Uma pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) revelou que a água usada por produtores rurais do quinto distrito, em São João da Barra, no Norte Fluminense, está com teores de sal acima do recomendado. O problema, segundo a pesquisa, seria causado pelas obras do Porto do Açu.
Produtores rurais da região já contabilizam prejuízos na colheita e nesta terça-feira (18) interditaram a RJ-224 em protesto. Eles perceberam que a plantação não se desenvolvia e alguns chegaram a perder toda a lavoura. Os produtores então resolveram pedir ajuda aos pesquisadores da Uenf, que começaram a investigar a água. O problema teria começado durante as obras de drenagem no Porto do Açu.
Segundo o biólogo Carlos Eduardo Rezende, a suspeita é que a areia dragada do mar e depositada às margens de uma lagoa tenha provocado o aumento da salinização das águas. Com o avanço das obras no porto, a quantidade de material retirado do mar aumenta ainda mais e com isso poços artesianos e lagoas da zona rural estão com altos índices de salinidade.
Ainda segundo o biólogo, a consequência da salinização pode ser problemas nos rins e ainda mais prejuízos em relação à colheita
Segundo a Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae), responsável pelo abastecimento em São João da Barra, a água com altos teores de sal vem de poços artesianos superficiais. A empresa garantiu que só trabalha com poços profundos, e que estes estão com a qualidade garantida.
A equipe do G1 procurou a Prefeitura de São João da Barra, mas até às 17h06 não conseguiu uma resposta.
Empresa LLX se posiciona sobre salinização da região
(Foto: Divulgação/LLX)
Através de nota, a LLX esclareceu que, "conforme estudos e pesquisas acadêmicas já realizados, a presença de salinidade nas águas subterrâneas e superficiais do Açu decorre da própria estrutura geológica da região, formada a partir do processo histórico de avanço e recuo do mar. As Lagoas de Grussaí, de Iquipari e Salgada, bem como o Canal Quitingute, são caracterizados como de água doce à salgada."
Também segundo a empresa, os estudos sobre os níveis de salinidade realizados pela LLX não são avaliados a partir de um dado pontual, e sim por meio de monitoramento periódico em mais de 40 pontos (águas subterrâneas, lagoas e canais) situados na área de influência do Complexo Industrial do Superporto do Açu. Os resultados são enviados aos órgãos ambientais competentes, na forma determinada pelo Instituto Estadual de Ambiente (INEA).
A LLX possui convênio com a FAPUR (Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica) da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) para apoio às atividades agrícolas da região do Açu, no qual é realizado o constante monitoramento das águas do Canal Quitingute e do Canal Andrezza, utilizadas para irrigação de atividades agrícolas no Açu. Os resultados demonstram que a água utilizada para irrigação nos cultivos monitorados na região desde 2007 não sofreu alterações decorrentes das obras de implantação dos empreendimentos.
MPF instaura inquérito para apurar impacto ambiental
O Ministério Público Federal (MPF) em Campos dos Goytacazes (RJ) instaurou inquérito civil público para verificar eventual salinização do canal do Quitingute, em São João da Barra, no Norte Fluminense. O inquérito foi instaurado após o MPF receber uma representação que noticiava a existência de impacto de grande alcance gerado pelas obras de construção do Complexo Logístico Portuário do Açu.
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