O ano era 2013. O jogo, um tenso clássico entre Real Madrid e Atlético de Madrid. Diego Costa e Pepe passaram o duelo inteiro se
estranhando e saíram de campo irritados. O zagueiro do Real ligou para
Edgar Goes - guarde este nome - um amigo promoter, avisando que queria
dar uma passada na discoteca em que ele trabalhava para "tomar umas" e
esfriar a cabeça. Poucos minutos depois, o telefone de Edgar toca de
novo, desta vez com Diego Costa, pedindo a mesma coisa.
-
Na noite o clima estava ruim, um ambiente pesado. O Pepe ficou no
camarote de cima e o Diego no de baixo. Fui até o Pepe e pedi para ele
descer e conversar com o Diego, ficar na paz. Ele disse que tudo bem.
Fui até o Diego e ele também topou - conta o promoter.
Abraçados,
no meio do caminho, em uma das maiores "baladas" de Madri, os dois
brasileiros (Pepe é naturalizado português, e Diego, espanhol) fizeram as pazes, promovida pelo amigo Edgar, que
arrumou naquela noite mais um emprego informal: conciliador de jogador.
Nascido no interior de São Paulo, em uma família humilde, ele saiu da
roça e foi parar em Madri, usando estas mesmas habilidades que o
ajudaram a conciliar dois dos mais temperamentais jogadores do futebol
mundial. O garoto que capinava e entregava gás, e não deu certo como
atleta de futebol, hoje é o principal homem de confiança dos jogadores
brasileiros, e alguns internacionais, na capital da Espanha. E
conquistou tudo com a palavra.
- Avisei para
minha mãe que estava indo fazer uma aventura e conhecer o mundo. Eu
trabalhava montando palco de show em Madri, tinha acabado de chegar da
França onde era padeiro. Em um encontro de brasileiros, com pagodinho
tocando, conheci o Emerson, que tinha acabado de sair do Juventus para
jogar no Real.

A amizade com o ex-volante da
Seleção, criada em 2006, fez com que Emerson "indicasse" Edgar a todos os seus amigos boleiros. Quando o brasileiro começou a
andar rodeado de jogadores de futebol, as casas noturnas começaram a
procurá-lo. Até que conseguiu largar o emprego que tinha, de salva-vidas
em um condomínio, para trabalhar como promoter da Kapital, mesmo lugar
onde Pepe e Diego Costa fizeram as pazes, e onde meses depois o Atlético
de Madrid usou para a festa pelo título do Campeonato Espanhol da última
temporada.
- Eu precisava fazer uma moral com o
pessoal do trabalho e colei no Diego Costa, que era o cara do Atlético.
Pedi para ele me dar força caso fossem campeões. Quando ganharam do
Barcelona já fui para o restaurante onde iam jantar e arrastei todo
mundo para a Kapital. Para mim isso foi muito importante. Consegue
imaginar? - lembra, empolgado.
Há quase uma
década na noite de Madri, Edgar conhece todos os caminhos. Desde o
pagode onde já levou Robinho junto com David Beckham e a esposa
Victoria, aos restaurantes preferidos dos atletas, e às baladas onde
histórias já aconteceram que ele não pode nem contar. Nas festas que
organiza, Goes sempre avisa na entrada a todos: celulares desligados -
para evitar problemas que já teve. O promoter é sagaz:
-
Eu nunca me deixei levar por essa vida. Meu trabalho sempre vem em
primeiro lugar. Eu brinco com eles e digo que ele são ricos, e eu sou
pobre, e eles me respeitam. Mas eu tenho minhas dívidas para pagar e
nunca cobrei um centavo deles.

Ainda assim,
Edgar consegue aproveitar bastante da vida com os jogadores famosos. A
reportagem o acompanhou em uma noite na casa noturna de elite Gabana. Um
atleta chegou a comprar a garrafa de Vodka mais cara da casa, com três
litros, no valor de 800 euros (cerca de R$ 2.400 reais). Depois de
ostentar com os fogos de artifício que precedem a entrega da bebida, no
camarote, o jogador tomou apenas um drink e deixou a casa noturna,
presenteando o promoter com garrafa. O brasileiro conta que já se
beneficiou em outras ocasiões.
- Muita mulher
linda e maravilhosa já se aproximou de mim para chegar neles. São tantas
que na época de solteiro até sobrava umas coisas para mim. Eu não
ganhava comissão em dinheiro, mas minha parte vinha em outras coisas... -
brinca.
Edgar leva a vida que sonhou quando saiu do
Brasil, talvez até melhor. "Rei do camarote", amigo de todos na noite
de Madri e com uma vida estável, agora ele pensa em se aposentar das
casas noturnas. A próxima meta é abrir sua empresa, e ajudar jogadores
de futebol que querem ir para o exterior. Por enquanto ele usa do
conhecimento que tem para seguir sendo o homem de confiança dos boleiros
de Madri. A pedido do Globoesporte.com, o promoter preparou uma rota
com os programas preferidos dos jogadores em uma noite de sábado, para
quem quiser curtir a capital espanhola, e quem sabe trombar com um dos
atletas.
