Economia Defesa do Consumidor

Brasileiro desconhece de onde vêm e como são produzidos seus alimentos

Pesquisa mostra que grande maioria dos itens à venda no país não traz informações sobre uso de agrotóxicos ou agressão ao ambiente

No Brasil, rastreabilidade dos alimentos não é obrigatória e ainda é muito pouco conhecida
Foto: Breno Salvador / Agência O Globo
No Brasil, rastreabilidade dos alimentos não é obrigatória e ainda é muito pouco conhecida Foto: Breno Salvador / Agência O Globo

RIO - A preocupação com a segurança alimentar e a sustentabilidade são crescentes, mas uma prática que une essas duas preocupações ainda é pouco conhecida no Brasil, a rastreabilidade dos alimentos, ou seja, saber de onde um produto vem e como ele foi produzido. A informação é importante para o consumidor verificar se o alimento está de acordo com sua dieta e preferências, se é orgânico, se foi submetido a que tipo de agrotóxico, se agrediu o ambiente ou gerou menos consumo de CO².

No Brasil a informação sobre a rastreabilidade dos alimentos não é obrigatória. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) para medir o nível e a qualidade da rastreabilidade em seis redes de supermercados da cidade de São Paulo os itens orgânicos saíram na frente: 56,5% possuíam as informações, contra 28,71% dos convencionais. Foram analisados os dez alimentos in natura mais consumidos pelos brasileiros de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE: laranja, banana, batata inglesa, ovos, maçã, tomate, mamão, alface, cheiro-verde e cebola. Os produtos embalados tiveram vantagem ainda maior sobre os vendidos a granel, foram 42,6% a 0,06%.

Dentre as empresas analisadas, apenas no supermercado DIA nenhum produto tinha rastreabilidade. Já a rede com mais itens rastreáveis foi o Carrefour. Em todos os produtos, o acesso às informações dependia de internet, por meio de um site específico ou por QR Code, um código para ser lido pela câmera do celular.

Na avaliação do Idec, a necessidade de internet diminui o potencial de alcance das informações, porque nem todos os consumidores possuem smartphone com a tecnologia, e mesmo os que têm, podem ter problemas de acesso na hora da compra. O instituto propõe que as informações sobre o produto fiquem disponíveis nas prateleiras e atinjam um número maior de itens.

— O rastreamento dá informações valiosas: ele indica se o item foi produzido por agricultura familiar ou de grande propriedade, se a produção é local ou se vem de longe, por exemplo — afirma Renata Renata Amaral, pesquisador do Idec responsável pelo estudo.

Renata ressalta que produtos locais causam menos impactos na natureza, porque geram menos emissão de gases do efeito estufa, por exemplo, por dependerem de menos transporte. Ele também observa que as informações facilitam a identificação da etapa em que pode ter ocorrido uma falha de qualidade no processo de produção e transporte dos produtos. Assim é possível agilizar um recall no caso de algum produto trazer risco à saúde do consumidor.

Segundo o engenheiro agrônomo Gabriel Vicente Bitencourt, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o conceito de rastreabilidade no Brasil está muito ligado ao conceito de produto premium , mais elitizado. Ele acredita que para impulsionar a ampliação dos programas de rastreabilidade os consumidores devem cobrar mais, assim os atacadistas passarão a oferecer informações e toda a cadeia terá que se adequar.

A expectativa do Idec é que a Anvisa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) abram uma consulta pública sobre as futuras regras de rastreabilidade de alimentos ainda este ano.

*Estagiária com supervisão de Nice de Paula