• Equipe Caminhos para o Futuro / Oferecimento GE
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Extração do gás de folhelho (Shale) (Foto: Getty Images)

Em 2015, segundo recente relatório da consultoria KPMG,  a produção americana de petróleo, convencional ou não, vai ultrapassar a da Arábia Saudita e da Rússia (Foto: Getty Images)

Quem não se lembra dos dois choques de preços deflagrados nos anos 70 pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), causando um rombo monumental nas contas dos países dependentes do óleo? Ou das sucessivas conflagrações no Oriente Médio, motivadas em grande parte por interesses estratégicos de controle de enormes reservas de petróleo?

Pois as peças desse tabuleiro geopolítico energético tendem a mudar. E não com invasões militares ou terremotos políticos. Mudarão graças às novas tecnologias, que permitem a exploração de reservas de gás e petróleo antes de difícil acesso ou que geram combustíveis sem necessidade de processos químicos específicos antes de sua utilização (os chamados combustíveis fósseis “não convencionais”). É uma ótima notícia, considerando que as fontes tradicionais de petróleo e gás não são eternas – e podem se esgotar num futuro não tão distante. A tecnologia agora torna possível, por exemplo, explorar petróleo em águas profundas (caso do pré-sal brasileiro) ou aproveitar o petróleo arenoso, de baixa qualidade, mas purificável por meio de novos processos físicos e químicos.

Especialistas da Agência Internacional de Energia (AIE), porém, colocam no topo da lista dos combustíveis não convencionais o petróleo e o gás de folhelho (muitas vezes chamado, erroneamente, de gás de xisto), extraídos da rocha sedimentar de folhelho, porosa e rica em material orgânico (o xisto é uma rocha de outra origem, metamórfica). E até falam no início de uma “era dourada do gás”. O motivo principal vem dos Estados Unidos: entre 2008 e este ano, o país, que importava 13% do gás consumido, agora é autossuficiente e planeja se tornar um exportador de gás de folhelho. E o petróleo de folhelho (a rigor, um tipo de óleo apenas semelhante ao petróleo convencional) já registra uma produção de 1 milhão de barris/dia, o que não só aponta para uma possível autossuficiência americana, como também tornará o país um grande exportador.

Em 2015, segundo recente relatório da consultoria KPMG,  a produção americana de petróleo, convencional ou não, vai ultrapassar a da Arábia Saudita e da Rússia. O país que mais detém reservas de folhelho é a Rússia, seguida por Estados Unidos, China e Argentina. Já os países com maiores reservas de gás de folhelho – encontradas entre as camadas do mineral – são China, Argentina, Argélia e Estados Unidos. O Brasil tem a 10ª maior reserva de gás de folhelho do mundo, com 6,9 trilhões de metros cúbicos.

Vantajosa, mas polêmica

O gás de folhelho se encontra misturado às rochas, em vez de estar concentrado em grandes depósitos como as reservas tradicionais de petróleo, o que torna seu acesso muito mais “democrático”, pois se espalha por amplas regiões. É extraído pela tecnologia chamada de fratura hidráulica – grande quantidade de água misturada a areia e outras substâncias é injetada sob alta pressão no subsolo, provocando rachaduras através das quais o gás escapa para o poço (o mesmo método vale para o petróleo de folhelho). Essa operação, que requer alta tecnologia para a perfuração de zonas profundas, geralmente a mais de mil metros de profundidade, porém, causa polêmica: alguns países europeus e o estado de Nova York vetaram a fratura hidráulica, temendo riscos ao meio ambiente, como contaminação de rios, indução de sismos geológicos e poluição decorrente do uso de produtos químicos para extrair o gás.

Essas ressalvas tornam mais lenta a exploração do folhelho no Brasil, pois entidades do governo federal ligadas ao meio ambiente afirmam que o país ainda não dispõe de estudos geológicos suficientes para garantir uma produção segura, exigindo estudos ambientais mais detalhados. Em novembro de 2013, a Agência Nacional de Petróleo leiloou blocos destinados ao mapeamento e extração em 12 Estados (Amazonas, Acre, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Piauí, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, Paraná e São Paulo). A arrecadação total foi de R$ 165 milhões, e as atividades de exploração devem começar ainda este ano, mas dependem de laudos ambientais.

O desafio é urgente, pois a chegada dos combustíveis não convencionais já impactou nas exportações da Petrobras: em 2013, pela primeira vez a empresa vendeu mais para a China do que para os Estados Unidos, que nos últimos dois anos reduziram em mais de 60% suas importações do Brasil graças às novas fontes de energia.