15/08/2014 13h52 - Atualizado em 15/08/2014 20h44

Madrasta de Bernardo reclama de condições de presídio em carta no RS

'Humilhação sem tamanho', diz Graciele Ugulini em carta enviada à Justiça.
Mulher também pede tomada para TV e diz estar com problemas de saúde.

Jonas CamposDa RBS TV

A madrasta do menino Bernardo Boldrini, encontrado morto há quatro meses em Três Passos, na Região Norte do Rio Grande do Sul, escreveu uma carta à Justiça de dentro da Penitenciária Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, reclamando das condições da casa prisional. Graciele Ugulini, presa desde abril, critica os servidores, pede regalias, fala sobre um suposto incêndio e também diz estar com problemas de saúde. Além disso, solicita transferência para um presídio da Região Noroeste para ficar mais perto da filha. O documento foi obtido com exclusividade pelo Jornal do Almoço, da RBS TV (veja o vídeo acima).

O corpo de Bernardo foi localizado no dia 14 de abril enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 km de Três Passos, onde ele residia com a família. O menino estava desaparecido desde 4 de abril. Além de Graciele, o pai da vítima, o médico Leandro Boldrini, a amiga da Graciele, Edelvania Wirganovicz, e o irmão, Evandro Wirganovicz, também são réus pelo crime. Os quatro estão detidos e respondem por homicídio qualificado.

Graciele Ugulini escreveu carta e encaminhou para a Justiça (Foto: Reprodução/RBS TV)Graciele Ugulini escreveu carta e encaminhou para
a Justiça (Foto: Reprodução/RBS TV)

"Além das presas, escuto coisas do pessoal da guarda, dos funcionários que aqui trabalham. Abrem a porta, olham para mim e fazem comentários do tipo: 'Está acabada mesmo'. E saem rindo. É uma humilhação sem tamanho", descreve. "As presas das celas ao lado da minha colocaram fogo nos cobertores e roupas e tentaram jogar na minha cela. A fumaça ficou a tarde inteira entrando. Fiquei com muita dor no corpo, falta de ar. Ao respirar, sinto muita dor no pulmão", relata a madrasta do menino na carta.

A penitenciária foi inaugurada há três anos. Graciele está em uma cela individual, isolada das demais presas, em um ambiente sem superlotação, realidade diferente de outros presídios gaúchos, a maioria com excesso na população carcerária.

"Não tem tomada para uma televisão, nem para esquentar água para um café. A cela é fria, úmida e não bate sol. O pátio de receber visitas é um brete, pior que um canil. Não pega um raio de sol e não tem como caminhar", diz. "Estou ficando doente, tenho dores de cabeça diariamente, tenho dor na coluna por causa do colchão, que é um pedaço de espuma. Tenho dores no corpo de tanto frio, por falta de movimentação. Minha pele está descamando, meus cabelos caindo e não durmo nem cinco horas por dia", afirma Graciele.

A carta foi analisada pelo juiz da Comarca de Três Passos, Marcos Luís Agostini, responsável pelo processo. O magistrado não se convenceu com os argumentos de Graciele e negou o pedido de transferência.

O psiquiatra forense Rogério Cardoso também analisou o documento. "O sistema penitenciário tem características. Mulheres que matam crianças são muito mal vistas, rachaçadas, criticadas e consideradas 'da pior espécie'. Ela está em um presídio feminino onde muitas são mães ou serão mães", observa.

O advogado da avó de Bernardo Boldrini, Marlon Taborda, entende que a carta se trata de uma estratégia de defesa para tentar transferir a madrasta. "Nos chama a atenção as queixas que a redatora da carta faz. Ela se faz de vítima, inverte os valores. É um sentimento que não teve com o próprio menino", diz Taborda.

O advogado que defende Graciele, Vanderlei Pompeo de Mattos, não quis se manifestar e disse não ter conhecimento da carta.

Carta de Gracieli Ugulini enviada à Justiça (Foto: Reprodução/RBS TV)Carta de Graciele Ugulini enviada à Justiça (Foto: Reprodução/RBS TV)

Entenda
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No dia 6 de abril, o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.

No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. No dia 14 de abril, o corpo do garoto foi localizado. Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem de um sedativo e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen.

O inquérito apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ainda conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune, e contaram com a colaboração de Edelvania e Evandro.