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Protestos chegam a 170 cidades de 37 estados dos EUA

Segundo dia de manifestações contra decisão de não indiciar policial branco que matou jovem negro em Ferguson tem mais de 150 detidos no país
Carro da polícia é incendiado por manifestantes na cidade de Ferguson Foto: Adrees Latif / REUTERS
Carro da polícia é incendiado por manifestantes na cidade de Ferguson Foto: Adrees Latif / REUTERS

FERGUSON, Missouri — A faísca de indignação que começou em Ferguson se espalhou na terça-feira para 170 cidades de 37 estados americanos, onde manifestantes protestaram contra a decisão do júri de não indiciar o policial branco Darren Wilson pela morte do adolescente negro Michael Brown, em agosto. De acordo com a CNN, milhares saíram às ruas de Nova York a Los Angeles em rejeição à decisão que os manifestantes consideram que encoraja o racismo e ignora o uso discriminatório da força pelos policiais contra membros das minorias. O segundo dia de protestos teve mais de 150 detidos, dos quais cem foram somente em Los Angeles, de acordo com um repórter do "Los Angeles Times".

Algumas manifestações bloquearam pontes, túneis e estradas, e os protestos mais intensos foram registrados em Oakland, na Califórnia. Em Ferguson — cidade onde Brown foi morto —, um forte esquema de segurança impediu tumultos generalizados. A polícia deteve 44 pessoas e disparou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes que se concentravam em frente à prefeitura.

Cerca de 2.200 soldados da Guarda Nacional foram mobilizados para ajudar na manutenção da ordem na cidade e no entorno. Garrafas, pedras, pedaços de concreto e um coquetel molotov foram lançados contra policiais, que apreenderam os materiais. A polícia também confiscou duas armas.

O chefe da polícia Jon Belmar disse que a noite de terça-feira em Ferguson, localizada no condado de St. Louis, no estado de Missouri, tinha sido "muito melhor" do que os protestos do dia anterior , quando a decisão do júri foi anunciada.  Segundo a BBC, policiais disseram que qualquer um na rua seria sujeito a prisão.

Dois agentes do FBI foram baleados em um subúrbio de St. Louis, perto de Ferguson, mas o incidente não teve relação com os protestos. Eles foram baleados depois de responderem a um chamado de alguém entrincheirado em uma casa, de acordo com uma emissora local.

TUMULTO EM OAKLAND

Na cidade portuária de Oakland, na Califórnia, manifestantes quebraram janelas de uma concessionária de carros e saquearam várias lojas, incluindo a de celular T-Mobile. Alguns também fizeram fogueiras nas ruas.

Ao menos dez pessoas foram detidas por bloquear o tráfego em Nova YorK, um método de protesto que se repetiu em muitas cidades americanas. Mais de mil manifestantes marcharam em diferentes protestos na Big Apple.

Um grupo se reuniu na Union Square, em Manhattan, e de lá se dirigiu para as ruas constantemente mudando de direção para escapar do controle da polícia. Entre os manifestantes estavam estudantes da Universidade da Cidade de Nova York, membros do Partido Verde do Brooklyn e de associações de esquerda e anarquistas.

"Prisão aos policiais assassinos", "Pedimos justiça por Ferguson", diziam alguns dos cartazes que agitavam os manifestantes.

Cerca de mil manifestantes marcharam pelas ruas de Boston, passando por um centro penitenciário onde os presos olhavam das janelas e colocavam as suas mãos para fora. Em uma delas, alguém tinha escrito "Mike Brown". O protestos foi pacífico, de acordo com a CNN, mas a polícia afirmou ter detido 15 pessoas.

Em Chicago, cerca de 200 membros do Projeto Jovem Negro 100 começou na terça-feira à tarde uma concentração de 28 horas em frente ao gabinete do prefeito Rahm Emanuel. Segundo o grupo,  uma pessoa negra é morta por um policial ou por uma pessoa protegida pelo estado a cada 28 horas no país.

O presidente Barack Obama condenou a violência dos protestos:

— Incendiar edifícios, atear fogo em carros, destruir bens, colocar pessoas em perigo, não há desculpa para isso. Estes atos são criminosos — disse Obama em Chicago.

Em Cleveland, no estado de Ohio, também foi registrada uma manifestação para protestar pela morte neste fim de semana de um menino afroamericano de 12 anos, morto pela polícia quando estava com uma arma de brinquedo.

INVESTIGAÇÃO FEDERAL INDEPENDENTE

O procurador-geral dos Estados Unidos, Eric Holder, disse que continuará uma investigação federal independente já aberta relativa aos direitos civis sobre a morte de Brown e sobre a atuação da polícia de Ferguson.

Um dos advogados da família de Brown disse que a decisão do júri foi uma acusação contra o sistema.

— Este sistema sempre permite que a polícia fira e mate nossos filhos e nada acontece. Temos que mudar essa dinâmica — disse Benjamin Crump à CNN.

Em seus primeiros comentários sobre o assunto desde 9 de agosto, o policial que matou o jovem disse que tem "consciência limpa" e que voltaria a agir da mesma forma .

— A razão pela qual tenho a consciência limpa é que sei que agi corretamente — disse Wilson à ABC News, garantindo ter disparado em legítima defesa.

Devido à repercussão que o caso provocou, o Senado dos Estados Unidos anunciou que no dia 9 de dezembro haverá um debate sobre as disparidades raciais persistentes no sistema de justiça criminal americano.