Economia Petróleo e energia

Conta de luz deve subir até 27% em 2015 devido à falta de chuva

Consultoria alerta para horário de pico
São Paulo . Em Nazaré Paulista, não há água Foto:
/ Luis Moura
São Paulo . Em Nazaré Paulista, não há água Foto: / Luis Moura

RIO - A expectativa é que, nos próximos meses, o volume de chuvas fique abaixo da média das últimas três décadas, o que torna ainda mais difícil a elevação do nível das represas até abril, quando acaba o período úmido. Nesse cenário, a única certeza é o aumento das tarifas de energia para o consumidor em 2015. Devido ao custo da operação das térmicas, que deverão continuar funcionando a pleno vapor, a conta de luz poderá ficar até 27% mais cara.

A PSR Consultoria estima que as tarifas residenciais em 2015 atingirão R$ 447 o megawatt/hora (MWh), alta de 27% em relação aos R$ 353 MWh deste ano - sem contar ICMS, PIS e Cofins. Especialistas temem que, se as chuvas não forem suficientes, será difícil operar o sistema elétrico para o atendimento da demanda nos horários de pico (em torno das 14h).

Para Mário Veiga, da PSR, a capacidade atual de geração de hidrelétricas e térmicas permite geração de 88 mil MW médios no horário de pico. No último verão, registrou-se o recorde de 84 mil MW.

- O atendimento da demanda em janeiro e fevereiro vai ficar apertado, a menos que chova como nunca choveu. A preocupação maior é com o atendimento nos horários de ponta no verão. Com menos água no reservatório, a usina perde potência. Ou seja, gasta mais água para produzir menos - disse Veiga, que teme que o nível das represas fique no mesmo patamar de abril de 2014.

Segundo Fabio Cuberos, da consultoria Safira, a previsão é que as chuvas fiquem entre 80% e 90% da média histórica (dos últimos 30 anos). A chefe do Departamento de Meteorologia do Climatempo, Bianca Lobo, afirma também que a quantidade de chuvas até o mês de abril ficará um pouco abaixo da média:

- O problema é que os reservatórios estão tão baixos que, mesmo que as chuvas fiquem próximas à média histórica, não devemos recuperar seu nível.

Segundo dados da Climatempo, em um período de chuvas normais entre outubro e abril se acumula, em média, 1.300 milímetros de água nos reservatórios do Sudeste, que concentram 70% da água armazenada no país. Bianca diz que hoje a expectativa é que a acumulação seja de apenas de 1 mil milímetros de água.

- Para o Sudeste, na segunda quinzena deste mês são esperadas poucas chuvas. Em janeiro, a expectativa é de um volume um pouco acima da média histórica. E, de fevereiro a abril, as chuvas deverão ficar um pouco abaixo da média. Para o Nordeste, a expectativa é que de dezembro a fevereiro fiquem abaixo da média.

Cuberos, da Safira, lembra que as previsões feitas em meados de outubro e no início deste mês não se confirmaram. Com isso, diz, o nível dos reservatórios deve demorar para subir, já que as primeiras chuvas servem para preparar o solo:

- Se vier tudo que se espera, o nível dos reservatórios pode chegar a 40% ou 50%, mas ainda assim as térmicas vão continuar ligadas durante todo o ano, traduzindo-se em uma energia mais cara.

Como resultado, o preço de energia no mercado livre está no teto para a próxima semana, de R$ 822,83/MWh. Segundo Marcel Caparoz e Everton Carneiro, da RC Consultores, o aumento é uma combinação das altas temperaturas e da perspectiva de chuvas abaixo da média histórica.

Marcelo Enrique Seluchi, coordenador de pesquisa do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cenaden), afirma que a previsão é que na região Sudeste haja chuva abaixo do normal em São Paulo e acima do normal no norte da região para os próximos 15 dias.

Para o consultor Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a hidrologia vai melhorar até abril. No entanto, ele disse ter dúvidas se vai melhorar o suficiente para livrar o país de uma situação difícil em 2015.

- O risco é que, assim que ocorrerem as primeiras chuvas torrenciais de verão, a população relaxe e esqueça a possibilidade de um 2015 com pouca água e energia mais cara. Será necessário que as autoridades alertem a população para a necessidade de usar água e energia com parcimônia por todo o verão A não ser que as chuvas sejam tão intensas que consigam efetivamente encher os reservatórios.