Espanto, insegurança, “pé atrás”. São expressões citadas por
conselheiros e diretores do São Paulo para descrever o ambiente político após a
reunião da última segunda-feira, na qual veio à tona o contrato com a empresa
de Cinira Maturana, namorada do presidente Carlos Miguel Aidar, e que
desencadeou nova série de acusações entre ele e o antecessor, Juvenal Juvêncio.
Indagado por opositores, Aidar admitiu contrato que dá à
Cinira 20% de comissão sobre qualquer negócio que ela leve ao São Paulo. Na
mesma reunião, Juvenal discursou em tom enfático. Proibiu o atual presidente de
falar seu nome e jogou em sua cara o apoio na eleição.
Ambos os protagonistas da guerra política têm dito que
possuem apoio maciço. Aidar gaba-se de ter acabado com a oposição. Afirma que ela
se resume a Juvenal e três aliados: Roberto Natel, ex-vice-presidente, José
Francisco Manssur, assessor especial do antigo presidente, e Rui Stefanelli, sobrinho
de Juvenal e diretor adjunto de planejamento de sua gestão.
- Cabem no banco da frente de uma Kombi - disse Aidar.
Por outro lado, Juvenal Juvêncio conta com o prestígio
acumulado no Conselho em seus oito anos à frente do clube. Acredita que sua
influência sobre os cartolas são-paulinos vai colocar o rival na berlinda, e já
anunciou que não dará sossego ao sucessor.
Porém, nenhum deles está coberto de razão. A avaliação de
pessoas que vivem o dia-a-dia do clube é de que cada um, Aidar e Juvenal, têm
alguns poucos aliados leais, enquanto a imensa maioria permanece à espreita, apenas
observando a briga e tentando avaliar quem está com a razão.
Pegou mal no Conselho o contrato do São Paulo com a TML,
empresa de consultoria pertencente à Cinira Maturana. Alegam que se houvesse
mesmo transparência, uma das bandeiras de Carlos Miguel Aidar, o compromisso
teria sido anunciado no órgão tão logo foi assinado, ou seja, em maio. A
maioria não gostou de ficar sabendo do documento por meio da reclamação dos
aliados de Juvenal. O fato foi reprovado pelo presidente do Conselho, Carlos
Augusto de Barros e Silva, o Leco, membro atuante do clube desde que era
presidido por Juvenal.
Também incomoda o tom das críticas à gestão anterior. Aidar
bate com força no que chama de “esquema” criado nas categorias de base e na
situação financeira do clube. Chegou a dizer que os balanços anteriores eram
maquiados.
Como muitos diretores e quase todos os conselheiros
conviveram próximos a Juvenal durante muitos anos, acusam o golpe. Dizem que o
ex-presidente, até pela doença que teve recentemente (um câncer de próstata
atualmente controlado), não poderia receber tantos ataques.
Sobre a situação financeira, embora reconheçam em Aidar o
mérito de procurar equilibrar receitas e despesas, diretores e conselheiros
denunciam um “exagero” do atual mandatário. Eles dizem que os balanços
anteriores, que apontavam superávit, estavam corretos, e que a dívida bancária pode
perfeitamente caminhar paralelamente a isso. Uma coisa não anula a outra.
Outro ponto considerado favorável a Carlos Miguel Aidar é a reestruturação
na gestão. Eleito em abril, o presidente quer uma administração mais moderna,
menos centralizadora e viciada, com mais profissionais atuando em cada uma das
áreas. Os diretores reconhecem. Tanto que atenderam à convocação de Aidar e
estiveram presentes na entrevista coletiva concedida por ele na última
quarta-feira, em que ele voltou a atacar Juvenal e defendeu a relação profissional
com a namorada.
Na ocasião, Aidar afirmou que esperaria Cinira voltar de
viagem, algo que só acontecerá no início de janeiro, para discutir com ela a
rescisão do contrato. A maioria dos conselheiros gostaria que isso fosse feito
imediatamente.
Para encerrar a semana conturbada no Morumbi, a Puma,
empresa alemã de fornecimento de material esportivo, revelou um acordo assinado
no dia 28 de agosto para substituir a Penalty ao término do contrato com o São
Paulo. A diretoria negou. Disse que tratava-se apenas de uma carta de intenção
com um prazo para se transformar num contrato formal, o qual não foi cumprido.
Há, no Morumbi, a versão de que Aidar desistiu do negócio
porque a Puma se negou a pagar a comissão de 20% à Cinira. A empresa, que citou
a namorada do presidente em nota oficial como pessoa designada por ele para
coordenar a transição com a atual fornecedora, se recusou a comentar o assunto.
FUTEBOL SE SALVA
Em meio ao tiroteio, sobram elogios a Ataíde Gil Guerreiro,
vice-presidente de futebol, e ao desempenho do time desde que Carlos Miguel
Aidar venceu a eleição. O dirigente é visto por todos os lados como pessoa
ideal para impedir que a guerra política respingue na equipe, no CT da Barra
Funda.
Famoso por seu pavio curto, Ataíde se recusa a tocar no
assunto. De bom relacionamento tanto com Juvenal como com Aidar, diz que só se
manifesta nas reuniões do Conselho. Contratações certeiras como as de Alan Kardec,
Kaká e Michel Bastos, sem falar nos três reforços já garantidos para 2015 –
Bruno, Carlinhos e Thiago Mendes –, também são exaltadas.
Ataíde não trabalha sozinho. Na busca por novos jogadores,
destaca-se o trabalho do gerente executivo Gustavo Vieira de Oliveira.
Diretores e conselheiros aprovam e também elogiam o vice-presidente por dar
tranquilidade a ele, ou seja, contornar seu relacionamento com Muricy Ramalho
e, principalmente, deixá-lo fora da briga entre Aidar e Juvenal.