Política Eleições 2014

Aécio: fé na ‘onda final’ para bater o PT

Tucano ampliou alianças, buscou encarnar o movimento de mudanças, mas viu sua rejeição crescer, após fogo cerrado petista

Aecio votou, neste domingo, em Belo Horizonte
Foto: Eugenio Savio / AP
Aecio votou, neste domingo, em Belo Horizonte Foto: Eugenio Savio / AP

BRASÍLIA - Na manhã de domingo do último dia 5, quando chegava para votar no primeiro turno no Colégio Estadual Central, o candidato Aécio Neves, brincou sobre o evidente erro das pesquisas que o colocaram fora do páreo e disse que não era zebra nem azarão, mas um brasileiro determinado que chegava ao segundo turno com boas chances de acabar com o jejum de 12 anos do PSDB fora do poder. À noite, com as urnas abertas e uma votação surpreendente, disse que estava preparado para enfrentar a pancadaria da turma da presidente Dilma Rousseff, que já tinha abatido Eduardo Campos e sua sucessora, Marina Silva.

Com uma campanha que encarnou o anti-petismo, entusiasmou uma parcela da sociedade, mobilizou apoios do meio artístico, religioso, esportivo a todos os campos políticos, Aécio chega hoje ao embate final no limite da exaustão física e emocional, mas, como no primeiro turno, acreditando na virada da onda da razão e prometendo “libertar” o Brasil do PT e da rota do autoritarismo. Num dos pronunciamentos mais fortes essa semana na TV, para rebater a campanha que chamou de “sórdida”, “torpe” , “covarde”, “a mais baixa da história política brasileira”, Aécio disse que os brasileiros vão votar hoje com medo, mas que ele não tem medo do PT.

— O Brasil que vai nascer das urnas não pode ser um Brasil nascido do terrorismo e do medo, da chantagem e do ódio, da mentira. Não merecemos isso. Queremos libertar o Brasil do medo. O que vamos escolher não é apenas o novo presidente, mas um novo país — disse.

Diante da pancadaria petista iniciada ainda na primeira semana do segundo turno, a campanha tucana se dividiu. Alguns queriam que Aécio respondesse cada acusação com outra denúncia. Mas de olho nos indecisos e na máxima do publicitário Duda Mendonça de que, “quem bate perde”, Aécio relutou até o fim a partir para o confronto. Era escudado por Andreia Neves, irmã e mais fiel conselheira na área de comunicação, e optou inicialmente pela linha de responder a cada ataque com uma proposta.


Marina Silva vai pedir votos para Aécio em um programa eleitoral de TV, que começa a ser veiculado nesta quarta-feira
Foto: Marcos Fernandes / Coligação Muda Brasil
Marina Silva vai pedir votos para Aécio em um programa eleitoral de TV, que começa a ser veiculado nesta quarta-feira Foto: Marcos Fernandes / Coligação Muda Brasil

O foco inicial da campanha, antes mesmo do início das propagandas de TV, foi a busca por apoios, especialmente o de Marina Silva, para facilitar a conquista de parte dos 21 milhões de votos que ela recebeu. Aécio ainda precisava se tornar conhecido no país inteiro e começou ainda na noite de domingo do primeito turno as articulações. Ao final da manhã de segunda-feira, ao sair de seu apartamento em Belo Horizonte rumo a São Paulo para a primeira reunião de coordenação, o tucano deu o primeiro sinal para Marina, dizendo que a deixava a vontade para decidir o que fazer, no seu tempo, e que o encontro de programas seria um bom ponto de partida.

Enquanto Marina maturava sua adesão, deixando a campanha tucana apreensiva, Aécio andava pelo país costurando alianças e recebendo apoios de todos os lados. Para marcar a arrancada da campanha do segundo turno com força, foi organizado um ato simbólico no Memorial JK, em Brasília. No palanque lotado de governadores aliados eleitos e disputando o segundo turno, ele comemorou a adesão de dois presidenciáveis derrotados no primeito turno: Eduardo Jorge (PV) e Pastor Everaldo (PSC). Naquele momento, com o palco e o auditório lotados, a euforia era total com as pesquisas mostrando Aécio à frente de Dilma. Ironicamente, o mais realista era Aécio. Antes de ir para o ato, no plenário do Senado, o candidato alertou:

— Eu vou subir muito rápido nesse primeiro momento mas depois vai dar uma acomodada. Espero que não acomode muito — brincou.


Na fábrica. O tucano carregado por trabalhadores da construção civil em SP
Foto: Marcos Alves/7-10-2014
Na fábrica. O tucano carregado por trabalhadores da construção civil em SP Foto: Marcos Alves/7-10-2014

O gol seguinte da campanha foi a declaração de apoio da viúva de Eduardo Campos, Renata, e de seus filhos no primeiro sábado do segundo turno. A adesão de Marina veio no dia seguinte, em São Paulo. De cabelos soltos no lugar do coque característico, uma Marina sorridente comparou a carta de compromissos firmada por Aécio à “Carta aos Brasileiros”, lançada por Lula em 2002.

— Os compromissos explicitados e assinados por Aécio tem como única destinatária a nação e a ela deve ser dada satisfação sobre seu cumprimento — disse Marina.

Enquanto Aécio contabilizava apoios e a campanha ganhava as ruas, na TV a pancadaria comia solta. Nos comerciais da campanha de Dilma, a desconstrução começou em cima de Armínio Fraga, anunciado como ministro da Fazenda no eventual governo de Aécio. Além de espalhar ameaças de arrocho salarial e desemprego, o PT centrou fogo nas declarações dele sobre a necessidade de redução do papel dos bancos públicos. No seio da campanha havia um temor sobre as declarações de Armínio, que não tinha a “expertise” política.

— Ao contrário do que pensávamos, o Armínio não nos prejudicou pelo passado. Foi pelo que disse agora — reconheceu um integrante da campanha.

Os dois primeiros debates, da Band e do SBT, foram marcados pela beligerança, mas a população não gostou. No embate seguinte, na Record, nenhum dos dois atacou e a reação, inclusive da campanha, é que tinha sido morno. Os aliados avaliaram que a trégua não beneficiava Aécio, que ele crescia mais na ofensiva, e não na retaguarda. Só que a campanha de desconstrução de Dilma fez efeito e acabou levando à perda de preciosos pontos.

Com os ataques a Armínio e à gestão de Aécio em Minas Gerais, com o mote “Quem conhece não vota em Aécio”, começou a subir a rejeição de Aécio. Então, o ex-presidente Lula reapareceu tentando colar no tucano a pecha de que ele era agressivo com mulheres. Além de espalharem boatos mas redes, os petistas sacaram o trecho de um debate em que, ao ser confrontado com acusações sobre sua gestão em Minas Gerais, Aécio mostrou irritação e, ao rebater, disse que Dilma mentia e que estava sendo “leviana” — mesmo termo usado no primeiro turno com Luciana Genro. A estratégia colou no voto feminino da classe C.

— Fui alvo de uma onda covarde de falsidades e calúnias. Desrespeitaram não só minha mulher, mas minha filha, minha mãe e todas as mulheres brasileiras — lamentou Aécio , na semana passada.

No meio do bombardeio e vendo sua rejeição aumentar, Aécio e seus aliados contavam os dias e as horas para chegar logo o fim da campanha e a votação do segundo turno. Começou uma tensa contagem regressiva. Aos movimentos de rua e viagens de Aécio cruzando o país, se intensificou também a campanha na internet. O tucano inaugurou uma série de mensagens diárias para serem veiculadas em grupos de WhatsApp e páginas nas redes sociais. A cada dia, na contagem regressiva, pedia apoio, animava a tropa e convocava a todos que buscassem votos.

Com pouco tempo para uma nova virada, a aposta era em uma bala de prata de última hora. A revista Veja, com edição antecipada, trouxe revelações sobre delação premiada do doleiro Alberto Yousseff dizendo que Dilma e Lula sabiam do criminoso esquema de desvio de recursos da Petrobras para abastecer o caixa do PT, PMDB e PP. Ao mesmo tempo, nos dois últimos dias de campanha na TV, o senador eleito Romário e o ídolo da seleção, Neymar, gravaram para a TV um depoimento pedindo voto em Aécio. A última aposta para virar o jogo eram as mobilizações de rua do fim de semana e o bom desempenho do debate da TV Globo.

Aliados dizem que Aécio é um homem que sabe medir muito bem o seu tempo. Sabia que ia subir nas pesquisas, cair e — confiam — ganhar a eleição. Ex-surfista, Aécio chega às urnas precisando que se repita a “onda” final de votos que recebeu no primeiro turno para, exatos 30 anos depois do avô Tancredo Neves, ser eleito presidente da República. E então, em 1º de janeiro, concluir a subida na rampa do Palácio do Planalto que destino não permitiu ao patriarca fazer.