Não é só a tabela de classificação do Brasileiro que opõe as diferenças
entre São Paulo e Palmeiras, rivais no clássico deste domingo, às 19h30, no
Morumbi. O Tricolor (segundo colocado), na briga pelo título, aposta em nomes
de peso para seguir fazendo sucesso: Kaká, Paulo Henrique Ganso, Luis Fabiano e
Alan Kardec, ex-Palmeiras. Em contrapartida, o clube famoso pela estrutura do CT
das categorias de base, em Cotia, não aproveita tanto os garotos que forma. Filosofia oposta à do Verdão. Por necessidade, o Alviverde passou a
investir forte nas revelações e agora vê a espinha dorsal da equipe de Dorival
Júnior formada por garotos nascidos na Academia de Futebol.
Do provável time palmeirense para o Choque-Rei, três são garotos revelados
no Verdão: o lateral-direito João Pedro (que completa 18 anos neste sábado), o zagueiro Nathan (19) e o volante e também
lateral-esquerdo Victor Luis (21). Motivo de orgulho para o presidente Paulo Nobre.
- O (Erasmo) Damiani (gerente da base) foi contratado e colocou uma metodologia.
Houve uma limpa total na base. Os que se encaixam na nova filosofia
permaneceram. Os diretores estatutários são muito dedicados. O fruto, que
normalmente começa a aparecer a médio prazo, veio a curto prazo. Mas temos de
saber valorizar: muitos desses jogadores, não todos, mas alguns apareceram em
gestões anteriores. Se não concordávamos com a metodologia de antes, tanto é
que trocamos, não significa que tudo o que foi feito era ruim. Tanto que o
resultado está aparecendo com jogadores que estavam na base há muito tempo - diz Paulo Nobre.
Mesmo com a pressão da briga contra o rebaixamento, Dorival segue apostando
nos garotos e aprova o desempenho deles nas partidas do time.
- Há um amadurecimento natural. Os jogadores estão dando uma boa resposta. A
preparação é necessária, mas isso é fruto do excelente trabalho das categorias
de base do Palmeiras. É por isso que os garotos estão aparecendo. Para nós cabe
dar a oportunidade e sustentar essa condição - disse Dorival.
Ainda que no passado jogadores nascidos em Cotia tenham rendido fortunas ao
São Paulo, como Lucas (R$ 103 milhões), Breno (R$ 50 milhões), Casemiro (R$ 19
milhões) e Oscar (R$ 17 milhões), poucos são aproveitados atualmente. Do time
profissional que treina na Barra Funda, sete jogadores vieram de lá: o lateral
Auro, o zagueiro Lucão, o volante Rodrigo Caio, o meia Boschilia, além dos
atacantes Ademilson e Ewandro. O meia Matheus Caldeira e o atacante Joanderson
chegaram a ser inscritos na Copa Sul-Americana, mas não foram utilizados.
Dos citados acima, pode-se dizer que o único que teve sucesso com Muricy foi
Rodrigo Caio, que se recupera de grave lesão no joelho e só volta no ano que
vem. Boschilia é utilizado de vez em quando, assim como Ewandro. Auro ganhou
uma sequência como titular, mas logo caiu em desgraça com o treinador por ser
ofensivo demais e causar problemas ao sistema de marcação, como deixou claro o
técnico em recente entrevista coletiva. Hoje, quem tem mais moral com o treinador é
Lucão, que está sendo preparado para 2015, já que sofreu uma fratura no pé e também só volta a jogar no ano que vem.
- Eu trabalho com números. Quando ele (Auro) estava jogando, tomamos 11 gols
em quatro partidas. Nos quatro jogos seguintes, sem ele, tomamos apenas um gol.
Aqui ninguém está de brincadeira . Eu sempre trabalho no que é melhor para o
clube - disse Muricy, justificando a saída do jovem lateral-direito do time.
Fora das quatro linhas, a base é motivo de muita polêmica no clube do
Morumbi. Irritado com o modelo de gestão imposto por Juvenal Juvêncio, Carlos
Miguel Aidar resolveu radicalizar: demitiu o ex-presidente e, com ele, mandou
embora José Geraldo de Almeida e Marcos Tadeu, que eram os responsáveis pelo
futebol amador. Um profissional remunerado (Júnior Chávare) foi contratado, o
que agradou ao técnico Muricy Ramalho, que bateu duro nos antigos mandatários.
- Conheço o trabalho de base do São Paulo porque trabalhei lá antes de
chegar ao profissional. Falei tudo que penso. É preciso, primeiro, que se crie
uma integração. Até hoje, existe um São Paulo na Barra Funda (onde fica o CT do
time principal) e outro São Paulo em Cotia (da base). Agora, fui convidado para
fazer parte dessa integração e estou animado para trabalhar. Aquilo lá é
gigante, precisa dar jogador a toda hora. Infelizmente, tinha um dono lá que
atrapalhava muito - afirmou o treinador.
Clássico na base
Os times sub-17 de Palmeiras e São Paulo se enfrentam neste sábado, às 11h, no estádio da Rua Javari, por uma vaga na decisão do Campeonato Paulista da categoria. No primeiro jogo, em Cotia, o Verdão venceu por 2 a 1, com dois gols de Gabriel Fernando, que tem 34 na competição, 15 a mais que Nego, do Independente, e Claudinho, do Santos, os vice-artilheiros. Como fez melhor campanha na primeira fase, o Palmeiras pode até perder por um gol de diferença para se classificar.