• Amauri Arrais
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Claudia e Allan com o pequeno Max que, antes mesmo de nascer, já estava nos quadrinhos do pai (Foto: Arquivo pessoal)

Claudia e Allan com o pequeno Max que, antes mesmo de nascer, já estava nos quadrinhos do pai (Foto: Arquivo pessoal)

Donos de humor afiado, o cartunista Allan Sieber, 43, e a roteirista Claudia Jouvin, 35, encontraram nas piadas do dia a dia uma arma para enfrentar as angústias, incertezas e um sem número de conselhos e teorias ao embarcar na aventura da primeira gravidez.

“As pessoas tem muita opinião sobre gravidez, todo mundo sabe tudo e quer te dizer como vai ser. Então resolvemos tirar um pouco de sarro disso”, conta Claudia, roteirista que já escreveu episódios de “A Grande Família” e “A Diarista”. O resultado é “Quem tá chorando? – A grande viagem dos pais de primeira viagem”, que chega às livrarias este mês pela Ed. Veneta.

O projeto nasceu após Allan, que assina os cartuns “Bifaland” e “Preto no Branco” no jornal Folha de S.Paulo, começar a retratar as desventuras da espera do primeiro filho na segunda tira, de tom mais autobiográfico. Após lançar a ideia de reunir os quadrinhos em livro para a mulher -que tem no currículo um curta de animação, mas nunca tinha desenhado profissionalmente- ela decidiu participar.

As duas capas do livro: tensão na ilustração do pai e placidez na da mãe (Foto: Divulgação)

As duas capas do livro: tensão na ilustração do pai e placidez na da mãe (Foto: Divulgação)



A visão dos dois sobre a maternidade/paternidade está impressa já nas capas, que são duas. “Na do Allan está todo mundo tenso, enquanto na minha estamos todos plácidos e sorrindo. Acho que mãe tem uma visão mais doce de todo processo mesmo, embora ele seja mais dramático”, brinca Claudia.

O título inicialmente sugerido por Allan, “Embala que é teu”, foi vetado por Claudia, que achou “meio agressivo”. “Depois pensei melhor e chegamos a um consenso. No fim, sou grato que ela implicou com o primeiro título”, diz Allan.

O casal garante que quase tudo que está nas páginas é baseado em fatos reais. Próximo de completar 2 anos, o pequeno Max virou protagonista das tirinhas de Allan, que reuniu praticamente toda a produção no livro. “Nessa linha autobiográfica que uso, tem muito de realidade, mas distorcida pela minha visão. Tem alguns exageros em prol do humor, mas 80% no mínimo é isso aí”, diz Allan.

Claudia confirma com um episódio retratado pelo marido. Sentados na primeira consulta com o pediatra, o casal escuta do médico a pergunta “O que vocês esperam de um pediatra?”, ao que Allan responde: “Não sendo pedófilo, já é uma grande coisa”. “Depois que saímos da consulta, disse a ele que não poderíamos ter um médico que não tivesse humor, ou não ia dar certo”, ela lembra.

A tirinha sobre a primeira consulta ao pediatra: é tudo verdade, segundo Claudia (Foto: Divulgação)

A tirinha sobre a primeira consulta ao pediatra: é tudo verdade, segundo Claudia (Foto: Divulgação)

PARTO NO MATO

Dilemas comuns a qualquer casal de pais novatos também estão nos quadrinhos, como os desejos da gravidez, a escolha do tipo de parto, as primeiras noites insones e os palpites sobre a melhor forma de educar.

“Antes ter filho não tinha grandes mistérios, hoje tem zilhões de teorias, correntes”, afirma Allan. Para o cartunista, a escolha do tipo de parto resume a complexidade. “Está tudo muito polarizado: ou você vai para o meio do mato parir sem anestesia ou faz uma coisa marcada anos antes. Acho essa onda de parto humanizado muito desumano para a mãe”, brinca ele.

Para Claudia, que acabou dando à luz Max naturalmente, após 12 horas em trabalho de parto, o pior veio depois, com a culpa que mães que trabalham carregam. “Como diz o pediatra, ‘Nasce o bebê, nasce a culpa’. Não tem como dissociar uma coisa da outra. Por isso tem uma geração de crianças mimadas de mães que trabalham e não conseguem dizer não. “

E mesmo sem abrir mão do sarcasmo sobre os clichês da maternidade, o casal admite que alguns são inevitáveis. “Acho que eu era mais ácida e amoleci um pouco mais depois que ele nasceu”, entrega Claudia. Já Allan, que assim como o personagem das tiras garante que não enche o saco dos amigos com fotos de Max, assume que já se viu “meio babão”. “Não tem jeito, quando você vê já está falando que o seu filho é a criança mais linda do mundo.”

A hora do parto retratada pela mãe (Foto: Divulgação)

A hora do parto retratada pela mãe (Foto: Divulgação)