O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou na manhã desta quarta-feira (22) que os funcionários da Prefeitura estão com receio de retirar os cobertores dos moradores de rua porque podem ser denunciados pelo poder público ou Ministério Público. Cobertores amontoados pelas praças do Centro da capital foram observados pelo segundo dia seguido nesta quarta.
"O pessoal da zeladoria tem ficado um pouco receoso com a exploração política que tem sido feita desses eventos [após polêmica sobre supostos excessos cometidos pela Guarda Civil Metropolitana]. As vezes a pessoa está pegando um cobertor que está sem uso aparente e fica com receio de pegar com medo de receber uma arguição do poder público ou do Ministério Público", disse Haddad.
"É natural que neste momento haja um pouco de aflição. Estamos conversando com as pessoas, con os garis, para que se interem das regras do decreto [publicado no sábado], que são basicamente as mesmas do passado, só que mais claras para que haja respeito de um lado e zeladoria de outro", completou.
Ao SPTV, a Prefeitura disse que vai retirar os cobertores e a maioria será descartada porque é considerada insalubre. De acordo com a administração municipal, por conta da quantidade de doações, os moradores de rua tratam as cobertas como descartáveis.
O decreto, que entrou em vigor no sábado (18), regulamenta ações da zeladoria urbana sobre o que pode e o que não pode ser recolhido de moradores de rua. A medida visa evitar eles montem habitação em praças públicas.
"Excepcionalmente, poderão ser recolhidos objetos que caracterizem estabelecimento permanente em local público, principalmente quando atrapalharem a livre circulação de pedestres e veículos, tais como camas, sofás e barracas montadas durante o dia, desde que não sejam removidos pelo possuidor ou proprietário", informa trecho do decreto publicado no Diário Oficial. Barracas desmontáveis não serão apreendidas.
Abrigos
Na primeira noite do abrigo provisório no Vale do Anhangabaú, no Centro de São Paulo, sobraram camas. Segundo funcionários ouvidos pelo Bom Dia São Paulo, 270 moradores de rua passaram a madrugada desta quarta-feira (22) no abrigo na Galeria Prestes Maia com capacidade para 500 pessoas.
O abrigo tem espaço para carroças e animais de estimação e funciona todos os dias, das 18h às 7h. As carroças serão guardadas no próprio local, pela Guarda Civil Metropolitana e os animais ficarão em um canil montado por agentes de zoonoses da Secretaria Municipal da Saúde.
"A minha percepcão do primeiro dia é de que foi muito boa a adesão. É um endereço novo para o morador em situação de rua e atingimos quase 300 moradores", disse.
Questionado sobre o início do uso de tendas, anunciado na última sexta-feira (17), Haddad afirmou que estão levantando dados sobre a baixa adesão dos abrigos.
"Está sendo feito um levantamento de baixa adesão para instalação das tendas. O próximo local a ser instalado deve ser a Mooca, onde tem baixa adesão do morador ao serviço público. Nossos equipamentos estão ociosos, tem vaga. Então estamos vendo onde tem baixa adesão pra não desperdiçar investimento", afirmou.