Política Lava-Jato

Com Lava-Jato e restrições eleitorais, marqueteiros fogem de campanhas

'Magos' dos candidatos vão deixá-los sozinhos nos palanques deste ano

O marqueteiro João Santana, preso na Lava-Jato
Foto: Geraldo Bubniak / /24-2-2016
O marqueteiro João Santana, preso na Lava-Jato Foto: Geraldo Bubniak / /24-2-2016

SÃO PAULO — A amigos, o marqueteiro Duda Mendonça tem dito que cansou de ser o "Judas". Luiz Gonzalez, que comandou campanhas presidenciais para os tucanos, comenta em seu círculo que já não tem mais idade para essas "gincanas". João Santana, artífice da reeleição de Lula e das duas eleições de Dilma, está atrás das grades, indiciado pela Polícia Federal e tentando defender-se das acusações de ter recebido dinheiro desviado da Petrobras como pagamento pelos seus serviços nas campanhas petistas.

Mesmo que estivesse livre, Santana cogitava um ano sabático, fora do Brasil. A saída de cena dos "magos" do marketing político, como são chamados com misto de admiração e escárnio no meio, não é fenômeno isolado. Além deles, dentre os oito profissionais experientes do mercado ouvidos pelo GLOBO, seis garantiram que recusarão esse tipo de trabalho. A explicação para a debandada é dupla: a nova legislação eleitoral, que proibiu doações empresariais e estabeleceu limites de gastos, e a Operação Lava-Jato. As duas circunstâncias combinadas devem mudar a cara do horário político.

— Tenho filho pequeno, se passar 15 anos preso, não o vejo - afirmou um marqueteiro que fez campanhas importantes no Nordeste.

Ele saiu do jogo. E explica:

— Se eu negar dinheiro não contabilizado, eles acabam nunca pagando pelos serviços. É um risco que eu não pretendo mais correr.

Quando Duda Mendonça admitiu, no bojo do processo do mensalão, ter recebido dinheiro ilegal pela campanha do ex-presidente Lula, em 2002, havia uma expectativa de que esse tipo de crime eleitoral fosse abandonado.

A repercussão do caso, no entanto, não impediu que o caixa dois continuasse. A mulher de Santana, Mônica Moura, depois de presa pela Lava-Jato, reconheceu que pagamentos feitos em dólar pela empreiteira Odebrecht eram recurso não contabilizado de campanhas na Venezuela e em Angola. Mônica disse que o casal recebia recursos de caixa dois apenas quando os clientes exigiam tal condição. A suspeita dos investigadores é que Santana tenha recebido por fora da Odebrecht também nas campanhas petistas, e nos documentos apreendidos aparecem pagamentos a pelo menos mais dois publicitários.

— Qualquer pessoa que trabalhe no meio há algum tempo recebeu em caixa dois. Não dá pra negar — afirma outro profissional.

Mesmo os mais cautelosos com contabilidade não tem como saber de onde vieram os recursos.

— Está todo mundo com medo. De repente vai parecer que aquele dinheiro que você recebeu lá atrás foi desviado da Petrobras — diz um renomado marqueteiro.

Outro elemento a empurrar para fora do mercado os grandes profissionais é a questão financeira. Além de estabelecer um teto para os gastos — em 70% do máximo empenhado pelo candidato que mais gastou no pleito para cada cargo —, as regras eleitorais que passarão a ser aplicadas a partir deste ano vedam a doação de empresas. Apenas pessoas físicas poderão dar dinheiro às campanhas - e a contribuição não poderá superar 10% dos rendimentos declarados do doador. Diante disso, a conclusão dos profissionais é uma só: vai faltar dinheiro.

— Campanha é cara. Requer estrutura para emprestar milhões para o candidato em equipamentos e dinheiro, que são pagos meses depois de concluído o serviço. E está embutido no preço o risco do calote — afirma um marqueteiro.

No meio, ninguém acredita que as doações de pessoa física serão capazes de satisfazer as expectativas de ganho dos profissionais. Em tom de chacota, um ex-integrante da campanha de Marina Silva em 2010 conta que a candidata investiu R$ 4 milhões para criar um sistema de doações on-line. Com a ferramenta pronta, arrecadou apenas R$ 140 mil.

No cálculo dos profissionais, para ganhar o que receberam por campanha nas últimas eleições, vai ser preciso assumir trabalho com quatro ou cinco candidatos.

— Vai ter muito amador e iniciante. Podemos ver coisas interessantes, nos moldes uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, mas no geral as campanhas tendem a ser toscas — diz um publicitário que afirma temer que a população acabe mal informada.

Por outro lado, há quem espere mais transparência sobre quem são e o que pensam os candidatos. Seria impossível, no novo cenário, repetir a façanha de João Santana com Dilma. Os publicitários são unânimes em dizer que esse foi um caso em que quem ganhou a eleição foi o marketing, não o partido.