A Justiça de São Paulo decretou a prisão da mãe e do padrasto do menino Ezra Liam Joshua Finck, de 7 anos, que foi encontrado morto no freezer do apartamento onde morava, na República, região central da capital paulista. Eles são suspeitos de matar o garoto, esconder o cadáver e fugir do país.
Câmeras do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, registraram o casal Lee Ann Finck e Mzee Shabani com as duas filhas. A gravação mostra a família passando pelo saguão no dia 3 de setembro, pouco antes de embarcar em um voo para a África. O corpo de Ezra foi localizado um dia depois.
A juíza que cuida do caso, Ana Helena Rodrigues Mellim, justificou o pedido de prisão preventiva dizendo que "os investigados têm em seu poder mais duas crianças de pouca idade e que podem sofrer a mesma absurda violência pela qual passou esse menino antes de ser morto por quem tinha o dever de protegê-lo".
A magistrada afirma que, durante as investigações, uma testemunha contou que Shabani confessou, por telefone, que a mulher “se excedeu e matou a criança e que ela estaria dentro de um freezer. Disse, por fim, antes de desligar o telefone, que fugiram para a África”.
No documento, ela pede, ainda, para que a Interpol seja informada sobre o mandado de prisão. O objetivo é incluir o casal no alerta vermelho da instituição internacional, o que causaria a divulgação dos dados dos dois para outros países e facilitaria a localização deles. Até as 22h desta terça-feira (15), porém, o nome da mãe e do padrasto não constava no site de Interpol.
Veja abaixo a imagem do padrasto e da mãe de Ezra com as duas filhas no Aeroporto Internacional de Guarulhos, um dia antes do corpo do menino ser encontrado:
Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos de São Paulo, o casal poderia responder pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver. “Dessa forma, poderiam pegar até 30 anos de prisão.”
Ele disse, porém, que considera difícil que os dois sejam julgados no Brasil. “Como fugiram do país, a possibilidade de serem punidos são remotas, já que dependerá de acordos de extradição ou de cooperação internacional entre Brasil, Tanzânia e África do Sul, por exemplo. Mas esperamos que sejam responsabilizados pelo crime bárbaro e cruel que cometeram.”
Investigações
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, informou que foram solicitadas à Polícia Federal informações do destino da mãe e do padrasto do menino. "Obviamente o casal é foragido, agora está fora do território nacional", disse.
"Estando fora do território nacional o que a Polícia de São Paulo pode fazer é continuar as investigações, trocar essas informações, verificar para onde foram e eventualmente a partir de tratados internacionais não só pedir o auxílio da Interpol, mas pedir via Ministério da Justiça a extradição dessas duas pessoas", disse. O DHPP aguarda o laudo necroscópico para saber a causa e a data da morte do menino.
Imagens de câmeras de segurança do prédio onde morava a família mostram que, no dia 28 de agosto, o freezer foi carregado da loja de doces de Mzee, no térreo, até o apartamento deles. No local moravam o menino, a mãe dele, o padrasto de 26 anos e duas irmãs, filhas do casal, segundo o boletim de ocorrência.
Seis dias antes, no dia 22, as mesmas câmeras registraram o Ezra entrando no hall do prédio e, em outro momento, cumprimentando um vizinho.
Histórico de problemas
O Conselho Tutelar informou que Ezra foi atendido em junho de 2014 após receber denúncia que a criança apresentava sinais de espancamento. A mãe declarou, segundo o conselho, que batia "no intuito de educar, e não machucar".
No mesmo ano foi concedida uma liminar de acolhimento, suspendendo o convívio familiar de Ezra com o padrasto e a mãe. Em 15 de janeiro deste ano, o juiz Rodrigo Vieira Murat permitiu o retorno do menino ao convívio com o casal e determinou que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) acompanhasse a família por seis meses.
O desembargador do Tribunal de Justiça, Antônio Carlos Malheiros, disse que o menino foi acompanhado durante seis meses e depois devolvido à família após pedido da própria criança.
Depois da descoberta do corpo de Ezra, a loja de doces da família foi arrombada e saqueada, segundo os vizinhos.
A Polícia Civil disse que a investigação está em andamento, com coleta de imagens, depoimentos, levantamento de informações com a Polícia Federal e com a Delegacia do Aeroporto, bem como de ligações telefônicas recentes.
Caso
A família tinha loja de doces no térreo do edifício e morava no primeiro andar. Por volta das 18h40 de sexta (4), vizinhos ligaram para a polícia para verificar se havia algo estranho no apartamento.
O primo do padrasto do menino contou à polícia ter estranhado o fato de o vendedor de 26 anos ter deixado a loja fechada naquele dia. Ele foi até o apartamento e, na porta, sentiu um cheiro muito forte.
O homem chamou o proprietário do imóvel e lá encontraram, no freezer, o corpo do menino enrolado em um lençol e em sacos plásticos, segundo o boletim de ocorrência. Segundo o primo, Ezra era filho da companheira do vendedor.