28/10/2014 14h49 - Atualizado em 28/10/2014 18h49

Moradores de Itu passam noite e madrugada para pegar água em bicas

Movimentação em fontes de água não para durante todo o dia.
Estiagem dura 9 meses na cidade.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí

Sem uma gota de água nas torneiras e com dificuldade para serem atendidos pelos caminhões-pipa, as famílias de Itu (SP) continuam buscando soluções para conseguir água. As bicas recebem pessoas o dia inteiro e o movimento continua mesmo durante a noite e de madrugada. Das 23h até 1h, os moradores improvisam e pegam água em um ponto da cidade que tem um poço. A fonte tem apenas um metro e meio e a qualidade da água não é das melhores. Eles usam um motor para bombear a água para galões que são colocados no carro e levados para casa. “A gente chega cansado e ao invés de descansar tem que vir atrás da água", conta Alan da Silva.

Moradores precisam usar motor para tirar água de poço (Foto: Reprodução/ TV TEM)Moradores precisam usar motor para tirar água
de poço (Foto: Reprodução/ TV TEM)

Enquanto alguns moradores vão embora, outros estão chegando. "Estou há 10 dias sem água, tenho crianças em casa, preciso vir buscar mesmo sendo 23h", desabafa um dos moradores.

O sofrimento de quem não tem água na torneira há oito meses só aumenta a cada dia que passa. Inconformados com a situação que só piora, os moradores questionam "como existe racionamento se não tem água pra racionar?"

"Essa água que eu peguei hoje serve só para amanhã, para poder cozinhar, tomar banho e comer e beber. Amanhã começa tudo de novo", conta Dulcinéia Sorrecha.

Peregrinação
A estiagem em Itu tem feito os moradores enfrentarem um martírio em busca de água. Como o cronograma de racionamento não é cumprido e as solicitações de caminhão-pipa nem sempre são atendidas, segundo os moradores, poços, bicas, fontes e lagoas se tornaram pontos de peregrinação na cidade.

Buscar água em bicas e córregos se tornou comum para moradores de vários pontos da cidade. No bairro Cidade Nova, uma das regiões mais castigadas com o racionamento, são três bicas. Canos onde moradores colocam garrafas e baldes para pegar água. Durante todo o dia, a cena se repete e há filas.

O problema é que ninguém sabe a qualidade da água disponível. O porteiro Jorge da Silva está há quase duas semanas sem uma gota de água em casa. Todo dia, ele segue a mesma rotina, cedo e a tarde, vai até um lago que recebe água que vem de uma represa. Com a água que sai da tubulação, Jorge não sabe se é de boa procedência. "O que a gente sabe é que a água vem de uma lagoa, mas não sabemos se é boa. Se quiser tomar banho tem que fazer esse sacrifício. Senão, a gente fica sem tomar banho", diz.

Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Moradores estão pegando água em locais sem garantia de qualidade (Foto: Reprodução/TV TEM)

Medidas contra a seca
O governador Geraldo Alckmin anunciou na sexta-feira (24) decreto que libera recursos para o atendimento emergencial a Itu. Ao todo, serão liberados R$ 2 milhões à prefeitura, por meio de convênio com a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil. O município já encaminhou os documentos necessários a formalização do acordo e os recursos estarão disponíveis a partir da próxima semana.

A cidade já vem recebendo ajuda emergencial. A Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (Sabesp) disponibilizou dois caminhões pipa, dos 20 prometidos, ao município. Cada um dos veículos tem capacidade de transportar 8 mil litros de água para o atendimento à população.

Segundo o governo estadual, a água que será levada para Itu pelos caminhões-pipa será captada em duas empresas particulares, que disponibilizam água potável para ser distribuída na cidade.

Falta d'água em Itu (Foto: Reprodução/TV TEM)Caixas d'água foram distribuídas pela cidade para
facilitar para moradores (Foto: Reprodução/TV TEM)

Segundo o coordenador da Defesa Civil do Estado de São Paulo, José Rodrigues de Oliveira, outras medidas serão tomadas para amenizar a crise na cidade. "Estamos mandando pra Itu sete tubos flexíveis, que são tanques, que serão colocados na cidade juntos aos que já existem, para que as pessoas possam ir até lá e pegar água potável", explica.

As caixas funcionarão como postos de distribuição de água. A Sabesp também enviou um engenheiro da empresa para dar consultoria aos técnicos da empresa privada responsável pelo abastecimento na cidade. Uma nova adutora também está sendo construída para captar água do córrego Mombaça.

A concessionária Águas de Itu informou que três tanques foram instalados na cidade para a população captar água: um na praça 14 Biz, com volume de 20 mil litros; um na praça dos Exageros, também de 20 mil litros; um no bairro Pirapitingui, com capacidade de 70 mil litros de água.

Ainda segundo a Águas de Itu, as sete caixas d'água oferecidas pelo governo do estado serão instaladas na próxima semana, e deve atender aos bairros que têm problemas para receber água pela rede de abastecimento.

Entenda a crise
O racionamento de água em Itu já dura quase nove meses e alguns moradores dizem que ficam até um mês sem receber uma gota nas torneiras. O pouco que chega nas casas é com o caminhão-pipa. No desespero de encontrar água, os moradores estão apelando até para a zona rural.

Apesar do Ministério Público já ter recomendado à prefeitura que reconheça o estado de emergência e calamidade pública, a prefeitura decidiu não acatar a medida. Em entrevista, o prefeito afirmou que o decreto não seria pedido já que não está faltando água para manter os serviços essenciais, como hospitais e escolas. O chefe do executivo afirmou também que foi protocolado um decreto para captação em 24 poços e reservatórios de uma indústria de bebidas do município.

No entanto, conforme o documento enviado em julho, o Ministério Público aponta que a precariedade no abastecimento de água para a população não decorre exclusivamente do período de estiagem, mas sim de anos de má gestão e falta de investimentos no aumento da armazenagem de recursos hídricos, além da construção de novas barragens, desassoreamento das já existentes e modernização dos sistemas de tratamento e distribuição.

Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, o órgão já registrou mais de 1 mil ocorrências em menos de uma semana. Em um dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido de tentar amenizar a situação dos reservatórios.

De acordo com a liminar, caso a água não chegue até o imóvel, a população deve reclamar na concessionária que terá que resolver o problema em 48 horas e a prefeitura será multada. Para o promotor, a intenção do órgão é esclarecer à população sobre os seus diretos. “Nós intensificamos a importância dos registros já que as pessoas não sabiam o que fazer e quem procurar. Temos outros pontos de atendimento, mas vários moradores chegam aqui e dizem que estão sem água a muito mais dias do que o tempo aceito pelo MP”, diz. O morador também deve fazer a denúncia no Ministério Público, localizado na Avenida Goiás, 194, no bairro Brasil.

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