corações)

Os maestros concentram a essência do ritmo pernambucano, que é Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2012, segundo a Unesco. São compositores e, juntos, representam todas as nuances do ritmo: os blocos, os clubes, as orquestras, a erudição, o ensino. “Há muito pouco registro de partituras, das composições de frevo. Eles carregam o ritmo, são a história viva do frevo”, explica Carol Vergolino, produtora executiva do documentário.

“As produções normalmente nascem do diretor e ele conduz o filme. Nesse caso, Spok procurou a produtora Ateliê com a ideia dele. Entendo meu papel como o de tradutora. Eu traduzi os desejos deles e coloquei num filme”, sintetiza Déa Ferraz, diretora do documentário.

O caminho escolhido não foi biográfico, mas intimista. “Sete corações” é um filme sobre o amor ao frevo que mostra, com muita delicadeza, o processo criativo dos mestres, com suas anotações rabiscadas em papel ou construídas na tela do computador, o jeito deles de demonstrar e receber carinho da família, o cotidiano, a maneira de arquivar as composições. “A gente procurou respeitar o tempo e a vontade deles de falar”, explica a diretora.

As filmagens aconteceram nos anos de 2008 e 2011 e a montagem foi realizada em 2013. "Sete Corações" teve o mérito extra de provocar uma temporada de convivência entre os sete maestros. O vídeo registra o trabalho deles de compor uma música a catorze mãos, que acabou batizando o filme -- no player ao lado, ouça a composição.

“O pernambucano que estiver fora do país vai se derreter com o filme”, disse Duda, um dos maestros homenageados, logo depois de assistir à pré-estreia, na última quinta-feira (23), no cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Outro dos maestros, José Menezes, morreu em novembro do ano passado, mas chegou a assistir ao filme no hospital - e aprovar o resultado.

Partitura do frevo 'Sete Corações', composto pelos maestros protagonistas do filme (Foto: Reprodução/Sete Corações)Partitura do frevo 'Sete Corações', composto pelos maestros
protagonistas do filme (Foto: Reprodução/Sete Corações)

Quatro deles foram à pré-estreia: Duda, Guedes, Ademir e Edson. Pareciam bastante satisfeitos com o resultado e a espontaneidade com que foram filmados. “Naquela cena em frente ao Cinema Moderno, onde eu apareço enrolado para botar o chapéu... Se eu soubesse que estava sendo filmado não teria deixado”, disse Edson. “Eu gostei muito do trabalho, achei conciso. Juntou nossas opiniões e fez justiça à grandeza do frevo”, analisou Guedes Peixoto.

“A gente é privilegiado porque aqui ninguém [a população] conhece ninguém [os artistas]. É um problema de cidadania”, disse o maestro Ademir Araújo. O tom de queixa está presente em alguns dos depoimentos deles, efeito da falta de reconhecimento que enfrentam ao longo da carreira. Ademir responsabiliza o formato educacional e político do Brasil. Defende que as crianças pernambucanas deveriam ter contato com o frevo a partir dos dois anos de idade, no princípio da vida escolar.

“Sem orquestras de rádio, sem estúdios, jamais vai aparecer outro Capiba ou mesmo outro Duda. Eles tiveram oportunidades que nós não tivemos, viveram um tempo em que a cultura musical grassava. Hoje não temos mais orquestras de rádio e TV nem estúdios”, afirmou Edson, depois de assistir ao filme.

Duda, Ademir, Edson e Guedes foram à pré-estreia na Fundaj (Foto: Roberta Rêgo/G1)Duda, Ademir, Edson e Guedes foram à pré-estreia na Fundaj (Foto: Roberta Rêgo/G1)

Sem playback
Maestros como Duda e Guedes começaram a construir sua carreira em um tempo diferente. “Não tinha playback. A gente tinha muitas oportunidades de fazer música ao vivo. O cantor trazia os arranjos e a orquestra era tão boa... Ensaiava ali, fazia ao vivo e garantia a qualidade. Eu [como maestro da orquestra] botava quantos músicos queria”, disse, se referindo aos programas de auditório e programas nas rádios dedicadas à música. Além disso, era das gravadoras o papel de investir nos artistas e lançar seus discos. “Hoje em dia grava disco quem tem grana para pagar tudo”, afirmou.

Distribuição
Para a realização de "Sete Corações" foram captadas mais de 130 horas de filmagens, material suficiente para editar até uma série de TV. Depois do lançamento - no dia 21 de novembro, com promessa de tapete vermelho para os mestres e arrastão de frevo até a sede do Galo da Madrugada - a ideia é investir na distribuição, para TVs abertas e fechadas, escolas e cineclubes.

Serviço
Sete Corações
Pré-estreia  no Janela Internacional de Cinema
Domingo (26), às 11h
Cinema São Luiz
Rua da Aurora, 175 - Centro - Recife

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