Há 20 anos, ‘Pulp Fiction’ era apresentado ao público especializado no Festival de Cannes, na França. Inovador, original e ousado para os anos 90, o filme foi a afirmação de Quentin Tarantino como um dos melhores diretores da atualidade e conquistou o maior prêmio da noite, a Palma de Ouro. Logo depois, a produção estreou nos cinemas de todo o mundo.
Com trama não linear, o longa-metragem conta três histórias diferentes, mas que estão entrelaçadas: dois assassinos profissionais com o gângster-chefe e sua esposa, um boxeador pago para perder uma luta e um casal de assaltantes. Como cenário, a cidade de Los Angeles. Temas como violência, drogas, sexo e religião permeiam toda a narrativa com humor e ironia. Não por acaso, o título foi extraído das revistas ‘pulp’ do início do século XX, cuja violência gráfica era uma das maiores características.
Roteirista ao lado de Roger Avary, Tarantino escreveu o papel de Jules especialmente para Samuel L. Jackson, que quase perdeu o papel depois de uma audição fraca. O ator pediu para fazer um novo teste e surpreendeu. Julia Louis Dreyfuss estava cotada para interpretar Mia, mas, ocupada com o seriado ‘Seinfeld’, ela deu lugar a Uma Thurman, que acabou virando queridinha do diretor.
Bem acima do peso e com aparência que pouco lembrava o astro campeão de bilheteria dos anos 70, John Travolta deu vida a Vincent Vega. ‘Pulp Fiction’ foi responsável por recuperar a carreira do ator, que recebeu críticas negativas pelos filmes anteriores, como ‘Olha quem está falando’. Hoje, ele tem cachê milionário, mas ganhou US$ 150 mil para participar da obra de Tarantino. Quem também andava em baixa e experimentava sucessivos fracassos era Bruce Willis, que abriu mão de um grande salário para fazer o filme – de baixo orçamento – por confiar no roteiro e no tirador. Tarantino, que adora fazer participações em seus trabalhos, aparece como Jimmie.
O segundo longa-metragem do diretor, que tinha rodado ‘Cães de aluguel’ dois anos antes, é considerado por muitos críticos como sua grande obra. Tudo isso não seria possível sem a incrível parceria entre Travolta e Jackson, cenas icônicas, diálogos que marcaram o cinema e passos de dança que são repetidos até hoje.
Primeira produção assinada pela Miramax depois da aquisição pela Disney, ‘Pulp Fiction’ empregou boa parte dos US$ 8 milhões de seu orçamento na criação do set do restaurante Jack Rabbits. Para manter os gastos controlados, todos os atores receberam o mesmo valor semanal de trabalho e não foi composta uma trilha sonora original. As músicas escolhidas por Tarantino eram uma variedade de pop, soul, rock e surf music.
Participação no Oscar
No Oscar de 1995, a disputa foi acirrada. ‘Pulp Fiction’ competiu com sucessos como ‘Forrest Gump’, ‘Quatro casamentos e um funeral’, ‘Quiz show’ e ‘Um sonho de liberdade’. O prêmio máximo acabou com ‘Forrest Gump’, mas Tarantino levou a estatueta de melhor roteiro.
Se a Academia não premiou, o público fez questão de reconhecer. Em todo o mundo, o filme arrecadou US$ 200 milhões. No ano passado, ‘Pulp Fiction’ foi selecionado para integrar a biblioteca do Congresso dos Estados Unidos por ser “culturalmente, historicamente ou esteticamente significante”. O filme se encaixa nas três categorias. Tarantino dirigiu sem seguir fórmulas e, por isso, ‘Pulp Fiction’ é considerado um dos clássicos do cinema moderno.