17/10/2014 08h02 - Atualizado em 21/01/2015 10h18

Na Mostra de SP, diretor argentino diz que fazer cinema é fácil: 'Basta roteiro'

Damián Szifron e a atriz Erica Rivas lançam 'Relatos selvagens' no Brasil.
Pré-indicada ao Oscar, comédia virou blockbuster ao falar de vingança.

Letícia MendesDo G1, em São Paulo

"Minha geração arrasta vários mitos. Um é de que as pessoas não querem ver o cinema argentino. E o outro é de que fazer cinema é muito difícil", diz o diretor Damián Szifron, de 39 anos, em entrevista. Seu terceiro longa, "Relatos selvagens", tem sessões na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e estreia dia 23 de outubro. (Assista ao trailer abaixo)

O diretor argentino Damián Szifron (Foto: Divulgação)O diretor argentino Damián Szifron (Foto: Divulgação)

"Escuto sempre gente que tem um projeto há oito anos, buscando investimento. E graças à tecnologia fazer cinema não é difícil. Basta escrever um bom roteiro que não necessite de uma megaprodução. Hoje em dia, qualquer pessoa compra uma câmera. E, uma vez o filme terminado, você pode levá-lo a qualquer festival. Há muitos casos de filmes pequenos que passaram em Cannes e em Berlim. Acabaram as limitações dos cineastas. Um cineasta não pode culpar nada", afirma o argentino, cujo filme é produzido pelo espanhol Pedro Almodóvar, homenageado pela 38ª Mostra de SP.

"Relatos selvagens", que reúne histórias de vingança vividas por personagens à beira de perder o controle, participou da seleção oficial do Festival de Cannes e foi escolhido para representar a Argentina no Oscar 2015. "Ainda há uma distância muito grande. Há muitos filmes bons este ano, que já vi em outros festivais, e não sei quais são as chances reais de sermos indicados". Os argentinos já levaram duas estatuetas de melhor filme estrangeiro com "A história oficial" (1985) e "O segredo dos seus olhos" (2010).

Penso que essa comparação entre cinema brasileiro e argentino não tem sentido. Acho até que vocês têm melhor ritmo"
Damián Szifron, cineasta

Assim, é inevitável não entrar no assunto da rivalidade entre os países. "Penso que essa comparação entre cinema brasileiro e argentino não tem sentido. Acho até que vocês têm melhor ritmo. Mas não se pode comparar uma nação com outra em matéria cinematográfica porque o cinema é feito por indivíduos".

Damián comenta que não se pode deixar levar pela "lógica competitiva do mundo em que vivemos". "Quando eu faço um filme, não penso no que o outro está fazendo. Penso em fazer o meu melhor. Acho premiações de mau gosto. Essa gente adulta torcendo pra quem vai ganhar. Afinal, nos lembramos dos filmes que gostamos, não dos que levaram mais prêmios. Vários ganharam Palma de Ouro ou Oscar e ninguém se lembra deles", afirma.

Ao mesmo tempo, Damián conta que não sabe muito sobre a produção brasileira. "Da minha memória vem ‘Dona Flor e seus dois maridos’ e ‘Central do Brasil’. Estou familiarizado com alguns diretores que também filmaram nos Estados Unidos, como José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles. Só conheço esses. Não tem filme brasileiro na Argentina. Como imagino que no Brasil também não deve ter filme argentino, com a exceção de Ricardo Darín".

 Blockbuster argentino
Um dos atores argentinos mais famosos do mundo, Darín protagoniza uma das histórias de "Relatos selvagens", em que um homem que se revolta contra a burocracia. "O Ricardo é uma espécie de embaixador da Argentina e tem uma personalidade muito contagiosa. Ele mistura bondade com inteligência", diz o diretor. "Na Argentina, as pessoas preferem ver o cinemo argentino. O mesmo roteiro protagonizado por Darín tem muito mais chance de fazer sucesso do que se tivesse Tom Cruise ou George Clooney".

Ricardo Darín em 'Relatos selvagens' (Foto: Divulgação)Ricardo Darín em 'Relatos selvagens'
(Foto: Divulgação)

Ao falar de vingança, "Relatos selvagens" virou blockbuster. Na Argentina, o filme já fez 3 milhões de espectadores. "Quando escrevo, imagino uma sala cheia de gente. Mas 3 milhões de espectadores na Argentina é muitíssimo. Poucos filmes alcançam e nenhum é argentino. É um sucesso muito grande. Não tínhamos previsto", diz Damián.

"Sempre gostei dos filmes que se destinam a um público grande. Os meus filmes favoritos foram vistos por muita gente. Filmes como “O iluminado”, que reúnem arte e espetáculo, me interessam".

Erica Rivas em 'Relatos selvagens' (Foto: Divulgação)Erica Rivas em 'Relatos selvagens'
(Foto: Divulgação)

Noiva à beira de um ataque de nervos
Erica Rivas protagoniza a história que encerra "Relatos selvagens". Ela interpreta uma noiva que descobre a traição do marido em plena festa de casamento. A atriz argentina conta que, quando leu o roteiro, soube que era o papel certo na hora certa em sua carreira. "Foi um tesouro e Damián, que é meu amigo, foi muito amoroso em me escolher".

"Esse foi o primeiro personagem feminino que escrevi como protagonista e gosto dela porque tem bastante verdade", diz Damian.

Rivas diz que durante muitos anos sentia que não estava fazendo boas escolhas. "Sempre duvidei se eu era uma boa atriz. Meus pais eram universitários e nunca acreditaram em mim. Então, tive que sair de casa, estudar e pagar meus estudos sozinha. Cheguei até o quarto ano de Psicologia com muita dificuldade porque já trabalhava e estudava teatro", conta. "Vou fazer 40 anos e, isso me acontecer agora, depois de tantos anos de trabalho e persistência, idas e voltas, angústia e, durante muito tempo, fiquei sem trabalhar. Mas ver o público brasileiro rindo é emocionante".

Sobre o descontrole emocional de sua personagem no filme, Rivas simplesmente responde: "Nasci mulher". Ela diz que praticamente todas suas atuações se inspiram nas mulheres de Pedro Almodóvar, Federico García Lorca e Tennessee Williams. "Me inspirei em todos os autores que tenham um pensamento sobre o feminino".

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