22/11/2014 17h53 - Atualizado em 22/11/2014 17h53

Empreiteira confessa propina durante obra de terminal no ES

Valor de R$5 milhões teria sido pago ao doleiro Alberto Youssef.
Terminal aquaviário de Barra do Riacho já teve obras concluídas.

Do G1 ES, com informações de A Gazeta *

A empreiteira Mendes Júnior confessou ter pago uma propina de R$5 milhões ao doleiro Alberto Youssef durante a construção do terminal aquaviário de Barra do Riacho, em Aracruz, na região Norte do Espírito Santo. O dinheiro foi depositado na conta de uma empresa da rede paralela do doleiro a GFD, que emitia a nota fiscal em favor da construtora. A Petrobras foi procurada, mas até o final da tarde deste sábado (22) não havia se posicionado sobre o assunto.

Em depoimento à Polícia Federal (PF) em Curitiba (PR) na terça-feira (18), o vice-presidente executivo da Mendes Júnior, Sérgio Cunha Mendes, confessou a propina, mas negou que as cifras pagas ao doleiro e delator do esquema tenham relação com os vários aditivos feitos no contrato da obra.
 

 

Em entrevista ao Jornal A Gazeta, o advogado do executivo, Marcelo Leonardo, afirmou que o valor teve que ser desembolsado e pago porque Youssef, atuando em nome do então diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, ameaçou a construtora e extorquiu Sérgio Cunha.

“A Mendes Júnior tinha dívidas de meses ou até há quase um ano a receber da Petrobras. Foi aí que Youssef, a mando de Paulo Roberto Costa, procurou a empreiteira dizendo que ela só receberia as dívidas restantes da execução do terminal se pagasse a ele R$ 5 milhões”, afirmou Leonardo, que acompanhou o depoimento do cliente.

Um dos 23 presos na nova etapa da Lava Jato, Sérgio admitiu à PF que a empreiteira “concordou com os pagamentos exigidos” e efetuados de julho a setembro de 2011. O diretor da área de Óleo e Gás da empreiteira, Rogério Cunha, ainda revelou à PF que o valor cobrado variava de 2,2 a 2,4% e valeu para Barra do Riacho e para a obra da Replan em Paulínia (SP), também executada pela Mendes Júnior.

A defesa de Sérgio reiterou que a construtora ganhou licitamente o contrato para a construção do porto de Aracruz e executou todas as obras. “No curso do contrato, os serviços foram ampliados em muito em relação ao projeto básico original. Por isso, a empreiteira fez um pleito junto à Petrobras por aditivos para pagamento dos serviços a maior executados. A equipe técnica da Petrobras analisa rigorosamente esses pedidos e o pleito foi aprovado”, completou.

Sérgio Mendes afirmou no mesmo depoimento à PF ter pago mais de R$ 8 milhões às empresas de Youssef. Segundo ele, os projetos com a Petrobras só eram executados mediante propina. No depoimento à PF em Belo Horizonte nesta sexta-feira (21) , Rogério Cunha e mais dois outros executivos da construtora confirmaram o esquema e os valores.

Terminal Aquaviário já teve obra concluída em Barra do Riacho, no Espírito Santo (Foto: Bernardo Coutinho / A Gazeta)Terminal Aquaviário já teve obra concluída em Barra do Riacho (Foto: Bernardo Coutinho / A Gazeta)

Terminal em Aracruz
Ainda no governo Lula (PT), a implantação do terminal de Aracruz foi questionada pelo Tribunal de Contas da União. Além de sobrepreços, a Corte apontou que os projetos básicos de várias obras da Petrobras eram deficientes e os editais de licitação restringiam a competitividade entre as empresas.

Um levantamento da Operação Lava Jato apontou a existência de 48 aditivos no projeto de detalhamento, construção e montagem do terminal de Barra do Riacho, elevando o preço de R$ 485 milhões para R$ 895 milhões.

A obra foi iniciada dia 8 de setembro de 2008 e concluída em 1º de novembro de 2013. Em média, isso representou uma alteração no contrato originário a cada um mês e dez dias.

O advogado Marcelo Leonardo garantiu que os aditivos contratuais com a Petrobras foram necessários por que o serviço foi ampliado no decorrer da obra e não envolveu irregularidades. “Para receber um pagamento legítimo pelos serviços prestados, um pagamento que lhe era de direito, a Mendes Júnior teve que ceder a Youssef. Mas não houve nenhum acréscimo do preço do serviço por causa da cobrança (de propina). Os valores de direito foram aprovados pela área técnica da Petrobras e a obra foi feita”, disse.

Mesmo já pronto, o terminal de gás liquefeito - operado pela Transpetro, subsidiária da Petrobras - tem hoje capacidade ociosa porque processa o gás de Golfinho. O campo é rico em gás natural, mas sua capacidade de produção está comprometida devido à entrada de água nos poços.

*Com colaboração de Rondinelli Tomazelli, de A Gazeta.