Edição do dia 07/10/2014

07/10/2014 13h10 - Atualizado em 07/10/2014 13h48

Seis em cada dez usuárias de crack não usam preservativo nas relações

Em BH, cerca de 40 filhos de usuárias são abandonados todo mês.
Cerca de 30% das mulheres se prostituem em troca da droga.

Um estudo da Fiocruz mostra que 62,9% das mulheres usuárias de crack pesquisadas não utilizam preservativo. Cerca de 30% delas se prostituem em troca de sexo. O resultado desse comportamento é o aumento das doenças sexualmente transmissíveis e também da gravidez não planejada.

Em Belo Horizonte, as mulheres, mesmo grávidas, continuam usando a droga nas cracolândias. Em muitos casos, a justiça precisa intervir e as crianças são levadas para a adoção. O Jornal Hoje registrou alguns flagrantes.

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Imagens mostram uma mulher fumando crack várias vezes. Ela conta que está grávida de oito meses de um menino e que não é o primeiro filho. Ela já tem uma menina de 12 anos.

As mulheres grávidas moram nas praças de Belo Horizonte. Não têm ninguém para cuidar da saúde e dos bebês. A gravidez é considerada de alto risco, porque o efeito da droga aumenta a chance de infarto e de hemorragia. Nas cracolândias, as mulheres muitas vezes se prostituem e não previnem a gravidez.

O uso de drogas está entre os principais motivos para a entrega de crianças à adoção. Só em Belo Horizonte, todo mês cerca de 40 filhos de usuárias de crack são abandonados nas maternidades ou tirados da família pela justiça. São quase 500 bebês por ano. As crianças acabam sendo criadas por parentes ou adotadas.

O Jornal Hoje encontrou na cracolândia Juliana, de 34 anos, grávida do décimo filho. Ela ainda era usuária de crack. Um mês depois, a mulher estava em casa, com o filho nos braços, amamentando. Otílio nasceu com quase três quilos. “É muito especial a gente ter o leite limpinho para dar para o filho”, diz.

Juliana está longe da droga e quer evitar novas gestações. “Vou fazer laqueadura ou vasectomia do meu companheiro. Vou tentar pelo SUS”, conta.

O Sistema Único de Saúde oferece métodos contraceptivos, mas é difícil convencer as dependentes químicas a se proteger. “A maioria deles tem vários filhos e a gente tenta intervir da melhor maneira possível, com uso de anticoncepcionais injetáveis, que têm um período maior de duração. Quando a gente consegue manter esse acompanhamento, a gente avalia a possibilidade da esterilização cirúrgica, que é a laqueadura tubária, e algumas vezes o uso do DIU ou anticoncepcionais”, fala uma médica obstetra.

Juliana só pensa no futuro ao lado do filho que nasceu e dos outros que foram tirados pela justiça. “É muito gostoso saber que ninguém vai me tirar esse menino, porque deixei o cachimbo de crack e o vício”. Sobre reconquistar os outros filhos, Juliana já tem a fórmula. “Cuidar de mim. Porque se eu não cuidar de mim e não me amar, eu não posso amar eles. O crack é um mundo obscuro”.