Saúde

Uso de algumas pílulas anticoncepcionais pode aumentar o risco de câncer de mama

Estrogênio em alta dose aumenta possibilidade da doença em 2,7 vezes

FILADÉLFIA - As mulheres que recentemente usaram pílulas anticoncepcionais contendo estrogênio em alta dose e algumas outras formulações tiveram risco aumentado para câncer de mama, enquanto que as mulheres que usam algumas outras formulações não tiveram, de acordo com dados publicados na Cancer Research, um jornal da Associação Americana para Pesquisa do Câncer.

- Nossos resultados sugerem que o uso de pílulas anticoncepcionais no ano passado estão associados ao aumento do risco de câncer de mama. Esse risco pode variar de acordo com a formulação dos contraceptivos orais - disse Elisabeth Beaber, cientista do Centro de Pesquisas em Câncer Fred Hutchinson, em Washington.

Beaber acrescentou, ainda, que os resultados necessitam de confirmação e devem ser interpretados com cautela.

- O câncer de mama é raro em mulheres jovens, e há inúmeros benefícios para a saúde associados ao uso de contraceptivos orais. Além disso, estudos anteriores sugerem que o aumento do risco associado ao uso recente de contraceptivos orais diminui após a interrupção do uso - afirmou a cientista.

Basicamente, essas pílulas são classificadas conforme a dose do análogo do estrogênio, o etinilestradiol. As de baixa dose contêm 0,02 - 0,03 mg (20 a 30 mcg) de etinilestradiol e as de alta dose possuem 0,05 mg (50 mcg) de etinilestradiol.

Para Paulo Maurício Soares Pereira, membro da diretoria da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) hoje com finalidade contraceptiva não se usa mais nenhum anticoncepcional com doses altas de estrogênio.

- Só acontece em determinadas doenças, e mesmo assim em critérios de exceção - relatou.

O médico explica que, quando a pílula foi criada na década de 1960, ela era usada com 50 mcg de etinilestradiol, mas hoje os comprimidos têm por volta de 15 mcg, somente alguns são preparados com 30 mcg.

- Essa assertiva de que a pílula aumenta o risco não tem nenhuma relação, já que na realidade não se usa mais nessa dose - rebateu Pereira.

No estudo de caso de 1.102 mulheres diagnosticadas com câncer de mama e 21.952 controles, Beaber e seus colegas descobriram que o uso de contraceptivos orais recente tinha aumentado o risco de câncer de mama em 50%, em comparação a quem nunca tinha usado ou tinha feito uso anteriormente. Os pacientes receberam um diagnóstico de câncer entre 1990 e 2009.

De acordo com o médico, para que se possa fazer uma avaliação de evidência científica, seria necessário um follow up de muitos anos e uma população muito selecionada. Ele afirma, também, que há muitos trabalhos conflitantes em termos de resultado.

Nesta pesquisa, as pílulas anticoncepcionais que contêm estrógeno em alta dose aumentam risco de câncer de mama em 2,7 vezes, e aquelas contendo estrogênio em dose moderada aumentaram em 1,6 vezes o risco. Comprimidos contendo diacetato de etinodiol aumentaram 2,6 vezes o risco, e comprimidos de combinação trifásica de uma média de 0,75 mg de noretindrona aumentaram 3,1 vezes o risco. As pílulas anticoncepcionais que contêm estrógeno em baixa dose não aumentam o risco de câncer de mama.

Cerca de 24%, 78%, e menos de 1% dos controles do estudo que eram usuárias de contraceptivos orais recentes preencheram pelo menos uma prescrição no ano passado para os contraceptivos orais de baixa, moderada, e/ou dosagem alta de estrogênio, respectivamente, segundo Beaber.

Diferentemente da maioria dos estudos anteriores, que dependiam de auto-relato ou a recolha das mulheres, o que pode causar viés, Beaber e seus colegas usaram registros de farmácia eletrônicos para coletar informações detalhadas sobre o uso de contraceptivos orais, incluindo nome do medicamento, dosagem e duração da medicação.