Política Impeachment

‘NYT’ ressalta que Dilma é alvo de deputados envolvidos em escândalos

Em reportagem, jornal americano elencou acusações de líderes pró-impeachment

Jornal americano ‘NYT’ citou acusações criminais de Maluf, Temer e Cunha, entre outros
Foto: Reprodução Internet
Jornal americano ‘NYT’ citou acusações criminais de Maluf, Temer e Cunha, entre outros Foto: Reprodução Internet

RIO — O jornal americano “New York Times” publicou reportagem sobre a crise política brasileira na qual situa como alvos de processos criminais as principais lideranças do processo de impeachment. “Dilma Rousseff é alvo no Brasil de deputados que encaram seus próprios escândalos”, diz o título da publicação, em tradução livre. O jornal sustenta que recaem sobre a maioria dos parlamentares que pedem a destituição acusações de corrupção, fraude eleitoral e violação de direitos humanos — o que levantaria o debate sobre a hipocrisia na política brasileira. No texto, o 'NYT' considera inegáveis o escândalo de corrupção ao qual o PT se envolveu, “a pior crise econômica em décadas” e as “regulares manifestações” nas ruas contra a presidente. Ressalta, no entanto, que no pedido de impeachment a ser votado no domingo não constam denúncias de corrupção, mas sim manobras contábeis para "encobrir buracos no orçamento".

Logo no começo da reportagem, Paulo Maluf  é apontado como apoiador do impeachment e é citado como acusado nos Estados Unidos por desviar US$ 11,6 milhões. Maluf, que integra a lista de procurados da Interpol , é descrito como alguém “tão envolto em esquemas ilegais” que os próprios apoiadores do deputado federal criaram o slogan “Rouba mas faz”. Ainda assim, diz o jornal, ele se diz tão cansado da corrupção e revoltado com a negociação de cargos do governo federal em troca de apoio que votará a favor do impeachment.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, é considerado o “poderoso líder do processo” pelo 'NYT', que cita processo contra o deputado no STF por lavagem de dinheiro de cerca de US$ 40 milhões recebidos supostamente como propina.

Renan Calheiros, presidente do Senado, tem elencadas a acusação de evasão fiscal e a investigação de envolvimento no esquema de propinas da estatal Petrobras.

O vice-presidente, Michel Temer, que assume o posto de Dilma caso a destituição seja aprovada, tampouco é poupado: está envolvido em uma compra ilegal de etanol, segundo o 'NYT'.

O jornal ainda cita o oposionista Éder Mauro, acusado de tortura e extorsão quando era policial em Belém, no Pará. Beto Mansur, por sua vez, aparece no texto por responder às “condições deploráveis em que manteve 46 trabalhadores de suas fazendas em Goiás”, algo parecido com “escravos dos dias de hoje”.

De acordo com o jornal, Dilma “é raridade” na cena política brasileira: não foi acusada pessoalmente de corrupção. Os jornalistas Simon Romero e Vinod Sreeharsha, que assinam a história, citam o Portal da Transparência, segundo o qual 60% dos 594 parlamentares do país lidam com “sérias acusações”, como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio. Quase diariamente, conta o periódico, procuradores descobrem mais sobre esquemas corruptos de aliados e opositores da presidente, em especial no escândalo de propinas da Petrobrás.

O histórico dos líderes do processo de impeachment, conta o NYT, levaria brasileiros a crer que o impeachment seria mais uma tentativa de passar o poder às mãos de “deputados de histórico questionável”, menos uma resposta às denúncias que pesam sobre a administração federal. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, corrobora essa visão: segundo ele, outros presidentes tomaram as mesmas medidas orçamentárias, mas políticos brasileiros têm tratado a questão de forma diferente desta vez. "As acusações não dizem respeito a crimes, mas a má administração", sustenta Almagro, que disse temer pela credibilidade de alguns deputados que votarão o impeachment.

O jornal ressalta que a debandada de partidos da base política de Dilma nesta semana acentuou a vulnerabilidade do governo, que perdeu a ação no STF para barrar o processo sob o argumento de o direito de defesa de Dilma Rousseff não havia sido plenamente respeitado.