Economia Imóveis

Energia elétrica produzida em casa

Confira se vale a pena investir num sistema de microgeração solar

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RIO - Só este ano, as tarifas de energia elétrica já subiram, em média, 18%. E com a estiagem e o aumento do custo das térmicas, a previsão de analistas é que, em 2015, esses preços subam outros 20%. Mas, para 255 brasileiros, essa já não é uma grande preocupação. Eles instalaram em suas casas microusinas de geração de energia e vêm sentindo, no bolso, a economia.

INFOGRÁFICO: VEJA O PASSO A PASSO PARA GERAR ENERGIA EM CASA

A arquiteta Isabelle de Loys, que mora no Recreio, foi uma das primeiras a ter o sistema, que capta energia solar e a transforma em elétrica, cadastrado na Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel. E não se arrepende. Hoje, ela paga cerca de R$ 47 mensais à Light, menos R$ 100 do que costumava gastar antes de ter sua própria rede ligada à da concessionária. Isso numa casa de 120 metros quadrados, onde moram duas pessoas, mas que funciona também como seu escritório de arquitetura.

— E o custo só não é menor porque existe uma taxa básica, de disponibilidade do sistema, que todos pagamos à concessionária — conta Isabelle, que instalou sete placas fotovoltaicas.

O sistema de microgeração integrado à rede elétrica funciona assim: a radiação solar é captada pelas placas fotovoltaicas que geram a energia em corrente contínua. Essa energia é enviada para um inversor que a transforma em energia alternada e a disponibiliza para consumo imediato. O excedente passa por um relógio de luz, que conta essa sobra. É exatamente isso que garante os créditos que vão reduzir a conta de luz.

— O relógio é o coração desse sistema — diz Hewerton Martins, CEO da Solar Energy, uma das principais empresas que instalam o sistema no país.

O custo não é dos mais baratos. Uma microusina com dez placas e capacidade para gerar cerca de 300kwh por mês — consumo médio de uma família de quatro pessoas — custa cerca de R$ 25 mil. O retorno financeiro leva em torno de dez a 12 anos. Mas, como a vida útil dos equipamentos é de cerca de 25 anos, quem já instalou, garante que vale a pena. Até por nossas condições climáticas, como garante Martins:

— A Alemanha é o país que mais usa energia solar. Mas a Bavaria, região com mais sol no país, tem uma irradiação solar 40% menor que Florianópolis, a com menor incidência de sol por aqui. Não há região no Brasil que não seja propícia a esse sistema.

Antes de decidir investir, contudo, é preciso estar atento a alguns detalhes. Saber exatamente o consumo da família e a área disponível para a instalação das placas é o primeiro deles, já que se não houver espaço para gerar uma grande parte do que se consome, o investimento pode não valer a pena. No geral, o sistema é indicado para consumos a partir dos 300kwh por mês. Outro ponto é o sombreamento dessa área. No Rio, todas as regiões são propícias às placas fotovoltaicas, mas se houver uma árvore fazendo sombra sobre as placas, sua capacidade de gerar energia será reduzida, comprometendo a eficiência do sistema.

A área para a instalação das placas, aliás, é o que dificulta que prédios e condomínios invistam nesse tipo de sistema. Na verdade, alguns até já vêm investindo em redes integradas, mas apenas para abastecer suas áreas comuns. Fazer uma instalação que leve energia para as unidades exigiria uma área banhada pelo sol muito grande, já que cada dez placas ocupam cerca de 17m². Além disso, o custo seria alto demais. Talvez, por isso, muitos condomínios optem pelas placas solares, aquelas usadas apenas para o aquecimento da água — que substituem sistemas a gás, por exemplo — e que têm um custo bem mais em conta: cerca de R$ 5 mil, o equipamento com capacidade para aquecer 400 litros de água e atender a uma família de quatro pessoas.

MODELO DE CRÉDITO GERA POLÊMICA

O Edifício Corpus, em Botafogo, é um dos condomínios que optou por investir num sistema de geração de energia. Ainda assim, apenas para atender a sua parte administrativa, que é responsável por cerca de 6% do consumo da área comum do prédio.

— Queríamos economizar. Mas essa é apenas uma primeira experiência. A intenção é ampliar a geração de energia para o consumo com as bombas de água — conta o síndico Jean Troianelli, que teve sua conta mensal de luz reduzida em mais de 50%. — Isso mostra a viabilidade de um sistema que gera energia limpa a partir de uma fonte gratuita e inesgotável. Se todo mundo fizesse o mesmo, talvez saíssemos da crise.

Troianelli só reclama de uma coisa: a diferença entre o valor da energia que produz e aquela que consome da concessionária. Justamente a questão mais polêmica das redes integradas.

A resolução 482 da Aneel, que em 2012 regulamentou a microgeração de energia no país, estabelece que o crédito excedente gerado deve ser em energia. Ou seja, quem produz 100kwh e usa 50kwh, deveria ter o direito de usar outros 50kwh no momento em que não há produção própria sem pagar nada mais por isso. Mas, na prática, o que a maior parte das concessionárias vem fazendo é transformar o crédito de energia em dinheiro. Como sobre a tarifa incidem impostos como o ICMS, o microgerador acaba “comprando” energia a um preço mais alto.

— Quem investiu para produzir a própria energia tinha que ser incentivado e não taxado — avalia Hewerton Martins, da Solar Energy.

Vale lembrar que redes integradas também podem ser feitas com outros tipos de energia alternativa, como a eólica. E que é possível até fazer sistemas híbridos, que conjuguem energia solar e eólica. A arquiteta Viviane Cunha acabou de instalar um desses para atender à administração do Jardim Botânico:

— Tudo depende da localização e das condições. As pás eólicas dependem do vento, mas já há modelos que funcionam em regiões de vento inconstante como a do Jardim Botânico.

No geral, contudo, seu uso é pouco comum em centros urbanos. Não só pela questão do vento, mas também do ruído, quase sempre muito alto. Tanto que ainda é mais usada em regiões litorâneas. O custo, bem mais alto, é outro impeditivo: gira em torno de R$ 50 mil, com capacidade para gerar 800kwh/mês.