SÃO PAULO - O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, afirmou nesta terça-feira que, se não chover o volume médio nos próximos meses, a Sabesp vai tirar água do lodo, já que não existe terceira cota do volume morto.
Segundo Andreu, medidas paliativas deveriam ter sido tomadas enquanto havia água nos reservatórios. Para ele, o governo do estado deveria ter controlado a vazão da água desde o começo da crise, conforme a entrada de águas no sistema, o que não foi feito.
- O volume três é possível ser retirado? Eu acredito que tecnicamente seria inviável. E do ponto de vista ambiental, essa água terá problema. Se a crise se acentuar, é bom que a população saiba que não haverá alternativa a não ser ir no lodo - afirmou o presidente durante audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O Sistema Cantareira bateu hoje novo índice histórico e chegou a 3,3%. O índice pluviométrico acumulado de ontem para hoje, quando choveu na região metropolitana de São Paulo, é de 0,5 mm e não chegou a contribuir para a estabilização do nível do reservatório.
O presidente da ANA disse ainda que houve uma “quebra de confiança” entre a agência e o governo do Estado. Andreu afirmou que, desde junho, nenhuma opinião e propostas de alternativas, que vinham sendo feitas desde o início da crise hídrica, foi acatada.
- O que nós temos é uma quebra de confiança, porque o secretário do estado (de Recursos Hídricos) assume um compromisso com o presidente da ANA, faz um acordo, você espera o tempo passar e, no momento de você cumprir aquela obrigação, ele diz que o acordo não foi assumido. Não tem sentido negociar com alguém que não cumpre seus compromissos, o que é o caso do secretário Mauro Arce - afirmou.
Andreu afirmou que a única alternativa é reduzir o consumo do sistema e assumir que existe uma crise, considerada por ele grave, de abastecimento. A captação de água do sistema São Lourenço, que seria uma opção, segundo Andreu, só ficará pronta daqui a dois anos. O presidente da ANA comparou a situação de São Paulo com a da Flórida, nos Estados Unidos.
- É como o cidadão que já foi para o cheque especial e não avisa a família que está com crise financeira. Aí ele mete a mão nos cofres das filhas e não se fala a gravidade da situação. Lá (na Flórida) se falou a verdade para as pessoas. Penalizaram o aumento de consumo. Aqui não tem como, porque para fazer o aumento da tarifa, precisa fazer um decreto de racionamento. O governador Geraldo Alckmin teria que assumir que existe um racionamento. A quantidade de pessoas com maior consumo tem aumentado mesmo com a gravidade dessa crise.
O presidente da agência também criticou a falta de diálogo do governo estadual.
- O problema que tem havido é que, nessa discussão, o governo do estado não quer sugestão. Ele quer adesão, ele tem uma oposição e qualquer posição diferente disso que ele tem parece que a gente está atuando ao contrário daquela posição predominante que ele defende.
Andreu disse ainda que, em uma vistoria na represa Atibainha, foi constatado retirada irregular da água. É a agência que define o máximo e o mínimo que pode ser retirado sem que o reservatório seja comprometido.
- Medimos 38 centímetros abaixo do nível (permitido) em Atibainha. Quando fomos no segundo dia, essas réguas foram retiradas e os técnicos não conseguiam fazer a medição.
Durante a audiência, organizada pela bancada de deputados do PT-SP, um grupo de integrantes de movimentos sociais fizeram uma manifestação responsabilizando o PSDB pela falta de água.
ELEIÇÕES
O presidente da ANA rebateu as críticas do candidato à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), sobre a falta de uma “parceria maior” do governo federal com o estado para tentar solucionar a crise de abastecimento de água em São Paulo.
- Eu acho que ele desconhece a relação que a gente tem no estado de São Paulo, principalmente com o órgão gestor (DAEE), com o governo do estado e diretamente com o governador, e conhece pouco a própria ANA. Por curiosidade, o relator que me indicou pelo Senado foi o próprio vice dele, Aloysio Nunes. Então, todas essas insinuações que ele faz neste momento, no nosso ponto de vista, pouco ajudam para que a gente possa encontrar o consenso necessário para a solução da crise - afirmou.
O senador Aloysio e a Sabesp foram procurados mas não responderam até o momento.