Agencia EFE

02/09/2014 08h11 - Atualizado em 02/09/2014 08h11

'Selfie de macaco' reacende debate sobre direitos autorais na internet

Postagens na web geram conflitos e dúvidas sobre autoria entre usuários.
Pessoas muitas vezes concordam com cessão sem entender, diz advogada.

Da EFE

Macaco da ilha de Sulawesi roubou a câmera e fez seu próprio retrato (Foto:  Macaco selvagem/David Slater/Caters News)'Selfie de macaco' reacende debate sobre direitos autorais na internet (Foto: Macaco selvagem/David Slater/Caters News)

Milhares de imagens de viagens no Instagram, as primeiras fotografias de um fato no Twitter e novos meios de imprensa que reúnem o conteúdo de outros. A internet é um oceano de desafios para os direitos autorais, o que deixa nos usuários a grande dúvida: de quem é isto agora que subi para a internet?

A recente batalha judicial entre a Wikipédia e o fotógrafo David Slater por uma foto de um macaco, e os comentários cruéis que a filha de Robin Williams recebeu em suas redes sociais quando o ator morreu, voltaram a abrir o debate sobre onde estão os limites na internet.

"O grande problema da rede é que muitas vezes, embora alguém seja vítima de uma ação ilegal e tenha direito a recorrer à Justiça, na prática é impossível perseguir os infratores", explicou à EFE a advogada Gretchen McCord, especialista em informação digital, direitos autorais e privacidade nas redes sociais.

"A internet se movimenta tão rápido e é tão grande que assim que os conteúdos estão lá, muitas vezes não se pode fazer nada. Não se pode ir atrás de toda essa gente", acrescentou.

Os tipos de casos que a advogada atende variam na mesma velocidade com a qual evoluem os conteúdos na internet: sites como o Facebook, muito popular e ao mesmo tempo controvertido em matéria de direitos e privacidade, mudam seus termos de uso continuamente, o que confunde ainda mais o usuário que nem sempre sabe se está sendo vítima de um plágio ou roubo, ou se ele mesmo está cometendo.

"A primeira coisa que se deve saber para entender onde estão os limites é que a internet é regida pelo princípio básico dos direitos autorais: os direitos autorais só protegem a expressão criativa original de uma ideia, mas não a ideia em si. É muito difícil proteger algo como as ideias", explicou à EFE Marc P. Misthal, advogado especialista em direitos autorais.

No caso da selfie do macaco, a Wikipédia ganhou porque os juízes determinaram que a proteção dos trabalhos criativos se limita aos elaborados por humanos e, portanto, não pode ser aplicada a uma fotografia que o animal tirou de si mesmo, embora o aparelho e a ideia tivessem sido do fotógrafo. E se não há direito de autor o uso desse conteúdo é livre.

"Quando uma pessoa cria um trabalho, por exemplo, ao tirar uma fotografia, tem o direito de autor automático. Quando faz o upload para uma plataforma como o Facebook ou o Instagram, muitas vezes aceita sem ler ou sem entender completamente termos de uso escritos em uma linguagem confusa que querem dizer que você cede o uso, embora a propriedade continue sendo sua", assinalou Misthal.

Nesse caso, explicou o advogado, se um de seus amigos no Facebook pegar essa fotografia e a imprimir para vender, você pode denunciar a violação de seus direitos autorais. "A permissão de uso foi dada ao Facebook, não a ele, e sua autoria sobre a imagem está mantida".

A interpretação da lei se complica quando entra em debate o que em direito se denomina "uso justo".

"Em palavras muito simples, o 'uso justo' costuma ser considerado quando estamos mais perto do educativo ou informativo que do comercial", explicou a advogada McCord.

Mas a questão não é só o quê se compartilha, mas como se compartilha e em que quantidade: "Se considera que um titular não tem criatividade suficiente para estar protegido pelos direitos. O uso de um trecho de um texto também pode ser feito sempre que não seja demais e quando se considerar um uso justo", apontou a especialista.

Sobre os novos portais de internet que na prática são "depósitos" de links de outros meios ou publicações, McCord não hesitou: "Pode não agradar a muitas pessoas, porque geram tráfego de visitas com conteúdo que não foi criado por eles, mas fazer o link de outros conteúdos com um vínculo é completamente legal".

Os direitos de propriedade na internet nos Estados Unidos estão protegidos pela lei geral de direitos autorais e propriedade intelectual e pela legislação específica de direitos autorais do Milênio Digital, aprovada em 1998.

"Esta lei busca o equilíbrio, mas à medida que a tecnologia avança será necessário tomar medidas mais complexas em nível particular para proteger a autoria, mediante a encriptação ou marcas d'água", opinou o advogado David Reischer.

No entanto, para McCord, a lei "inevitavelmente" sempre correrá atrás da realidade na internet. "Os usuários devem aprender a se proteger e a proteger suas obras, porque é impossível que a legislação avance na mesma velocidade que a da tecnologia", conclui.

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