Saúde Ebola

Jogadores da seleção de Serra Leoa sofrem preconceito por ebola na Copa da África

Adversários se recusam a cumprimentá-los, e torcida os provoca gritando 'ebola, ebola'
Por enfrentar epidemia, seleção de Serra Leoa disputa os jogos Copa da África de Nações sempre fora de casa Foto: FIFA
Por enfrentar epidemia, seleção de Serra Leoa disputa os jogos Copa da África de Nações sempre fora de casa Foto: FIFA

RIO - Um dos efeitos colaterais menos visíveis da epidemia de ebola é o preconceito. E isso, os jogadores da seleção de futebol de Serra Leoa sentem na própria pele. Em meio à Copa Africana de Nações, torneiro que movimenta os principais times do continente, muitos relatam sofrerem agressões verbais durante os jogos, além de constrangimentos causados pelos adversários, que não querem sequer cumprimentar os companheiros.

Serra Leoa é um dos países mais atingidos pela epidemia, que já matou mais de quatro mil pessoas na África Ocidental. A crise de saúde é tão grande que as partidas onde a seleção deveria jogar em casa foram remanejadas para território neutro ou até mesmo na casa dos adversários. E são nesses locais onde o preconceito aparece como o 12º jogador do oponente.

Em entrevista à BBC, o meio-campista da seleção Michael Lahoud disse que seus companheiros de equipe foram mal tratados e se sentem humilhados por causa do “estigma” de ebola. O jogador de 28 anos relatou que alguns adversários se recusaram a apertar as mãos, enquanto a gritava "ebola" em tom de provocação.

- Está causando muita tensão. As pessoas não permitem que você vá a determinados lugares, porque a primeira coisa que eles pensam é que você tem tem ebola. É um comportamento discriminatório muito chocante – disse Lahoud.

O preconceito ocorre apesar de a maioria do elenco da seleção jogar na Europa, Ásia ou Estados Unidos. Todos os jogadores não pisam os pés em Serra Leoa pelo menos desde julho deste ano.

- No final de uma partida, um jogador não quis trocar sua camisa e, em vez disso, deu sua bermuda, mas se recusou a receber o nosso uniforme em retribuição. O fato de que conseguimos um empate de 0-0 contra Camarões no último sábado só prova a fortaleza de nossa equipe e da união que estamos tendo nesse momento - contou Lahoud.

Lahoud joga no Philadelphia Union, dos Estados Unidos, e é parte do time titular de Serra Leoa, mas não é com a equipe no momento por conta do calendário de jogos americanos, que está atualmente em seu clímax. Sua última atuação com a camisa da seleção de seu país foi contra República Democrática do Congo, em setembro. E a experiência não foi boa:

- Mais de 20 mil pessoas ficavam gritando 'ebola, ebola' por 90 minutos. É difícil, dói muito. É provavelmente uma das experiências mais dolorosas que eu passei como um jogador de futebol. A maioria de nós não vive em Serra Leoa no momento, mas tempos família lá, então essa epidemia é uma questão muito pessoal.

O preconceito, segundo Lahoud, acontece inclusive fora de campo.

- Nos sentimos humilhados. Você é preso em lugares como a Zâmbia tentando chegar em casa porque pensam automaticamente que você tem ebola. Andando pelas ruas de Congo, crianças pequenas fogem de você, em terror absoluto. Mães pegam seus filhos e fogem, porque elas acham que só olhar para você já é contagioso.