PORTO ALEGRE – Um trecho de pouco mais de um minuto e meio do vídeo apresentado na terça-feira como prova dos maus-tratos sofridos pelo menino Bernardo Uglione Boldrini em casa se tornou público nesta manhã e mostra pedidos de socorro seguidos de uma discussão entre o pai do menino, Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini. Os dois são acusados da morte do garoto, ocorrida no dia 4 de abril.
O material, obtido pela RBSTV, tem apenas o áudio da gravação e está editado. O primeiro trecho, de 21 segundos, mostra o menino pedindo socorro aos gritos e discutindo com o pai – não é possível perceber, pelo áudio, se a madrasta está junto com eles. No trecho seguinte, depois dos gritos por socorro, segue-se uma discussão em que Bernardo e a madrasta desejam a morte um do outro.
Bernardo, 11 anos, grita cinco vezes por ajuda e é interrompido pelo pai:
— Vamos se acalmar (sic) pra ir pro teu quarto.
Depois do corte no áudio, Bernardo diz com voz chorosa:
— Olha, eu vou morrer.
A partir daí os três discutem até a interrupção da gravação.
Graciele: Então vai lá. Vai lá pedir socorro. Tu que tá pedindo, tu que tá gritando.
Leandro: Quem é que começou a bagunça?
Bernardo: Vocês me agrediram.
Graciele: E vou agredir mais da próxima vez que tu abrir a boca (sic) pra falar de mim. Vou agredir mais.
Leandro: Fica xingando ela aí, ninguém merece ser xingado, né, rapaz?
Graciele: Não fiz nada em ti.
Bernardo: Fez sim. Tu me bateu.
Graciele: Então tu não sabe do que sou capaz (sic) de fazer, tu não sabe. Eu não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que eu sou capaz. Eu prefiro apodrecer na cadeia do que ficar nesta casa vivendo contigo incomodando. Tu não sabe do que eu sou capaz.
Bernardo: Também queria que tu morresse.
Graciele: Tu não sabe do que eu sou capaz, vamos ver quem tem mais força. Aí nós vamos ver quem tem mais força.
Bernardo: Queria que tu morresse.
Graciele: Então nós vamos ver quem vai pra baixo da terra primeiro.
Bernardo: Tu. Tu vai.
Graciele: Então tá. Se tu tá dizendo.
O vídeo foi juntado ao processo judicial que investiga os autores da morte há uma semana pela delegada Caroline Bamberg Machado. O material, segundo a delegada, teria sido gravado pela madrasta no telefone celular de Leandro Boldrini, que depois apagou as imagens. Os registros foram recuperados pela perícia.
Segundo a Polícia, Bernardo foi morto no dia 4 de abril pela madrasta e por uma amiga dela, a assistente social Edelvânia Wirganovicz. Depois de assassinar o menino com uma dose excessiva de tranquilizantes, as duas mulheres esconderam o corpo numa cova rasa em um matagal da cidade de Frederico Westphalen, distante 80 quilômetros de Três Passos. O cadáver foi encontrado dez dias depois. O pai, Leandro Boldrini, e o irmão de Edelvânia, Evandro, também são acusados de participarem da morte.
A delegada, que é testemunha de acusação, disse antes do seu depoimento que Leandro Boldrini era “conivente” com as agressões da madrasta contra o enteado. O depoimento dela durou quase cinco horas.
— O vídeo em que Graciele agride o menino, pratica maus-tratos e inclusive o ameaça de morte é uma prova incontestável da atuação dos dois no desfecho desse caso. Tanto que os acusados continuam presos — disse.
O advogado de Leandro, Jader Marques, disse que o áudio divulgado nesta quarta-feira prova apenas o que todos já sabiam e que já estava provado: havia um conflito “forte” entre Graciele, Bernardo e Leandro.
— O conflito em que vivia aquela família, pelas circunstâncias do casamento, é claro. Mas esse vídeo não prova nada em relação à autoria do assassinato. É apenas uma cortina de fumaça — afirmou o advogado.
Marques também reclamou do trabalho da Polícia que, segundo ele, está tentando criar um “clima de raiva e de revolta” contra o pai de Bernardo mesmo sem ter provas de sua participação no crime.