06/06/2016 18h32 - Atualizado em 06/06/2016 20h57

'Não devia ter ido ao baile', diz jovem que estava com menor estuprada

Jovem diz ter tido relações sexuais com Lucas Perdomo, de 20 anos.
Ela disse não saber o motivo de adolescente ter ficado na casa.

Nicolás SatrianoDo G1 Rio

A jovem, de 18 anos, que acompanhou a adolescente vítima de estupro ao baile funk no Morro da Barão, na Zona Oeste da cidade, disse estar arrependida de ter ido ao evento. "Eu não devia nem ter ido ao baile", afirmou X., que pediu para não ser identificada. Ela diss, ainda, estar aliviada  por ter deixado a favela: "Poderia ter sido comigo", acrescentou. X. também contou que a ideia de deixar o baile e ir a uma casa na favela partiu do jogador Lucas Perdomo e de Raí de Souza.

 

X. esteve novamente, nesta segunda-feira (6), na Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), na Lapa, região central da cidade, para prestar novo depoimento sobre o caso.

"Eu queria que ela [a adolescente vítima de estupro] viesse comigo. Eu chamei ela, mas ela não quis (...) Ela ficou porque ela quis, eu fui embora", contou a jovem sobre o momento que deixou a casa na favela junto de Lucas e Raí. Ela negou ter havido qualquer abuso durante as três horas e meia em que os quatro estiveram juntos em casa comunidade.

Segundo X., ela e a adolescente são conhecidas e até já foram vizinhas, mas nunca teriam saído juntas antes. "Eu já a conhecia há um tempo. Aí eu perguntei: 'Vai pra onde hoje?', e ela falou: 'Vou pra Barão'. Aí eu falei: 'Vou contigo'", contou.

Segundo o relato da jovem, no dia em que saíram juntas foi a primeira vez que viam Raí. A princípio, X. disse que a adolescente não queria ficar com o suspeito, mas depois deitou ao lado do jovem e ficou fazendo carinho no peito dele e "então rolou".

X., por sua vez, afirmou ter tido relações sexuais com Lucas e que não sabia de qualquer relacionamento anterior da vítima com o jogador.

De acordo com o que a polícia apurou até agora, a adolescente que foi estuprada saiu de um baile funk com Raí de Souza, o jogador de futebol Lucas Perdomo, de 20 anos, e a garota que prestou o depoimento ontem, por volta das 7h da manhã de sábado, 21 de maio.

Na festa, eles teriam feito uso de bebidas alcoólicas, maconha e cheirinho da loló (entorpecente feito com clorofórmio e éter). Os quatro foram a uma casa abandonada da comunidade do Morro do Barão. Y. conta que chegou a chamar a menor estuprada para ir embora, mas não sabe dizer porque ela ficou na casa onde posteriormente.

Estupros depois que jovem foi embora
Às 11h, depois que a jovem e os rapazes foram embora, a menina que foi estuprada teria sido encontrada desacordada pelo traficante Moisés Camilo de Lucena, conhecido como Canário, de 28 anos. O homem pegou a jovem e a levou para outra casa. Ele teria sido o primeiro a estuprá-la. Canário é suspeito e está foragido.

As investigações apontam que a adolescente foi estuprada, no mínimo, duas vezes: no sábado pela manhã e no domingo, à noite. Os policiais acreditam que o número de envolvidos no crime possa ser maior.

Quando a jovem foi violentada na noite de domingo, Raí chegou em uma casa da comunidade acompanhado de Raphael Duarte Belo, de 41 anos, e de um homem identificado como Jefinho. Neste segundo momento, eles abusaram da adolescente, gravaram vídeos e tiraram fotos.

Amigo de Raí, que postou foto com ele, estava com celular de suspeito (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Amigo de Raí, que postou foto com ele, estava com celular de suspeito (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Celular revela provas
Agentes da DCAV conseguiram chegar ao celular de Raí de Souza, 20 anos, suspeito de participar do estupro coletivo da menor de 16 anos na Zona Oeste do Rio, através do monitoramento de amigos dele em redes sociais.

Atualmente preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, Raí disse inicialmente para a polícia que tinha destruído seu celular onde foi gravado o vídeo da menor estuprada nua, sendo tocada por um homem, com vozes de outros suspeitos ao fundo. Com a recuperação do aparelho, na última sexta-feira (3), os agentes descobriram um segundo vídeo do estupro coletivo, durante o qual a menor tenta resistir às agressões.

Os investigadores chegaram ao aparelho ao descobrirem que um dos amigos de Raí tinha uma foto com o jogador de futebol Lucas Perdomo, solto na última sexta-feira (3) por falta de provas, e Raí, com as mesmas roupas com as quais ambos foram presos no último dia 30 de maio.

Através desse monitoramento, os policiais foram até o local, desconfiando que o celular estivesse com o amigo de Raí. Na última sexta feira, um mandado de busca e apreensão foi cumprido, na rua Dias Lopes, em Madureira, e o celular foi apreendido, intacto.

Agora, a Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) vai avaliar se o material contido no celular de Raí pode indicar o funcionamento do tráfico na região. O aparelho já foi encaminhado para perícia.

A descoberta do segundo vídeo foi tema de reportagem esclusiva do Fantástico neste domingo (5). Segundo investigações da DCAV, a voz no vídeo a que o programa teve acesso é de Raphael Duarte Bello, o terceiro preso na semana passada. Ele também é o responsável, segundo as investigações, por ter inserido objetos na menina.

No celular de Raí, a polícia também descobriu o áudio, com uma voz que seria a dele conversando com outra pessoa dizendo que, por "ordem superior", os moradores deveriam a uma passeata nas ruas próximas ao morro São José Operário, na Zona Oeste, onde o crime ocorreu. Durante a manifestação, moradores levantavam cartazes com dizeres como "não houve estupro".

"Vai no Mototaxi lá, Nathan, avisa lá. Ordem superior. Mano mandou ir no protesto. Se não for, é com eles mesmo", diz ele.

Suspeitos presos
Raí e Raphael estão presos no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. Lucas Perdomo também chegou a ser preso, mas acabou sendo solto por falta de provas de sua participação no crime. Ao todo, cinco suspeitos estão foragidos. “Eles vão responder pelos dois crimes. Pelo estupro e pela produção e divulgação de imagem de criança e adolescente. Que seja uma pena exemplar para mostrar para a comunidade que existe lei e que a lei quem faz é o Estado”, contou Cristiana Bento.

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