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Em ‘A oeste do fim do mundo’, Paulo Nascimento mostra personagens fugindo do passado

Coprodução com a Argentina estreia nesta quinta nos cinemas brasileiros
Foto: Divulgação
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RIO - A paisagem é um detalhe importante de “A oeste do fim do mundo”, drama intimista dirigido por Paulo Nascimento (“Em teu nome”), que chega aos cinemas nesta quinta-feira. É ali, em um velho posto de gasolina ao pé da Cordilheira dos Andes que convivem Leon (Cesar Troncoso), um frentista caladão, Silas (Nelson Diniz), um motoqueiro, e Ana (Fernanda Moro), brasileira que se perde a caminho de Santiago do Chile. Na entrevista a seguir, o diretor fala da relação entre o cenário e o estado de espírito dos personagens.

É verdade que a origem do filme está em estatísticas sobre a Guerra das Malvinas?

Começou com uma notícia. Estava em Buenos Aires quando li que cerca de 400 dos dez mil soldados argentinos que retornaram das Malvinas haviam se suicidado. Na hora fui para a livraria El Ateneo comprar livros que falassem sobre a guerra. Aí foi a origem do roteiro.

Podemos dizer que os personagens da trama fogem de seu passado?

É um filme sobre perdas. Cada um deles sofreu perdas bem distintas. O que os une é a fuga do passado. Eles tentam ao máximo não se abrirem entre si, pois sabem que, por mais que estejam tentando fugir, o passado os acompanha a todo momento. Isso é algo que move todos os sentimentos do filme.

Que peso você daria para o cenário belo e desértico dentro da trama?

“Liberdade é não fazer perguntas”, diz o personagem Silas no filme. Esse conceito rege a vida das pessoas que vão para aquela região. Lá você vê gente da Europa, dos Estados Unidos, de toda parte do mundo, que foi para lá viver uma vida própria, sem ligação com o passado e o futuro. A amplidão te deixa tão pequeno que não vale a pena se esforçar muito para entender as coisas.

Este é o seu quinto longa-metragem em oito anos. Qual o segredo de sua produtividade?

Trabalho com uma equipe muito competente, mas talvez a minha ansiedade e inquietação seja o principal fator da produtividade. Tenho trabalhado com um formato bem específico de filme, de orçamento pequeno, mas com uma rede já pensada desde o início, até a distribuição. Nesse último aspecto entra o apoio do distribuidor Adhemar Oliveira, que sabe o tamanho de lançamento que o filme merece.

O filme é uma coprodução com a Argentina. Que desvantagens esse tipo de associação impõe?

Só vejo vantagens. Minha equipe também já está acostumada com esse tipo de associação — “Em teu nome” tinha gente do Chile, da França e do Marrocos. Por causa da coprodução, “A oeste do fim do mundo” vai estrear na Argentina em outubro, inclusive em cidades do interior.