Política Lava-Jato

Diplomata que enviou alerta de ‘golpe’ recebe advertência

Oposição cobra explicações no Congresso do ministro Mauro Vieira
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pode ter que prestar esclarecimentos por telegramas enviados do Itamaraty Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, pode ter que prestar esclarecimentos por telegramas enviados do Itamaraty Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

BRASÍLIA — O diplomata Milton Rondó Filho — que enviou mensagens a todas as embaixadas e representações diplomáticas brasileiras no exterior solicitando divulgação de mensagens alertando para risco de golpe no país — perdeu o direito de mandar circulares por conta própria. Agora, precisará de autorização superior. Segundo o Itamaraty, não houve sanção administrativa. A medida desautorizando o diplomata foi apenas verbal. O caso, revelado ontem pelo GLOBO, levou a oposição a pedir a convocação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, para que ele vá ao Congresso dar explicações sobre o incidente.

A oposição rechaça que o impeachment, em análise numa comissão na Câmara, seja golpe. No Senado, DEM e PSDB apresentaram requerimentos solicitando explicações ao Itamaraty e a convocação de Mauro Vieira. Na Câmara, PSDB e PPS anunciaram que pediriam a convocação do ministro.

— O que foi feito no Itamaraty é um crime de lesa-pátria ao atacar a oposição democrática. Não estamos em uma guerra civil para se politizar órgãos de Estado — disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

O vice-líder do PSDB na Câmara, Betinho Gomes (PE) também comentou o episódio:

— O que ocorreu é gravíssimo. Golpe é usar o Estado brasileiro para tentar confundir a opinião da comunidade internacional. Exigimos a presença do chanceler no plenário da Câmara.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) cobrou uma reação de Renan Calheiros (PMDB-AL), como presidente do Congresso, mas ele não respondeu. Mais tarde, em entrevista, Renan repetiu os termos de que o impeachment sem provas não pode ser chamado de impeachment.

— Não sou golpista. Sinto-me insultado. Esse telegrama foi um absurdo, algo inaceitável. Prestaram um desserviço ao Itamaraty, num desrespeito à imagem do Brasil no mundo inteiro. E exigi do presidente Renan que defendesse o Congresso. Se ele é um presidente de um Congresso golpista, é (caso) de renunciar. O presidente Renan, na sua declaração de ontem, foi precipitado — disse Jereissati.

O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado, comentou:

— O governo está querendo implantar um Estado de Defesa.

O vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), saiu em defesa do governo:

— O secretário-executivo do Itamaraty, embaixador Sérgio Danese, mandou telegrama-circular a todas as embaixadas do Brasil informando que o governo não tinha posição oficial. (Colaborou André de Souza)