Economia

Queda acentuada nos investimentos foi a pior parte do PIB, dizem analistas

Indicador recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009. Já são quatro resultados negativos seguidos

RIO - Os dados do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) do segundo trimestre divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE incluem muitos recordes negativos, como indústria e taxa de poupança. Mas um dos números chamou a atenção dos analistas, principalmente por também indicar o que pode vir por aí: o nível de investimento, apontado sobretudo pela taxa de  Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que são os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil.

O índice teve queda em todas as comparações feitas pelo IBGE. Frente ao trimestre anterior, recuou 5,3%, pior taxa desde o primeiro trimestre de 2009, completando uma sequência de quatro resultados negativos consecutivos. Em relação ao mesmo período de 2013, a contração chegou a 11,2%, também a pior em cinco anos. Com isso, o acumulado em 12 meses, que estava em terreno positivo há quatro trimestres, voltou a ficar negativo, em 0,7%.

Especialistas citam a baixa confiança dos empresários na economia, os juros e inflação mais altos em um cenário de demanda mais fraca. Problemas estruturais — déficit em infraestrutura, burocracia, sistema tributário e a apreciação do câmbio — também são usados para explicar as dificuldades da indústria.

— Infelizmente, acreditamos que não há perspectiva de mudança do quadro recessivo do setor no curto prazo — diz Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Para Silvia Matos, professora da Fundação Getulio Vargas, o dado indica que os próximos meses podem continuar fracos daqui para frente, mesmo depois da contração de 0,6% no segundo trimestre.

— A gente vê que há quatro trimestres o investimento está desabando. Uma parte é explicada pela queda da indústria, que não tem motivos para investir. Por outro lado, esse ciclo de compras de ônibus e caminhões foi temporário. A gente observa que não tem sinal de recuperação rápida — afirma Silvia, que esperava alta de 0,6% do PIB em 2014, e agora revisou a projeção para 0,4%.

QUEDA ACENTUADA E CONTINUADA PREOCUPA

André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, também diz que o número fraco dos investimentos foi o destaque negativo do PIB:

— O resultado foi, por falta de palavra melhor, horrível. O que mais me preocupou foi a queda acentuada e continuada de investimentos. Mostra que a confiança empresarial com o atual governo é muito baixa. Mostra que as medidas, uma política fiscal mais frouxa, não foi suficiente pra melhorar.

Em nota, o banco Goldman Sachs também destacou a queda, comparando o Brasil com outras economias da América Latina, destacando que a taxa de investimento continua baixa, apenas em 16,5% do PIB.

“O Brasil tem uma das menores taxas de investimento entre as maiores economias da América Latina, o que em parte explica o baixo potencial do PIB do país. Além disso, os 14,1% da taxa de poupança são ainda menores que o baixo nível de investimento”, analisou o banco.

EMPRESÁRIO ESTÁ CAUTELOSO AO INVESTIR

Aloísio Campelo, também professor da FGV, diz que as sondagens da indústria indicam uma cautela do empresário brasileiro em investir, em meio a fatores que vão desde a política monetária à incerteza decorrente do período eleitoral.

— Essa intensificação da desaceleração dos investimentos em máquinas e equipamentos tem um fator além da decepção. Em 2014, o governo diminuiu a margem de manobra para fazer medidas para compensar esse quadro. A inflação está relativamente alta, o BC não deve mexer na taxa de juros. Há também uma pitadinha de incerteza em relação ao cenário político. O investimento depende de o empresário estar com pouca ociosidade e ter confiança de que a economia vai crescer — explica Campelo.

. Foto: GLOBO
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Já o banco BNP Paribas destacou a queda dos indicadores de confiança e lembrou que, independentemente do termo usado (recessão técnica, recessão ou estagflação), o Brasil vive um cenário de baixo crescimento e inflação alta, que deve se refletir nos próximos trimestres. A instituição cortou a previsão de crescimento para o ano de 0,5% para zero.

Para a agência de classificação de risco Fitch Ratings, a recuperação da economia brasileira dependerá bastante das medidas tomadas pela próxima administração para restaurar a confiança, reduzir os custos dos negócios, e facilitar uma transição mais rápida em direção ao crescimento motivado por investimento. Em relatório divulgado na tarde desta sexta-feira, a agência adiantou que, diante do impacto do recuo do investimento, a desaceleração da economia no ano será "mais pronunciada" do que a prevista inicialmente, e será revisada em seu próximo relatório de perspectivas econômicas globais.

"Os indicadores de confiança em queda sugerem que os agentes econômicos querem ver ajustes adicionais de política em relação aos já adotados, que incluem aperto fiscal, alguma flexibilidade da taxa de câmbio, e tentativas de impulsionar o investimento privado em infraestrutura. Restaurar a confiança, reforçando a credibilidade da política fiscal e reduzindo os entraves estruturais em áreas como infraestrutura e ambiente de negócios seriam positivas para o perfil de crédito soberano do Brasil, se resultarem em um crescimento sustentável mais acelerado. A capacidade das autoridades de ajustar a política para abordar os desequilíbrios econômicos e fiscais irão, portanto, permanecer um foco da nossa análise de nota de crédito soberano", afirma o documento.