Anderson Talisca desviou a rota da China para a Turquia. Deixou a seleção sub-21 para juntar-se ao time principal. Com apenas 20 anos e um currículo de nove gols em 14 jogos na atual temporada, o jogador do Benfica mostra-se bem à vontade entre os novos colegas. Mas, apesar da tranquilidade no ambiente, deixou de lado os passeios por Istambul nesta quinta-feira no dia de folga para descansar e focar no objetivo: seguir sendo lembrado por Dunga.
E foi no hotel da Seleção que Talisca contou como tem sido a adaptação à Seleção. Das conversas com os companheiros ao discurso ao qual os novatos são submetidos na primeira convocação. Não faltou nem um momento cantor ao atacante. Ao GloboEsporte.com, o atleta repetiu o palhinha dada ao time, mas sem o frio na barriga do momento do "batismo".
- Claro que precisava dar o discurso. Deu um frio na barriga, mas foi tudo bem. O grupo ficou provocando para eu dar uma palavra, mas acho muito legal para você se apresentar para os companheiros e para a comissão técnica. Cantei uma música e contei uma piada – revelou o jogador de apenas 20 anos.
O cuidado é tanto com o momento vivido com a camisa canarinho que nem mesmo assuntos relacionados ao Benfica entraram na conversa, pedido feito logo no começo do bate-papo com a reportagem. Nas declarações, o relato do começo no futebol e a enorme dificuldade vivida. Chegou a passar fome e costuma dizer que não teve
luxos. Mas faz questão de enaltecer o empenho dos pais, dona Ivone e seu
Augusto, para que alcançasse o objetivo de vencer como atleta
profissional.
- Minha família é de Feira de Santana, no interior
da Bahia. Minha infância foi sofrida como é o início de toda criança que
sonha ser um grande jogador. Passei por dificuldades, mas consegui
superar. Não cresci tendo um padrão de vida legal. Não cresci tendo
aquela estrutura toda, mas junto com a minha família tudo foi superado.
Meus pais e meus tios são muito importantes para mim.
A luta para vencer no futebol teve início no Vasco. Aos 13 anos, indicado por Álvaro Miranda, filho do presidente eleito do clube, Eurico Miranda, ganhou uma chance na Colina. Mas acabou não ficando. A oportunidade serviu para conhecer Philippe Coutinho, atual colega de Seleção.
- Lembro da minha passagem pelo Vasco. Joguei com o Philippe Coutinho. Ele se lembra de mim. Foi uma passagem rápida. Não fiquei por lá por causa de alojamento. Como a minha mãe estava grávida do meu outro irmão, eu decidi voltar também - contou.
Talisca, ou melhor, Anderson Souza Conceição vingou apenas na base do
Bahia. Foi lá que ganhou o apelido que propagaria pelo mundo. Alguns companheiros viram seu meião
escorregar pelas canelas finas enquanto corria para armar ou
finalizar uma jogada. Não pensaram duas vezes: era
Talisca para cá, Talisca para lá.
- Quando eu era mais novo, o
meu apelido não era Talisca. Era Doda. Meus colegas colocaram esse
apelido lá no interior da Bahia. Desde pequeno meus colegas me chamavam
assim e eu nem sei o motivo. A minha família me chamava de Anderson
mesmo – disse o jogador, que é casado com Ana Paula e já pensa em um
primogênito.
- Ainda não está vindo, mas estamos providenciando – disse.
Foi
no Bahia também que viveu duas histórias curiosas. Na primeira, o
técnico Marquinhos Santos montou um esquema para privilegiar o estilo de
jogo do atacante. Talisca atuava como um falso camisa 9 e dava conta do
recado. A outra ocorreu com o técnico Jorginho, atualmente na
Chapecoense, quando o comandante o repreendeu por ter comprado um carro
de R$ 70 mil.
- Não sei qual foi a intenção dele. Faz tempo. Eu
era novo, mas quando faço uma coisa sei das coisas que eu faço. Sei das
consequências que podem acontecer comigo. Se eu fiz é porque eu achei
que teria que ser feito.
Conforme a caminhada seguia no futebol, os apelidos também proliferavam-se. Opções para todos os gostos. De “Neymar com dendê” a Yaya Talisca, em referência ao jogador marfinense Yaya Touré, do Manchester City. Tudo virou comparação com outros nomes do futebol.
- Fico feliz pelos apelidos, são grandes jogadores. Estar sendo apelidado assim é ótimo, mas procuro apresentar o meu futebol e criar a minha identidade.
Com o corpo coberto por tatuagens, Talisca prefere não explicar o significado de cada uma delas, mas diz que sabe exatamente o que gravou na pele. As únicas que faz questão de explicar são o nome da esposa no pulso e o rosto de Jesus Cristo no antebraço esquerdo.
- Sou religioso. Acredito em Deus.
E, para quem ainda não conhece seu potencial, ele faz questão de dar o cartão de visitas. Acima de qualquer característica de jogo, o atleta garante que o importante é estar pronto para ajudar.
- Jogo mais centralizado pelo meio de campo. Mas o jogador tem que estar preparado para ajudar.
Ao lado da delegação brasileira, Talisca embarca para Viena na noite desta quinta-feira. Na próxima terça-feira, o Brasil vai pegar a Áustria, na casa dos rivais. O confronto será transmitido ao vivo pela TV Globo, Sportv e GloboEsporte.com. O site também acompanha a partida em Tempo Real.