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Por Da Redação; Para O TechTudo


Que parcela dos ilustres leitores suficientemente complacentes para dedicar um pouco de seu tempo à leitura destas mal traçadas já viu uma máquina de escrever em uso, ou seja, fora de um museu ou mostruário? E um disco flexível de 8”? Quantos de vocês um dia usaram um serviço de Internet discada? E quantos sabem o que é um “pager”?

A tecnologia evolui. E ás vezes esta evolução é tão rápida que elas surgem, se disseminam e desaparecem quase sem deixar traços. E mal nos damos conta disso. Algumas, porém, por mais obsoletas que pareçam, se recusam a morrer.

Um exemplo que bem ilustra a ideia são as máquinas de escrever. Foram inventadas em 1860 e perduraram por mais de um século. Apenas em meados dos anos 1980 começaram a ser substituídas no Ocidente pelos programas de edição de textos e impressoras e, aparentemente, desapareceram. Mas, segundo a Wikipedia, até 2010 ainda eram muito usadas em diversos países, inclusive a Índia.

GPC20140829_1 — Foto: TechTudo
GPC20140829_1 — Foto: TechTudo

Já sua sucessora imediata, a impressora matricial mostrada na Figura 1 (obtida na Wikipedia como todas as demais desta coluna), nasceu, disseminou-se em todo o mundo e praticamente desapareceu em menos de trinta anos, substituída que foi pelas impressoras a “jato de tinta” e a laser. O “praticamente” da frase anterior se justifica pelo fato de que, somente nos EUA, vinte mil delas foram vendidas ano passado. Porém, diante do mercado de impressoras, este número é tão pouco significativo que podemos preparar a mensagem de condolências pelo passamento da tecnologia. Mas convém esperar um pouco antes de enviá-la: impressões que necessitam de cópias a carbono ainda dependem da tecnologia matricial.

A exemplo das impressoras matriciais, há outros dispositivos que, embora ainda exista um número razoável deles em uso, podemos considerá-los à beira da extinção. Um bom exemplo são os telefones de disco e suas parceiras, as “secretárias eletrônicas”. Dentro de alguns anos estarão no mostruário ao lado das máquinas de escrever nos museus de tecnologia. Mas ainda há quem as use.

Você alguma vez já ouviu um ruído como o da trilha sonora do vídeo que encontrará aqui no YouTube? Se ouviu, é um membro do seleto grupo de pioneiros que conectou-se à Internet através da linha telefônica comum usando a chamada “conexão discada” e um modem de verdade (ou seja um que, na origem, modulava os dados em uma onda sonora que era transportada pela linha telefônica comum e os demodulava no destino, reconvertendo o sinal em um fluxo de bytes; foi este tipo de dispositivo que deu origem ao vocábulo Modem, pois realmente MOdulava e DEModulava). Preste atenção no som. Os “apitos” ouvidos depois dos tons de discagem correspondem ao período de negociação onde os dois modens trocam informações sobre o tipo e demais características da conexão. O chiado que se ouve em seguida, em volume relativamente baixo, indicam que a conexão foi “fechada”. E o chiado mais forte no final corresponde aos dados fluindo pela linha telefônica. Nos modems discados mais modernos, caso as condições da linha fossem boas e não houvesse interferência, conseguia-se conexões de até 56,6 Kb/s (quilobits por segundo). Sim, eu sei que a tecnologia está ultrapassada. Mas inacreditavelmente ainda não morreu pois em algumas regiões se constitui no único meio de acesso à Internet. Por estranho que pareça, segundo o Pew Research Internet Project, nos EUA, ano passado, 3% dos americanos adultos ainda usavam acesso discado à Internet através da rede telefônica pública (cabeada).

O que nos leva aos telefones fixos ligados a esta rede pública cabeada. Teoricamente, não há razão para que ainda existam. Afinal, embora eu não entenda porque, se você faz questão de ter uma linha telefônica que só funcione em sua casa/escritório e não um telefone móvel, nada lhe impede de contratar uma linha fixa de sua operadora de telefonia móvel (parece paradoxal, mas isso existe). No entanto, somente em 2012 foram comprados nos EUA 26,5 milhões de aparelhos para serem ligados a rede cabeada, cinco milhões dos quais com fio (não confunda telefone sem fio com telefone celular). E a razão é simples: afinal, a rede de fios e cabos já existe nas vias públicas das cidades. Então por que abandoná-la? Mas a porcentagem de usuários para os quais os telefones celulares são o único ou o principal meio de comunicação via voz segue aumentando e eu duvido que a rede de telefonia cabeada seja estendida para as áreas de expansão urbana das cidades. Porém é forçoso reconhecer que, como as máquinas de escrever, os telefones fixos são uma tecnologia longeva. Foi patenteado em 1876 por Alexander Graham Bell e se recusará a morrer enquanto a receita gerada pela prestação do serviço usando a rede existente for maior que os gastos de manutenção para que esta rede continue funcionando.

GPC20140829_2 — Foto: TechTudo
GPC20140829_2 — Foto: TechTudo

Outra tecnologia que talvez alguns de vocês – pelo menos os mais jovens – jamais tenham visto em funcionamento são os discos flexíveis (talvez os mais velhos ainda lembrem dos “disquetes” de 5” 1/4, o do centro da Figura 2; o da esquerda, de 8”, só vi uma vez nas mãos de um técnico de manutenção). Hoje em dia é difícil encontrar um computador, mesmo de mesa, com um acionador de discos flexíveis. Eles foram substituídos pelos discos de memória (“pen-drives”) que também se encaminham para a extinção e não durarão muito. Isto porque cada vez há menos necessidade de transportar dados em dispositivos físicos: se eles devem ser enviados a terceiros, podem ser anexados a mensagens de correio eletrônico encaminhadas ao devido destinatário; se são de seu uso exclusivo, você pode usar um dos muitos repositórios de dados “na nuvem”, alguns dos quais gratuitos, e ter acesso a seus arquivos de qualquer ponto de onde possa conectar-se à Internet – ou seja, praticamente de toda parte para quem tem um telefone esperto que possa servir de ponto de acesso. E se o telefone for de quarta geração, nem terá que esperar muito pela transferência do arquivo, mesmo que seu tamanho seja alentado. Pois bem: disquetes raramente são vistos, e ainda assim apenas os de 3” 1/2. Mas os “pen-drives” ainda estão por toda a parte.

GPC20140829_3 — Foto: TechTudo
GPC20140829_3 — Foto: TechTudo

Essa triste sina da obsolescência, porém, não afetará apenas os discos magnéticos e de memória. Ela abarcará praticamente todos os dispositivos portáteis de armazenamento, seja de arquivos em geral, seja os específicos para áudio e vídeo. O que inclui os discos óticos e fitas magnéticas (tanto as cassetes de áudio mostradas na Figura 3 como as de vídeo), que terão o mesmo destino dos velhos discos de vinil. O que fará com que desapareçam igualmente tudo o que deles dependa, como lojas de venda de discos (CDs de áudio), locadoras de fitas e todos os seus aparelhos reprodutores – que terão a mesma sina dos “toca-discos” domésticos. É verdade que a indústria é poderosa e alguns destes continuam “esperneando”: só em 2012 foram vendidas nos EUA treze milhões de fitas cassete virgens de áudio e VHS e espantosos 4,6 milhões de discos de vinil. Mas as lojas eletrônicas de vendas de arquivos de música e vídeo e, principalmente, os serviços de reprodução “online” como o Netflix, já presente no Brasil, vão liquidar com todo o resto, inclusive CDs e DVDs, em prazo não muito longo.

GPC20140829_4 — Foto: TechTudo
GPC20140829_4 — Foto: TechTudo

Outros dispositivos que já foram muito comuns e chegaram a se constituir em símbolo de “status” foram os “pagers” e agendas eletrônicas. Para quem nunca ouviu falar: um “pager” é um treco (desculpe, mas não encontro palavra melhor para descrevê-lo) que as pessoas mais conectadas da época usavam geralmente bem à mostra, preso ao cinto, para evidenciar o quanto eram realmente conectadas. Serviam para receber recados via ondas de rádio. Na verdade, não exatamente o recado, mas o telefone da pessoa que precisava dar o recado, posto que a primeira geração de “pagers” somente exibia números em sua tela LED. Então o orgulhoso proprietário do “pager” deveria procurar um telefone (caso estivesse na rua, um telefone público) e ligar para saber o que o interlocutor desejava. Um pouco mais tarde surgiram os modelos alfanuméricos, como o da Figura 4, capazes de exibirem mensagens, desde que fossem curtas.

Já uma agenda eletrônica, ou PDA (de “Personal Digital Assistant”) era uma coisa vagamente assemelhada a um telefone esperto que, porém, não “falava” nem se conectava à coisa alguma. Nela se podia anotar e consultar nomes, telefones, endereços e compromissos, além de usar alguns programas elementares como máquina de calcular e coisas que tais.

Ambos, “pager” e PDA, hão de corar de vergonha diante de um telefone esperto de hoje, por menos esperto que seja. E parecer um meio absurdamente tosco de se comunicar. Na verdade, conforme nossa visão atual, são mesmo, apesar de que, em seu tempo, prestavam um serviço inestimável. Pois bem, embora nos dias de hoje eu só conheça um usuário de PDA e nenhum de “pager”, em 2012 foram vendidos dez mil “pagers” e inacreditáveis 350 mil PDAs. Os “pagers” eu ainda entendo: são o dispositivo ideal para quem deseja estar disponível, “pero no mucho”. Mas os PDAs…

Há outros exemplos, como o das máquinas FAX, um dispositivo essencial em qualquer escritório que se prezasse nos anos 1970 e que desapareceram quase completamente. O “quase” vai por conta das absurdas 350 mil novas máquinas FAX vendidas nos EUA em 2012, apenas 14% a menos que no ano anterior. Ou as televisões de tubo de raios catódicos (cinescópios) das quais dez mil foram vendidas no mercado americano ano passado.

Mas, de todas as tecnologias em extinção, aquela cuja resistência em desaparecer mais me impressionou nesta era da fotografia digital foi a dos filmes fotográficos tradicionais. Dos quais 3,5 milhões de rolos foram vendidos nos EUA em 2012.

Realmente, há tecnologias que, definitivamente, se recusam a morrer…

B. Piropo

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