Willian
José é mais um destes 'ciganos' do futebol. Aos 23 anos de idade, o
brasileiro está em seu sétimo clube, o Real Zaragoza, da Espanha. Com
passagens por times grandes como São Paulo, Grêmio e Santos, ele mesmo
precisa fazer força para se lembrar que ainda tem muito pelo que passar
no esporte.
- O pessoal olha pra mim e pensa
que eu sou velho, por causa dos lugares onde joguei. Mas ainda estou
novo, tenho muito o que aprender ainda.
Com os
direitos atrelados desde 2011 ao Deportivo Maldonado do Uruguai, clube
utilizado por empresários para gerir os direitos de jogadores, Willian
José não conseguiu ainda ter boa sequência e mostrar o mesmo promissor
futebol que o revelou na época de Grêmio Prudente, quando também brilhou
ao lado de jogadores como Neymar e Lucas pela seleção brasileira no
Sul-americano Sub-20 de 2011. Desde então foram anos de pressão por
grandes resultados, não correspondidos. Mas, agora, ele parece, pela
primeira vez, estar mais perto da paz que procura.
Com
curtos contratos por onde passou - no Grêmio e no Santos foram seis
meses - o atacante acredita que lhe faltaram oportunidades. Em sua
última temporada completa no São Paulo, foi embora campeão da
Sul-Americana, e marcou 15 gols no ano. Antes do Real Zaragoza, ele
estava no Real Madrid B, mas com a queda da equipe para a terceira
divisão, teve de deixar o clube, já que o regulamento limita
estrangeiros, e assinar com seu novo time, onde os tempos de
desconfiança e de relação conturbada com a torcida acabaram.
Willian
José virou o camisa 10 do Zaragoza, a pedido da diretoria, que o
contratou com status de craque, e se tornou meia, por uma solicitação do
técnico. As mudanças pesaram no começo, mas hoje ele se diz adaptado.
Há apenas quatro meses na cidade, no interior da Espanha, ele diz se
sentir em casa - embora não saia muito do apartamento que compartilha
com a esposa Ana Carolina, na região central de Zaragoza, a 10 minutos
de caminhada do estádio do time.
Se deixar, o
brasileiro só sai de casa mesmo para ir aos treinos e jogos. E vai a pé,
em um solitário, porém curto trajeto. Vez ou outra Willian é abordado
no meio da rua com pedido de fotos e autógrafos no meio da rua, aos
quais atende com maior orgulho. Sua vida deu uma grande volta e hoje é
bem diferente da que levava no Brasil.
- Aqui é
outra história. Tem cobrança como em todo lugar, mas não é como no
Brasil. Lá eu vejo na televisão tem até agressão de torcedores a
jogadores. Aqui nós chegamos a perder três jogos consecutivos e ficou
tudo tranquilo - compara Willian José, completando ao final que acredita
que a "pegação no pé" só acontecia no Brasil porque todos conheciam seu
potencial para ser melhor.
Das 15 partidas do
Real Zaragoza na Liga Adelante, segunda divisão da Espanha, o novo
camisa 10 do time atuou 12 vezes e marcou dois gols, um de pênalti e um
de falta. Não deu muitas assistências ainda porque, segundo ele mesmo, o
"pessoal da frente está errando muitos gols e não o consagra" ao não
balançar as redes. Mais uma volta da vida - ele que antes recebia estas
bolas, hoje é o encarregado de criar as chances.
A
meta de Willian José é voltar ao Real Madrid, embora admita que um
convite para voltar ao São Paulo, clube do seu coração desde pequeno,
onde atuou por dois anos, possa fazê-lo balançar. No lado pessoal, ele
quer ter um filho com a esposa Ana Carolina, mas só depois de sossegar
em uma cidade no meio de sua vida cigana - o que o atacante acredita que
aconteça ao final da temporada, quando espera, pela primeira vez,
assinar um contrato de longa duração, seja lá com o Real Zaragoza, o
Real Madrid, ou um clube brasileiro.
Até lá,
ele espera desfrutar de sua paz, de sua maneira, com a esposa e de forma
mais reservada, deixando para se soltar mais nas visitas ao Brasil, e
perto de amigos como Aloísio Chulapa, ex-São Paulo, e conterrâneo
alagoano. Em janeiro Willian José foi para casa nas férias e aproveitou
para comparecer na "Festa do Danone", como foi conhecido o aniversário
do ex-jogador.
- Ele bebe muita cerveja, mas
muita. Mas tem que aproveitar mesmo, já parou. Eu até gosto de tomar
umas, mas não como ele. Sou grande fã do Aloísio, contei para ele que
outro dia até dei uma assistência parecida com a que ele deu na final do
Mundial de 2005, de três dedos, para o gol do título do Mineiro.
Willian
anda assim relaxado, no bom sentido, dentro e fora de campo, até na
hora de dar entrevistas e se abrir. Sem o peso da cobrança, o atacante,
hoje improvisado na meia, tem dado contribuições significativas para seu
clube, que ocupa a sexta posição da tabela e tenta a promoção para
voltar à primeira divisão. O contrato com o Real Zaragoza vai até o
final da atual temporada europeia, e até lá o brasileiro terá tempo para
decidir se, desta vez, fica, ou parte para o próximo destino.