Edição do dia 26/08/2014

27/08/2014 00h50 - Atualizado em 27/08/2014 01h56

Documentos mostram empresas de fachada na compra do jato em que morreu o candidato Eduardo Campos

Essas informações sobre o negócio de venda do avião usado por Campos constam nos extratos da AF Andrade e foram entregues à Polícia Federal.

Tiago EltzRecife, PE

Os planos de voo do jato acidentado no qual morreu Eduardo Campos indicavam a AF Andrade Empreendimentos como operadora da aeronave, mesmo depois da data na qual, segundo a empresa, o avião teria sido vendido a empresários do Nordeste.

Documentos obtidos com exclusividade pelo Jornal Nacional evidenciam que firmas de fachada transferiam dinheiro para a AF Andrade, a operadora do Cessna Citation Excel.

Uma casa, no Recife, é onde está registrada a RM Construções. A empresa fez 11 transferências para outra empresa, a AF Andrade. O dinheiro seria para pagar as parcelas do avião em que morreram o candidato Eduardo Campos e outras seis pessoas. Mas quando falamos com o dono da RM sobre o total de R$ 290 mil que saiu da conta dele, ele satirizou a informação.

Essas informações sobre o negócio de venda do avião usado por Campos constam nos extratos da AF Andrade, que foram entregues à Polícia Federal. Nos extratos, estão os CPFs ou CNPJs de todos as transferências feitas para a conta. Por isso, em Recife, com esses números, foi possível encontrar os donos das contas dessas transferências.

Os extratos mostram o recebimento 16 transferências de seis empresas ou pessoas diferentes em um total de R$ 1.710.207,03. Segundo a AF Andrade, o dinheiro era parte do negócio de venda do avião.

Uma transferência de R$ 12.500 foi feita pela Geovane Pescados. No endereço que consta no registro da peixaria encontramos Geovane, que se assustou ao saber que era dono de uma empresa.

Já um depósito de quase R$ 160 mil saiu da conta da Camara & Vasconcelos, que fica em Nazaré da Mata, a 60 km do Recife. A empresa que tem como endereço uma sala vazia nesse prédio e uma casa abandonada.

O maior deposito, de R$ 727 mil, foi feito pela Leite Imobiliária. A empresa deveria funcionar no prédio encontrado pelo repórter. Mas, pelo interfone, a informação foi outra: não havia uma imobiliária no local.

A AF Andrade também recebeu R$ 325 mil do advogado Luiz Piauhylino de Mello Monteiro Filho. Já o empresário João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho, que foi quem negociou a compra do avião da AF Andrade, fez um depósito de R$ 195 mil.

Luiz Piauilino Monteiro Filho diz que realizou, em junho, uma transferência bancária de R$ 325 mil, e que esse valor é referente a um empréstimo firmado com o empresário João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho.

O empresário João Carlos Lyra declarou que, para honrar compromissos com a empresa AF Andrade, fez vários empréstimos com o objetivo de pagar parcelas atrasadas do financiamento do Cessna.

A Leite Imobiliária confirmou que transferiu quase R$ 730 mil para a AF Andrade como um empréstimo a João Carlos Lyra.

Já o PSB declarou, na terça-feira (26), que o uso do avião foi autorizado pelos empresários João Carlos Lyra Pessoa de Mello Filho e Apolo Santana Vieira. E que o recibo eleitoral, com a contabilidade do uso do Cessna, seria emitido ao fim da campanha de Eduardo Campos.

O PSB afirmou que o acidente, em que morreram assessores do candidato, criou dificuldades para o levantamento de todas as informações.