FERGUSON — O procurador-geral Eric Holder desembarcou nesta quarta-feira em Ferguson, no Missouri, e se encontrou com líderes comunitários locais e com o capitão da polícia rodoviária, Ron Johnson, em reuniões separadas, para discutir as tensões vividas na cidade após a morte do adolescente negro desarmado, Michael Brown, por um policial branco na semana passada. As tensões raciais no estado americano elevaram-se novamente na terça-feira à noite após a polícia matar outro jovem afro-americano, enquanto as autoridades tentam conter os protestos. Mais 47 pessoas foram detidas na cidade no 10º dias de distúrbios.
Holder, também um afro-americano, visita a localidade do centro do país a pedido do presidente Barack Obama e deve se encontrar com funcionários do Departamento de Justiça para analisar a investigação federal em andamento sobre o caso.
Mais cedo, o gabinete da promotoria do condado de St. Louis começou a apresentar evidências preliminares sobre a morte de Michael Brown a um júri. Segundo o promotor Bob McCulloch, o procedimento pode demorar cerca de dois meses.
— Nossa data-alvo é até meados de outubro — disse McCulloch em uma entrevista de rádio.
Em frente ao Centro de Justiça, em Clayton, local onde acontece o júri, um grupo de manifestantes se reuniu na manhã desta quarta-feira. Algumas pessoas questionam a imparcialidade de McCulloch no caso.
Na semana passada, ele criticou o governador do Missouri, Jay Nixon, por retirar a polícia local do policiamento dos protestos em Ferguson. Além disso, o promotor é filho de um policial morto durante uma ação por um assaltante negro, e mantém laços estreitos com os departamentos de polícia.
Em sua defesa, McCulloch afirmou que tem “feito um bom trabalho sendo justo e imparcial” em seus 23 anos como promotor.
— Eu quero fazer o meu trabalho — afirmou ele. — A família Brown merece isso. E a comunidade também.
Michael Brown, de 18 anos, foi morto em 9 de agosto, provocando uma onda de protestos e colocando a questão racial no centro do debate dos Estados Unidos. Uma autópsia preliminar encomendada pela família apontou que o adolescente foi baleado seis vezes, sendo duas na cabeça.
NOVA MORTE AUMENTA TENSÃO
Moradores furiosos de um bairro negro em St. Louis, não muito longe de Ferguson, acusaram a polícia de força excessiva após dois policiais dispararem vários tiros contra um jovem de 23 anos, que estaria carregando uma faca e teria apresentado um comportamento suspeito. Sam Dotson, chefe da polícia metropolitana de St Louis, disse que o jovem não obedeceu as ordens para largar a faca quando foi baleado pela polícia. A vítima era bem conhecida na área e foi identificada localmente como Kajieme Powell.
Durante os protestos em Ferguson, a polícia apreendeu três armas dos manifestantes. O capitão Ron Johnson, da patrulha rodoviária, afirmou que os manifestantes jogaram garrafas de água e urina contra a polícia no fim dos protestos, o que obrigou a intervenção policial.
— Temos 47 detidos — afirmou em uma entrevista coletiva.
Johnson insistiu que, ao contrário dos protestos de segunda-feira, os manifestantes não usaram armas de fogo e a polícia não utilizou gás lacrimogêneo.
— Observamos esta noite uma dinâmica diferente — afirmou o capitão.
Registros de prisão obtidos por meios de comunicação locais revelaram que 78 pessoas foram presas em confrontos com manifestantes na noite de domingo e na segunda-feira de manhã, apesar de uma demonstração maciça de força pela polícia e a chegada de unidades da Guarda Nacional, convocadas pelo governador de Missouri.