Cultura

Olivia Newton-John volta ao Brasil e garante: 'Mantive os pés no chão'

Estrela de ‘Grease’ e ‘Xanadu’ traz em março para Rio e SP seu show de Las Vegas
A cantora e atriz Olivia Newton-John, em seu show em Las vegas Foto: Divulgação / Denise Truscello
A cantora e atriz Olivia Newton-John, em seu show em Las vegas Foto: Divulgação / Denise Truscello

RIO - Era carnaval e Olivia Newton-John baixou no Rio de Janeiro. As memórias vêm logo no começo da conversa, por telefone:

— Acho que fiz um show, talvez não. Ai, meu Deus, faz muito tempo... uns 35 anos! Fui ao Rio e foi espetacular. Vi o desfile das escolas de samba de um camarote com alguns amigos.

Quase. A pesquisa indica que o ano era 1982, e que ela passou pelo Brasil em meio ao trabalho de promoção do LP “Physical”. Nos poucos dias que ficou no Rio, Olivia também dançou no baile do Chez Castel e gravou participação na novela “Jogo da vida”, como atração internacional de uma boate. Mas agora é a vez de ela fazer shows de verdade no Brasil. Uma das maiores estrelas da história do pop, com mais de 100 milhões de discos vendidos, a cantora e atriz britânica de 67 anos se apresenta no dia 1º de março no Rio (Teatro Municipal) e no dia 3 em São Paulo (Espaço das Américas).

“Fiz 'Grease' quando já tinha 29. Por sorte, sempre mantive os pés no chão e tive equilíbrio. Hoje de manhã mesmo eu preparei o café da manhã, lavei a louça e pus roupa para lavar”

Olivia Newton-John
Cantora e atriz

— Obviamente, vou cantar todas aquelas canções que as pessoas esperam que eu cante — promete. — Sou muito agradecida pelo fato de ter conseguido músicas de sucesso suficientes para encher um show! Mas vou cantar também as menos populares do meu repertório.

O que os brasileiros verão é o show “Summer nights”, que ela vem fazendo desde agosto de 2014 no teatro do Hotel Flamingo, em Las Vegas. “Xanadu”, “Magic” (ambas da trilha do filme “Xanadu”, de 1980), “Summer nights”, “Hopelessly devoted to you”, “You're the one that I want” (todas de “Grease - Nos tempos da brilhantina”, seu grande sucesso cinematográfico, de 1978) e “Physical” estão no repertório desse espetáculo, que rendeu inclusive um disco ao vivo no ano passado.

— Eu não sabia que ia gostar tanto de ( fazer temporadas em ) Las Vegas — reconhece. — Quando saio em turnê, me anima muito conhecer lugares novos, mas tenho que trocar de hotel a toda hora, é bem mais estressante do que quando você fica num lugar só e cria uma rotina, algo que nunca tive na vida. O teatro em Vegas é bonito, o som é sempre bom, passo tempo com meu marido ( o empresário John Easterling ), meu cachorro, meu gato... É uma vida normal, a única coisa diferente é que que você tem que trabalhar à noite. Mas aí, nesses shows, eu consigo ver meus amigos e as pessoas que não encontro há muito tempo. Todos eles adoram Las Vegas.

Com John Travolta em “Grease — Nos tempos da brilhantina” (1978); patinando em “Xanadu” (80) e malhando no clipe de “Physical” (1981) Foto: Arte / Fotos de divulgação
Com John Travolta em “Grease — Nos tempos da brilhantina” (1978); patinando em “Xanadu” (80) e malhando no clipe de “Physical” (1981) Foto: Arte / Fotos de divulgação

Nada foi muito fácil, tampouco rápido, na vida de Olivia Newton-John. Depois de ter passado a infância na Austrália (onde começou a carreira), ela voltou para a Inglaterra e seguiu tentando a sorte, inclusive com um grupo pré-fabricado, atrelado a um filme, tipo Monkees: o Toomorrow, que fracassou. Só em 1971, ela foi ter seu primeiro sucesso na Inglaterra, uma gravação de “If not for you”, de Bob Dylan (“Adoraria encontrá-lo um dia, mas isso nunca aconteceu”, ela lamenta). Um pouco mais tarde, Olivia conseguiria entrar no mercado americano da música country, onde teve mais alguns sucessos. Mas nada ainda como o que aconteceria a partir de “Grease”.

— Minha carreira foi crescendo lentamente. Tive altos e baixos. Cantar foi o que passei a vida querendo fazer. Mas é assim: com as coisas ruins, você aprende a apreciar as boas. Não é o que você esperava, mas você se levanta e continua. Há até uma canção que eu compus sobre isso, “Not gonna give into it” (“Não vou me deixar ceder a isso”, em tradução livre), que virou uma espécie de hino pessoal — conta.

Quando surgiu a chance de interpretar Sandy, a mocinha de 17 anos que fazia par romântico com o Danny de John Travolta no filme musical passado nos anos 1950, Olivia ficou, em suas palavras, “assustada com o nível de excitação com que fazia tudo aquilo”. Mal sabia ela que “Grease” faria um sucesso avassalador e se tornaria um acontecimento cultural, não só por causa do filme (que espalhou um revival dos anos dourados), mas da trilha sonora (o segundo álbum mais vendido nos Estados Unidos em 1978, só perdendo para outra trilha, a de “Os embalos de sábado à noite”, filme também com Travolta).

— Eu estou no show business desde os 15 anos e fiz “Grease” quando já tinha 29. Por sorte, sempre mantive os pés no chão e tive equilíbrio. Hoje de manhã mesmo eu preparei o café da manhã, lavei a louça e pus roupa para lavar. Sempre tive isso — conta ela. — Por sorte, nunca recorri ao álcool ou às drogas.

Em 1981, Olivia Newton-John lançou “Physical”, álbum não atrelado a longas-metragens, mas que se beneficiou bastante de um videoclipe, feito para a sua faixa-título, bem na época em que a MTV surgia nos Estados Unidos. Uma ode aos exercícios físicos e corpos bem torneados, com falas maliciosas, como “There's nothin' left to talk about, unless it's horizontally” (”Não há nada para conversar, a não ser horizontalmente”).

— Eu me exercitava bastante quando era mais jovem. Mas acabei fazendo aquele vídeo porque estava preocupada com o conteúdo da letra, que era meio atrevida. Então, sugeri que ele fosse sobre malhação. Aí mesmo é que a canção estourou! — diverte-se a artista. — É meio engraçado lembrar isso, porque se essa canção, que era um pouco sacana demais na época, fosse para o rádio hoje, seria apenas uma letra comum.

E aquele acabaria sendo o último grande êxito fonográfico de Olivia Newton-John — uma boa recordação de tempos de glória da indústria.

— Sou muito feliz por ter passado tudo que passei, de ter tido meu sucesso numa época em que as pessoas compravam álbuns e os ouviam inteiros — conta. — O mundo é bem diferente hoje. Não se vendem mais tantos discos, mas temos essas coisas maravilhosas que são os computadores e os celulares. Há um lado bom e um lado ruim nas mudanças. Acho apenas que os novos artistas terão mais dificuldades de fazer carreiras que se estendam por toda a vida.

Apesar de tudo, Olivia não se acha um caso exemplar de artista que passou por mudanças de imagem e de estilo musical para sobreviver.

— Acho que Madonna é o exemplo perfeito disso. Ela muda tudo a toda hora. E as mais novas passaram a fazer isso também. Tem a Lady Gaga, que é diferente toda vez que você a encontra e tão talentosa... ela é uma dessas que vão ter uma carreira pelo resto da vida, é camaleônica. Hoje em dia, você tem que viver mudando, as pessoas esperam isso de você. Na época em que eu apareci no cenário, não era assim. As minhas mudanças vieram por causa da música, das canções que eu cantava.

Depois de “Grease” e “Xanadu”, o cinema foi ficando cada vez mais em segundo plano entre as prioridades de Olivia Newton-John.

— Antes de ser uma atriz, sou cantora, mas gosto muito dos filmes de que participei. Cantar é mais natural para mim, e tem um bom tempo que não participo de um filme — avisa ela, antes de ser lembrada de que, não tanto tempo atrás assim, em 2011, participou da comédia “Depois dos 30”, do diretor australiano Stephan Elliott (de “Priscila, a rainha do deserto”). — Ai, esse filme foi muito divertido de fazer! Era uma mulher selvagem, fiquei muito contente de ter conseguido entrar nessa área meio cinzenta.

Atualmente, a vida segue sem sobressaltos para a artista. Em novembro, ela conseguiu um feito inédito: chegou ao primeiro lugar das paradas americanas de dance music com “You have to believe”, faixa produzida pela filha, Chloe.

— Ela simplesmente pegou uma música minha, "Magic", e escreveu novos versos — conta. — Depois disso, Chloe fez um filme e agora está indo muito bem nesse ramo da produção musical. Ela é muito talentosa e achou seu caminho.

No sábado passado, Olivia Newton-John recebeu em Las Vegas o prêmio de “Mulher do ano” do Nevada Ballet Theatre. Mas o melhor mesmo, segundo ela, foi o depoimento em vídeo feito por John Travolta e exibido na cerimônia.

— Somos e sempre seremos amigos — assegura ela, que, após ter sido diagnosticada com câncer no seio há 24 anos, trabalha constantemente em campanhas de prevenção contra a doença. — Me sinto muito grata por estar aqui, podendo falar sobre a experiência e ajudar outras mulheres que estão passando pelo mesmo.

A sorte parece mesmo estar ao lado dela:

— Daqui a pouco vou para a América do Sul, o que significa que as pessoas querem me ver aí! As músicas que gravei e os filmes de que participei ainda são populares. Se quiser, ainda posso trabalhar. Talvez não faça isso pelo resto da vida, mas, enquanto estiver cantando bem e me divertindo, estarei lá. A vida está melhor do que nunca. Você nunca deve deixar o tempo ou a idade definir o que você é.