Política

Para 70% dos executivos brasileiros, suborno e corrupção são recorrentes nos negócios

Apesar de superior ao da América Latina e dos emergentes, índice é 14% menor em relação a 2012

RIO — Apesar de constantemente encobertos e escondidos, geralmente para evitar punições, os episódios de corrupção são perceptíveis no alto escalão do setor privado brasileiro. Segundo uma pesquisa da empresa de serviços profissionais EY, antiga Ernst & Young, obtida com exclusividade pelo GLOBO, 70 % dos executivos brasileiros afirmaram que suborno e corrupção acontecem amplamente no ambiente de negócios do país.

O índice brasileiro é maior que o da América Latina (63%) , dos mercados emergentes (54%) e de todos os 59 países participantes da pesquisa (39%). Entretanto, houve uma queda nacional de 14% nos relatos de suborno e corrupção em relação a 2012, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez. Na América Latina, o percentual caiu bem menos, apenas 5%.

Nesta semana, a lei federal que pune empresas por atos de corrupção completa 6 meses, e prevê multa alta, de até 20% do faturamento bruto dos envolvidos atos ilícitos. De acordo com reportagem publicada pelo GLOBO, falta regulamentação da regra e, na prática, poucos grupos são penalizados.

Ao todo, 10% dos entrevistados relataram que a organização para a qual trabalham passou por episódio significante de fraude nos últimos 2 anos. Na América Latina, 9% responderam da mesma forma. No mundo, o índice é de 12% e, nos mercados emergentes, é de 11%. Um percentual um pouco maior, de 12%, contou que já recebeu um pedido de pagamento de suborno em uma situação de trabalho — na América Latina, 8% passaram pela mesma experiência e, nos países emergentes, 10%.

Por outro lado, mais executivos brasileiros afirmaram que suas empresas têm políticas contra a corrupção e um código de conduta. Eles somam 96%, 6% a mais que há dois anos. O crescimento nesse índice é maior que entre os países da América Latina, que se mantiveram em 88% nos dois anos, e dos países emergentes, que registraram um aumento de 2%, chegando a 78%.

Também 89% dos brasileiros responderam que há punições nas empresas para quem descumprir essas políticas. Em 2012, eram 82% as empresas que aplicavam essas punições. E de acordo com 74%, são punidos os que descumprem políticas anticorrupção — um número 4% maior que há dois anos e bem acima da média mundial, de 35%. O Brasil é o segundo mais bem colocado nesse quesito, perdendo apenas para a Nigéria e ficando a frente de países como Alemanha (48%) e Dinamarca (34%). A mesma quantidade de executivos brasileiros, 74%, afirma ter participado de treinamentos específicos contra a corrupção.

PRESSÃO INTERNACIONAL

De acordo com José Compagno, sócio líder da área de investigação de fraudes da EY, existe uma sensação muito clara de impunidade no ambiente de negócios brasileiro. Para ele, o que explica a percepção alta de punição entre executivos do país é que as leis anticorrupção, sejam federais ou políticas internas das empresas, são recentes no país - não é que a impunidade, de fato, se pequena.

— Eu acho que é uma combinação de alguns fatores. É uma coisa nova no Brasil, enquanto, nas economias maduras,é uma pratica muito mais desenvolvida, há muito mais tempo. Como no Brasil há um crescimento forte da implementação das novas políticas, existe um sentimento forte no mercado de punição.

Segundo ele, ao mesmo tempo em que práticas preventivas de corrupção crescem 1% ao ano, há um vazio entre os conselhos de administração e a diretoria executiva, que é pouco cobrada pela implementação ou o sucesso dessas práticas.

— Existe uma percepção pública e internacional de que o Brasil é um ambiente ainda suscetível à corrupção por fraude. A própria posição do Brasil na pesquisa internacional indica isso. Há uma percepção clara de que ainda há muito a ser feito, principalmente com relação à nova lei [Anticorrupção]. Ela foi sancionada, entrou em vigor mais ainda não foi regulamentada — afirma o executivo.

Já a advogada Camila Cuschnir, especialista em práticas empresariais de combate à corrupção do escritório de advocacia Vinhas e Redenschi, avalia que algumas áreas nas empresas são mais suscetíveis a práticas de corrupção que outras. Executivos que trabalham com metas estão entre os mais expostos.

— As áreas nas quais existe maior interação com o governo acabam tendo maior risco. Esse treinamento tem que incluir como um funcionário deve reagir em caso de propina — diz Camila.

Segundo ela, as políticas empresariais de combate à corrupção, no Brasil, são fruto de pressão internacional e incluem elaboração códigos de conduta e treinamentos de funcionários. Mesmo assim, o panorama brasileiro ainda é ruim.

— Do ponto de vista mundial, a gente estava muito mal visto — critica.

De acordo com levantamento divulgado pela ONG Transparência Internacional em dezembro do ano passado, o Brasil está em 72º lugar no índice de países mais “limpos” entre 177 avaliados — bem atrás de vizinhos como Uruguai, na 19ª posição, ou o Chile, na 22ª.