20/01/2015 06h40 - Atualizado em 20/01/2015 06h40

Previsões para economia pioram mesmo com nova equipe de Dilma

Estimativa dos analistas de alta do PIB tem caído desde o fim de novembro.
Mercado não estima de meta fiscal atingida em 2015 e vê mais inflação.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

Festejada pelo mercado financeiro e pelo setor produtivo, a nova equipe econômica do governo Dilma Rousseff, anunciada há quase dois meses, ainda não havia conseguido reverter, até a semana passada, os elogios em mudança de expectativas sobre os rumos do país.

Os economistas, apontam as pesquisas, ainda não estão convencidos de que o país crescerá mais nos próximos anos, de que a meta de contas públicas será atingida neste ano e de que a inflação convergirá para o centro da meta de inflação até 2018 – fim do atual mandato.

Justamente para aumentar a confiança na economia brasileira nos próximos anos, e melhorar as expectativas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou na noite desta segunda-feira (19) medidas para tentar reequilibrar as contas públicas - que sofreram forte deterioração em 2014 com a erosão do superávit primário, a economia para pagar juros da dívida, e possibilitar uma trajetória de queda.

Ele anunciou alta da tributação sobre combustíveis, importados e sobre o crédito. "As medidas têm por objetivo aumentar a confiança da economia, a disposição das pessoas e dos investidores em tomarem risco, e dos empresários em começarem a tentar novas coisas", explicou Levy na ocasião, acrescentando que as alterações tendem a baixar a curva de juros de longo prazo.


Previsão PIB (Foto: Editoria de Arte/G1)

PIB
De acordo com pesquisa conduzida pelo Banco Central com mais de 100 instituições financeiras, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuou desde o anúncio dos novos integrantes da equipe econômica. Em 27 de novembro, quando a equipe foi anunciada, o mercado esperava alta de 0,78% no PIB deste ano. Na semana passada, essa previsão caiu para 0,38%.


previsão indústria (Foto: Editoria de Arte/G1)

Produção industrial
A mesma pesquisa também aponta piora nas estimativas do mercado financeiro para a indústria brasileira. Quanto a nova equipe foi anunciada, a expectativa dos analistas era de alta de 1,23% na produção neste ano. No último levantamento, feito na semana passada, os economistas já esperavam alta bem mais modesta, de 0,71%.

 

 


Previsão inflação (Foto: Editoria de Arte/G1)

Inflação
Apesar de prever uma taxa maior de juros em 2015 e 2016, a expectativa dos analistas das instituições financeiras para a inflação para este ano subiu de 6,47% para 6,67% nesta comparação, e ficou estável para o período de 2016 a 2017, recuando um pouco somente em – ainda assim acima de 5,2% (ainda distante do centro da meta de 4,5%).

 


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Previsão superávit (Foto: Editoria de Arte/G1)

Superávit
Na semana passada, o mercado financeiro ainda não acreditava também que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, responsável pela administração das contas públicas, conseguirá entregar a meta de superávit primário (economia feita para pagar juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) prometida para este ano, equivalente a R$ 66,3 bilhões. No fim de novembro, a previsão do mercado era de que o esforço fiscal somaria 1% do PIB para 2015 – valor que subiu para 1,05% na última sexta-feira (16), ainda abaixo da meta anunciada para este ano.


Previsão balança (Foto: Editoria de Arte/G1)

Setor externo
Para o setor externo, o mercado prevê piora nas estimativas para o saldo balança comercial brasileira – a previsão recuou de superávit de US$ 6,3 bilhões para US$ 5 bilhões –, mas também estima pequena melhora nas previsões para o déficit em transações correntes (balança comercial, serviços e rendas) e nas estimativas para o ingresso de investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira.


Atividade fraca e perspectivas externas ruins
Na avaliação do economista Sidnei Moura Nehme, da NGO Corretora, apesar da sinalização mais "ortodoxa" (uso da política fiscal para ajudar no controle da inflação e menor intervenção do Estado) do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o que melhora o humor do mercado financeiro, há risco de recessão em 2015 e isto impactará a arrecadação do governo.

“O ministro merece confiança, mas há inúmeros obstáculos para que atinja seus propósitos e anseios, na própria economia e seu estado deteriorado atual, assim como politicamente com uma base de apoio bastante fragmentada, o que tira a convicção de apoio irrestrito a tudo que pretenda realizar”, avaliou Nehme.

Para ele, as economias mundiais, com exceção da norte-americana – que emite sinais de recuperação – estão com "perspectivas desalentadoras". "Não podemos e não devemos perder o foco de que o Brasil está entre as mais frágeis, tendo como causas o equívoco que o levou a adotar políticas absolutamente erráticas. Temos muito a fazer desafiadoramente para repor o país 'nos trilhos'. Os nomes [da nova equipe] inspiram confiança, mas credibilidade dependerá dos resultados futuros e não dos anseios presentes", acrescentou o economista da NGO.

Contas públicas frágeis
Patrícia Pereira, da Mongeral Aegon Investimentos, avaliou, na semana passada, que as expectativas não melhoram porque a situação econômica, principalmente na parte relacionada com as contas públicas, atualmente é bem ruim.

"É necessário um dever de casa bastante forte que vai muito além das declarações que vêm sendo dadas pela equipe nova. Como todo o mercado sabe, essas medidas dependem que o governo comece a produzir os [resultados] primários [economia para pagar juros da dívida], e isso só vai ser feito com corte de despesas e aumento de receita", afirmou ela.

"O peso das expectativas é muito importante. Se o empresário e investidor acham que o governo está comprometido e expectativa é boa, e a inflação volta a valores mais próximos da meta, volta a investir. É cíclico. Se o empresariado não acredita, ele não investe. Se o consumidor não confia que o país vai para frente e que seu emprego será mantido, ele não compra", explicou Patrícia.

Segundo a economista, mesmo com o corte de despesas, o que ajuda na política de controle da inflação, os preços ainda vão continuar pressionados neste ano. "A inflação desse ano vai ser alta e próxima do teto da meta. Tem muito aumento represado, como ônibus urbano e energia", declarou.

Além disso, acrescentou Patrícia Pereira, nas contas públicas, a meta de 1,2% do PIB de superávit primário fixada para o setor público em 2015 é "bastante audaciosa". "Não é uma medida fácil, principalmente no estágio em que está hoje em dia [o resultado fiscal]. Talvez por isso o mercado não tenha ajustado para 1,2% do PIB [sua previsão para este ano]. O outro motivo é que o Congresso tem que avalizar [as medidas que limitam benefícios sociais]. É um custo político muito grande", explicou ela na última semana, antes do anúncio de tributos sobre combustíveis, crédito e importados.

Estagnação econômica
De acordo com o diretor-presidente da Fractal, Celso Grisi, os números mais recentes do desempenho da indústria e do comércio varejista, além da "prévia do PIB" divulgada pelo Banco Central, mostram uma situação de estagnação na economia brasileira. "Os dados empíricos não têm ainda dado aos investidores e analistas a certeza de que é possível alcançar um crescimento prometido pelo ministro Joaquim Levy [da Fazenda]", afirmou ele.

Segundo o analista, porém, as taxas de juros de longo prazo já começaram a cair. "No mercado financeiro e de capitais, se começa a acreditar na possibilidade de um ajuste fiscal e de um ajuste na política salarial que venham a ser moderados e que esses ajustes não produzirão uma recessão tão forte", disse.

Grisi observou que há uma "dúvida forte" se o Congresso aprovará as medidas que limitam o seguro-desemprego e as pensões, por exemplo, pois são "impopulares", e que o cenário externo ainda não está contribuindo para uma expansão maior das exportações brasileiras.

Ele explicou que, para haver um convencimento maior dos investidores de que a economia vai melhorar, a demanda tem de começar a se refazer, o emprego "não pode sofrer tanto" e tem de haver uma convicção de que consumo, mesmo baixo, não terá queda. "Aí sim teremos a confiança restabelecida e afastaremos todas incertezas que acabam produzindo um empresário ainda arredio, ainda mostrando uma certa incredulidade", concluiu Grisi.

O que diz Levy (Foto: G1)

De acordo com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o objetivo da equipe econômica é trabalhar para garantir as condições para a retomada da economia e para voltar a gerar empregos em uma quantidade adequada.

Ele reafirmou, durante café da manhã com jornalistas na semana passada, que haverá ajuste nas contas públicas, com alta de impostos e contenção de gastos, para buscar a queda da dívida pública nos próximos anos e uma melhora na nota brasileira pelas agências de classificação de risco.

Segundo Levy, o governo precisa “acertar alguns os ponteiros para o investimento voltar, para a confiança, para as pessoas quererem tomar risco nas empresas". "Eu acho que o entendimento disso está bastante claro. Acho que as pessoas percebem a necessidade”, declarou nesta semana.

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