Política

Em debate do Rio, candidatos atingem presidente Dilma

Garotinho, Crivella e Lindbergh acabaram lançando fogo amigo à petista e aliada ao atacarem Pezão

Debate dos candidatos ao governo do Rio
Foto: Agência O Globo
Debate dos candidatos ao governo do Rio Foto: Agência O Globo

RIO — Três dos cinco candidatos ao governo do Rio que participaram nesta sexta-feira do debate da Rede Record e que fazem parte da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT) acabaram, ao tentar alvejar os adversários, acertando a artilharia no governo federal. Anthony Garotinho (PR), Marcelo Crivella (PRB) e Lindbergh Farias (PT) apoiam a presidente e, inclusive, já fizeram campanha com ela ao lado, no estado. Logo no primeiro bloco, Garotinho lembrou as demissões de ministros por supostos esquemas de corrupção. No segundo bloco, Crivella citou as denúncias na Petrobras. No terceiro bloco, o “fogo-amigo” veio do petista Lindbergh que defendeu o fim da aliança de seu partido com o PMDB em todas as esferas. Luiz Fernando Pezão (PMDB), também aliado de Dilma, foi alvo prioritário dos ataques.

Líder na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira , o candidato à reeleição ao governo do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), foi o principal alvo dos adversários no primeiro, terceiro e quarto blocos do debate da Rede Record. Ele foi criticado pelo preço da tarifa dos ônibus no estado e a continuidade do secretário de Transportes Julio Lopes, o financiamento de sua campanha eleitoral, o desempenho de seu governo na área da educação e o crescimento das milícias no estado. Participaram do evento os cinco candidatos fluminense com representatividade no Congresso Nacional.

Questionado por Lindbergh Farias sobre segurança pública, o ex-governador Anthony Garotinho foi incisivo sobre o crescimento das milícias no estado. Garotinho ironizou o candidato do governo, dizendo que “quem entende muito bem de milícia é o Pezão”.

— No debate passado, eu apresentei uma foto do Cabral, seu padrinho político, abraçado com milicianos de Campo Grande — alfinetou o candidato do PR, que salientou que todas as medidas feitas pelo seu governo foram abandonadas pela administração do PMDB.

— Nós vamos reestruturar a segurança pública no estado. Não vamos acabar com as UPPs, como o PMDB vem espalhando aí — disse ele.

Candidato do PSOL, Tarcísio Motta criticou os financiadores da campanha de Pezão. O governador respondeu:

— Tenho um comitê financeiro que recebe doações e presta contas. Todas as doações estão no site do TSE. Se o senhor teve essa mesma vontade de saber e querer saber os fornecedores é só ir no nosso site e ver que tem lá. São doadores que acreditam no futuro do estado do Rio. Está disponível para o senhor e para todos os eleitores — disse Pezão.


Graças a Deus me livrei de Pezão, (Jorge) Picciani, Paulo Melo e a quadrilha do PMDB
Foto: Agência O Globo
Graças a Deus me livrei de Pezão, (Jorge) Picciani, Paulo Melo e a quadrilha do PMDB Foto: Agência O Globo

Na primeira pergunta que fez durante o debate, dirigida a Tarcísio, Anthony Garotinho (PR) disse que o preço da tarifa do ônibus está superfaturada de 20% a 40%.

— Estamos diante do caos na mobilidade em que o direito de vir e vir é negado de diversas formas. Um deles é o alto custo das tarifas. Temos nas barcas a segunda maior tarifa do mundo. O governo Cabral sempre se rendeu ao interesse das empreiteiras. Defendemos a tarifa zero. — disse Tarcísio.

Na defensiva, Pezão exaltou suas realizações como a construção do Arco Metropolitano:

— Me orgulho muito de ter tirado o Arco Metropolitano do papel, obra que era pra ter sido feita desde 1971. O licenciamento demorou, mas eu e a presidente Dilma conseguimos entregar esse sonho.

Mesmo assim, Marcelo Crivella (PRB) o respondeu, dizendo que “não dá para ter euforia sobre a economia do Rio de Janeiro”.

Como tem feito durante sua campanha, Lindbergh prometeu o Ciep do século XXI:

— Tenho falado de resgatar os Cieps, escola de horário integral, ensino técnico. Só 3% das escolas têm ensino técnico. Dá para chegar a 30%. O estado tem que trabalhar junto com as prefeituras. Tem um projeto que começou em Sobral, que é a alfabetização na idade certa.

MAIS ATAQUES

No segundo bloco, os candidatos responderam a perguntas de telespectadores, o que reduziu o confronto entre os postulantes ao Palácio Guanabara. Já no terceiro bloco, os candidatos voltaram a fazer acusações criticar o governo de Pezão.

Crivella e Garotinho, por exemplo, juntaram-se para falar sobre a saúde no estado do Rio. Crivella disse que o estado do Rio gastou apenas 7% do orçamento em saúde, e criticou a espera para a operação dos pacientes. Quando perguntado sobre o que faria na área, Garotinho respondeu.

— Estive visitando o Hospital da Posse. Chamar aquilo de hospital não dá. É um matadouro (...) O que vou fazer: vou assumir para o estado esses hospitais: Hospital da Posse, Hospital de Mesquita. Hoje em dia, o dinheiro da saúde está sendo gasto com Organizações Sociais. Com os amigos empresários — disse Garotinho.

Lindbergh, por sua vez, perguntou a Crivella sobre denúncia da revista “Veja”, que aponta que um sócio do presidente da Alerj, Paulo Mello, e o presidente regional do PMDB Jorge Picciani, tem contratos milionários com o Governo do Estado. Segundo a matéria, Mario Peixoto e suas empresas têm R$ 480 milhões em contratos, alguns sem licitação e quase todos com aditivos (70%).

— Li a reportagem, é um escândalo. Presidente do partido envolvido com empreiteiras, contratos do governo do estado — disse o candidato do PRB, que completou: — Não confie na propaganda. O governo Cabral/Pezão investiu 300 milhões em propaganda. É imperdoável. Hoje essas pessoas estão à morte (na área da saúde) porque faltam recursos para investir.

— Não tem como continuar com esse pessoal que está aí — concordou Lindbergh.

CRÍTICAS E ANTIGAS ALIANÇAS

Durante o quarto bloco, Lindbergh questionou o Garotinho sobre a sua relação com Pezão, que foi secretário durante o seu governo.

— O senhor que indicou ele para ser vice de Sérgio Cabral. Como você avalia essa gestão? — questionou o petista.

O ex-governador respondeu a questão afirmando que o “o passado pertence ao passado”, e aproveitou para alfinetar seus ex-aliados:

— Graças a Deus me livrei de Pezão, (Jorge) Picciani, Paulo Melo e a quadrilha do PMDB. Pessoas que colocam os seus interesses pessoas acima dos interesses do povo. Quando eu confiei no Pezão, ele era uma pessoa humilde. Agora ele é uma pessoa vocacionada a ajudar a povo, e não era envolvido com essa corja. Eu quero acabar com essa taxa do IPVA. Eles estão comandados pela máfia dos ônibus. Pezão é passado.

O candidato do PR também aproveitou para criticar o petista:

— Lamento a falta de memória de Lindbergh. Quem estava ao lado do meu governo era o PT. Eu fui eleita com Benedita da Silva — disse Garotinho.

Antes disso, Tarcísio Motta abriu o bloco questionando Pezão sobre a manutenção do secretário Julio Lopes nos transportes, apesar do pouco investimento. Em vez de responder, o atual governador voltou a citar os feitos dos oito anos de gestão do PMDB, e não comentou sobre a continuidade do secretário.

— Estamos colocando a Linha 3, que vai ligar Niterói a Itaboraí, e deixando projetos prontos, como (as linhas) Gávea/Uruguai, Estácio/Praça XV — respondeu Pezão.

Tarcísio retrucou:

— Vocês acabaram com o bondinho de Santa Teresa, o Julio Lopes foi o secretário que acabou com as barcas noturnas. Não adianta falar do que será feito.

Garotinho ainda criticou, quando questionado pelo candidato do PSOL, sobre a falta do investimento em casas populares, e aproveitou para falar dos conjuntos construídos em sua gestão.

Pezão questionou Crivella sobre os investimentos em cultura para a Baixada Fluminense. O senador respondeu atacando o peemedebista, afirmando que “depois de oito anos de governo”, pouco foi feito pela região. Crivella afirmou que dos 100 mil empregos gerados recentemente, somente 2.500 foram para a Baixada Fluminense.

— O secretário de obras atrasou cinco (a construção) do Arco Metropolitano. Era para estar pronto desde 2009 e só ficou pronto em 2014. A população da baixada não aguenta mais. O governo, no final, prometeu fazer um parque, mas isso não paga os pecados — atacou Crivella, que, na tréplica, atacou a falta de água tratada para a região

Na pergunta de Crivella a Lindbergh sobre mortalidade materna, o senador petista limitou-se a dizer sobre o tema que o Rio é o segundo pior estado do país no quesito, perdendo somente para o Piauí. Depois, os dois candidatos aproveitam a réplica e tréplica para atacar a atual administração.

LINDBERGH DEFENDE SECRETÁRIO DE CABRAL

Crítico do governo Sérgio Cabral, Lindbergh Farias foi questionado por Tarcísio Motta sobre o desempenho do secretário de Meio Ambiente na gestão de Cabral, o petista Carlos Minc. Lindbergh disse que especialistas na área ambiental “sabem dos avanços” de sua gestão, e ressaltou que já queria há tempos deixar o governo do PMDB.

— Você sabe que estamos há muito tempo para sair do governo. Dilma está abrindo os cofres para ajudar o desenvolvimento do Rio de Janeiro (...) Em relação à secretaria de Meio Ambiente, temos o Carlos Minc, que fez um bom trabalho. Mas não é por isso que nós não iríamos lutar para sair do governo — disse ele.

PEZÃO PROMETE REABRIR JÚLIO DELAMARE

No quinto bloco, Pezão perguntou a Tarcísio Motta sobre a formação de atletas para as Olimpíadas. O candidato do PSOL disse que o atual governo está despreparado para os grandes eventos.

— Muito curioso, porque a pergunta que iria fazer hoje seria justamente sobre o Maracanã. O absurdo que fizeram no Maracanã, com o Júlio Delamare. Quem fez o Maracanã? Foi Odebrecht, que agora deu milhões para a campanha de Pezão — disse o candidato do PSOL.

Pezão respondeu:

— Vou fazer um programa de formação de atletas como eu fiz em Piraí — disse ele, que completou: — Vou abrir o Julio Delamare.

Ainda no quinto bloco, Garotinho disse que vai mudar a escala de trabalho dos policiais: “24h de trabalho, 72h de descanso”. Ele defendeu ainda uma PEC 300 estadual, um piso salarial para os policiais. Crivella também fez promessas à categoria:

— É importante que eles tenham pelo menos o ticket refeição. É preciso ter um Minha Casa Minha Vida para os policiais — disse o candidato do PRB.

No mesmo bloco, quando o assunto foi a saúde, Pezão defendeu o modelo das OSs. Ele foi perguntado por Lindbergh sobre a falta de um plano de carreira para o servidor, e a ausência de concursos públicos.

— As OSs estão permitindo que médicos como Paulo Niemayer operarem na rede do estado. As OSs fazem com que possamos ter neurocirurgiões para atender as pessoas. Estão permitindo com que quatro carretas possam fazer mamografia. Com elas podemos reforçar as UPAs. Aliás, as OSs são o que a presidenta Dilma quer fazer com o ministro Chioro — defendeu Pezão.

BLOCO MORNO

No segundo bloco, Lindbergh foi questionado sobre o legado das Olimpíadas de 2016. O petista disse que é preciso “olhar como todo o estado do Rio de Janeiro” para que todos aproveitem deste legado.

Marcelo Crivella foi questionado sobre a segurança pública, e lembrou que a UPP é uma “conquista” do Rio, e que não pode admitir que o povo viva em comunidades “dominadas por bandidos”. Para o candidato do PRB, o governo precisa dar o bom exemplo:

— Um governo precisa ter mãos limpas, senão suja tudo. O Maracanã custou o dobro, polícia vira milícia. Se não tiver (mãos limpas), suja tudo. Se seus auxiliares saem diretos em fotos de festas com guardanapos na cabeça. O fundamental na questão da segurança é a gente arrumar o estado de cima para baixo. De baixo para cima a gente não consegue.

Pezão foi questionado por um eleitor da Baixada Fluminense sobre a falta de remédios na Farmácia Popular. Pezão disse que vai implementar um projeto similar ao que levou a Piraí quando era prefeito. O peemedebista prometeu reforçar a parceria com o governo federal para melhorar a utilização dos hospitais federais, e reforçar programas como o Mais Médicos e as Clínicas da Família.

Garotinho foi questionado sobre as propostas para a educação, principalmente sobre a implementação do horário integral. O ex-governador evitou falar sobre o tema, e preferiu atacar a gestão de Pezão e Cabral.

— Esse governo atual reduziu as coordenadorias de educação. Vamos dar o plano de cargos e salários que eles (do PMDB) não deram. Prometeram, enganaram nossa população. Vamos fazer com que nossas escolas abram nos finais de semana para fazer o projeto “Escola de Pais”, para integrar toda a comunidade, onde se possa praticar arte, cultura, esporte.

Tarcísio encerrou o bloco ao comentar sobre o transporte no estado. Ao ser questionado sobre as melhorias para a Baixada Fluminense, Tarcísio falou em melhorar serviço de trens, principalmente para a Baixada. O candidato ainda defendeu mais investimento no transporte de massa, além de pensar em alternativas para o transporte alternativo. Tarcísio também falou em investir no transporte para a Região dos Lagos.

— Podemos aproveitar os trens regionais, que foram sucateados ao longo dos anos.

Nas considerações finais, os postulantes ao Palácio Guanabara aproveitaram para pedir votos.

EMBATE E CRÍTICAS NA PORTARIA DA EMISSORA

O embate entre os postulantes ao Palácio Guanabara começou logo na entrada para o debate. Lindbergh, o terceiro a chegar no local, depois de Tarcísio e Crivella (PRB), se disse “chocado” com a notícia de que o enteado do candidato do PMDB, Fernando Pezão, teria prestado serviços para a construtora Delta, envolvida em escândalos de corrupção durante o governo Sérgio Cabral, antecessor do peemedebista.

— Eu chego aqui chocado com o que vi. O enteado do candidato Pezão foi advogado da empresa Delta, responsável por enormes desvios de dinheiro público do estado do Rio de Janeiro. O candidato Pezão vai ter que responder sobre isso. Para mim isso é seríssimo — disse Lindbergh.

Pezão foi o último a chegar e afirmou que não vê nenhum problema nos serviços prestados por seu enteado a essas empresas.

— Ele tinha um contrato em 2010 e 2011 e prestava serviço na área trabalhista em um escritório no sul do estado. Essas empresas têm serviços quando ganham obras nessa região ou que prestam serviço como a Light. Mas faz dois anos, há três anos, em algumas empresas, que ele não presta serviço.

Pezão também comentou seu crescimento nas pesquisas. Ele disse que o momento não é para euforia, apesar de ter aberto uma vantagem de oito pontos em relação ao candidato do PR, e considerar a próxima semana como a que “vale”.

— Quando eu tinha 4% nas pesquisas eu não ficava triste, então não vou ficar eufórico agora, porque a pesquisa é um retrato de um momento. Essa é uma semana de muito trabalho. Sábado é o dia que eu mais tenho para trabalhar. Fico feliz de o povo estar observando essa nossa candidatura, mas com muito pé no chão, com muita tranquilidade. Não é hora de soltar foguete.

Garotinho e Crivella entraram na emissora sem conversar com a imprensa.

PEZÃO ESTAVA FEBRIL EM DEBATE


Ar condicionado ligado em alta potência incomodou principalmente a Pezão, que estava com febre, segundo comentou Crivella
Foto: Agência O Globo
Ar condicionado ligado em alta potência incomodou principalmente a Pezão, que estava com febre, segundo comentou Crivella Foto: Agência O Globo

Duas horas antes do início do debate, cabos eleitorais de Pezão, Garotinho e Lindbergh esquentavam o clima em frente à sede da emissora com faixas, bandeiras e caixas de som. Dentro do estúdio, o ar condicionado ligado em alta potência incomodava principalmente a Pezão, que estava com febre, segundo comentou Crivella logo no primeiro intervalo. Os dois estavam lado a lado na bancada.

Sempre que não estava sendo focalizado pelas câmeras, Pezão cruzava os braços ou esfregava as mãos, nitidamente incomodado com o frio. Ele chegou a tossir algumas vezes e, no fim do primeiro bloco, chegou a ter uma preocupação entre assessores de que ele estivesse passando mal.

O candidato do PMDB bebeu dois copos d’água no intervalo e mostrou-se um pouco mais bem disposto, tranquilizando a produção do debate.

Por mais de uma vez, quando outros candidatos falavam, Garotinho, que estava do outro lado de Crivella, olhava fixamente para Pezão, mas não teve o olhar correspondido em nenhum momento. Na outra metade da bancada, eram só dois candidatos, e Lindbergh e Tarcísio tinham mais espaço. O candidato do PSOL arrancou alguns risos da plateia quando fez graça, logo em sua primeira pergunta, ao chamar Pezão pelo nome de seu antecessor, Sérgio Cabral.