17/08/2014 13h48 - Atualizado em 17/08/2014 15h03

Proposta para fechamento do zoológico gera polêmica em Goiânia

Político diz que medida quer garantir o bem estar dos animais que lá vivem.
Frequentadores rejeitam projeto e dizem isso seria o fim de opção de lazer.

Vitor SantanaDo G1 GO

Projeto apresentado por vereador propoe o fechamento do zoológico de Goiânia, Goiás (Foto: Vitor Santana/G1)Projeto apresentado por vereador propoe o fechamento do zoológico de Goiânia (Foto: Vitor Santana/G1)

Um projeto que tramita na Câmara de Vereadores pede o fechamento do zoológico de Goiânia e gerou polêmica na capital. O autor da proposta, vereador Zander Fábio Alves da Costa (PSL), alega que o objetivo é garantir o bem estar dos animais e também a segurança da população.Já os visitantes não querem a extinção de uma das mais tradicionais formas de lazer da cidade e a direção do parque argumenta que os animais recebem todos os cuidados necessários para sua qualidade de vida e o local tem a segurança necessária para proteger os frequentadores.

No documento, apresentado na Câmara Municipal no último dia 5, o político justifica o pedido afirmando que os animais vivem sob constante estresse, pois estão confinados em um espaço limitado e expostos a grande quantidade de barulho. Além disso, segundo apurações feitas pelo próprio vereador, o zoológico não tem condições adequadas de funcionamento, pois estaria contaminando o lençol freático com detritos dos animais. Por fim, com as chuvas, os bueiros do parque transbordariam, deixando os frequentadores expostos às fezes e urinas.

Se aprovado, o projeto prevê o fechamento do zoológico em até um ano e que todos os animais sejam reinseridos em seus habitats naturais. Aqueles que, por algum motivo não tiverem condições de voltarem para o meio ambiente devem ser encaminhados para instituições governamentais especializadas na manutenção dos espécimes.

Para o diretor do zoológico, Rafael Cupertino, os argumentos utilizados pelo político não são condizentes com a verdade. “Não é uma simples exposição de animais. Nós recebemos e cuidamos de animais que estavam em cativeiro ou que foram atropelados e, portanto, não têm condições de serem reinseridos na natureza, porque não teriam condição de se alimentar ou fugir de predadores”, afirma. A instituição também afirma realizar trabalhos de preservação e manutenção do ambiente de casa espécie, para garantir o bem estar, além da reprodução de animais ameaçados de extinção.

O diretor do zoológico ressalta ainda que não há risco em relação à segurança dos frequentadores. Em uma fiscalização realizada na sexta-feira (15), agentes constataram que as jaulas possuem a devida estrutura para evitar fugas de animais ou que visitantes se aproximem demais das espécies, a exemplo do que aconteceu em Cascavel (PR), quando um garoto de 11 anos teve o braço dilacerado por um tigre.

Debate
O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Goiás (CRMV-GO) questiona a falta de uma consulta pública para a ampla discussão do assunto. O órgão informou que o espaço também exerce uma forte função socioeducativa para mostrar a importância da preservação ambiental. O conselho lembra também que muitas das espécies que estão no zoológico não são nativas da fauna brasileira, o que inviabiliza a reinserção na natureza.

Para o CRMV, as pesquisas conduzidas nos zoológicos também contribuem para reverter variações genéticas, principalmente de espécies com risco de extinção. Assim, o fechamento do parque, comprometeria todos esses projetos científicos.

Zoológico de Goiânia é uma das opções mais tradicionais de lazer da população (Foto: Vitor Santana/G1)Zoológico de Goiânia é uma das opções mais tradicionais de lazer da população (Foto: Vitor Santana/G1)

Lazer
Segundo Cupertino, o fechamento do zoológico também representaria a perda de uma das formas de lazer mais acessíveis para a comunidade, principalmente famílias de baixa renda. “O zoológico é uma das formas mais tradicionais de diversão da população em todo mundo, recebendo mais visitantes até mesmo que os estádios. Só em julho, nós recebemos mais de 80 mil visitantes”, disse o diretor da instituição.

Para o autor do projeto, a grande quantidade de visitantes não justifica a manutenção dos animais em jaulas e sob estresse. “Se pegarmos outros parques como o Vaca Brava ou o Flamboyant, nós teremos o mesmo número de visitantes, se não maior, e com uma forma gratuita de lazer”, disse.

Ainda segundo o político, há um indicativo no projeto de que seja construído no lugar um parque temático, com museu e espaços para estudos socioeducativos, que despertem na população a importância de preservação ambiental.

“Zoológicos são uma forma arcaica de visualização dos animais. Atualmente temos tantas mídias digitais, como internet, televisões com canais especializados para conhecermos os animais, que não é necessário que eles fiquem confinados e expostos em jaulas”, afirmou o vereador.

Fátima Gomide (dir.) não concorda com o projeto do vereador, em Goiânia, Goiás (Foto: Vitor Santana/G1)Fátima Gomide (dir.) não concorda com o projeto do
vereador (Foto: Vitor Santana/G1)

Para os visitantes, a medida prejudica a população. “Não tem lógica. Ver na televisão ou na internet não é a mesma coisa que ver ao vivo. Ele [vereador] tinha que estar fazendo outros projetos mais importantes, e não querendo tirar o lazer das crianças”, disse a autônoma Fátima Gomide, de 51 anos. Sobre o bem estar dos animais, ela complementa: “sofrimento é soltar na natureza e eles não darem conta de sobreviver”.

Para a feirante Thayna Alves de Melo, que sempre aproveita as folgas no trabalho para levar o filho ao zoológico, a extinção do local também representa a perda de uma opção de lazer para a comunidade. Ela também questiona os argumentos do vereador, de que os animais não são tratados de maneira adequada. “Os animais não são maltratados. Eles recebem a alimentação correta, têm água. Se fossem maltratados, já teriam descoberto e fechado há muito tempo”, disse.

Já para a estudante Juliana Bacelar, de 10 anos, o ideal é que os animais vivessem sempre na natureza, caso dessem conta de sobreviver. “Mas como os que estão aqui já não estão mais acostumados com a floresta, é melhor deixar eles aqui mesmo. Os que estão livres continuam livres e os que estão aqui, continuam aqui”, opinou.

Para Juliana Bacelar, o ideal é que os animais vivessem sempre na natureza, caso dessem conta de sobreviver, em Goiânia, Goiás (Foto: Vitor Santana/G1)Para Juliana Bacelar, o ideal é que os animais vivessem sempre na natureza (Foto: Vitor Santana/G1)

 

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