Edição do dia 24/06/2016

24/06/2016 08h20 - Atualizado em 24/06/2016 10h58

PF vai ouvir ex-ministro Paulo Bernardo e mais sete detidos

Investigação mostra que maior parte dos R$ 100 milhões foi para o PT.
Paulo Bernardo teria comandado esquema, recebendo R$ 7 milhões.

 

O ex-ministro Paulo Bernardo e os outros sete presos na Operação Custo Brasil, que o Bom Dia mostrou na quinta-feira (23), ao vivo, vão ser ouvidos nesta sexta-feira (24) na Polícia Federal de São Paulo.

A investigação mostra que a maior parte dos R$ 100 milhões desviados dos empréstimos consignados de servidores públicos foi parar no PT.

Os investigadores dizem que o ex-ministro Paulo Bernardo comandou o esquema e recebeu R$ 7 milhões, e que havia muita disputa entre os integrantes do esquema sobre a divisão da propina.

Com os documentos recolhidos em São Paulo e também no Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco e no Distrito Federal, a força-tarefa acredita que vai comprovar definitivamente o esquema descoberto, primeiro a partir de delações premiadas e, depois, com outras provas e documentos. De 2010 a 2015, foram desviados R$ 0,85 por mês, de cada empréstimo consignado feito por servidor federal. Em 5 anos, o valor desviado chegou a R$ 100 milhões.

De acordo com os procuradores, os bancos reclamaram com o governo que o crédito consignado não vinha sendo bem administrado. Que os funcionários públicos estavam se endividando além do máximo permitido por lei, que é de 30% do valor do salário. Foi aí que entrou a "Consist", contratada para administrar e controlar esse serviço. Para os procuradores, foi a partir daí que abriu-se a porta para o esquema de corrupção.

“Ela abria mão do faturamento dela, ficava com 30%, 70% restante era direcionado para pagamento de propina através de empresas fictícias, de contratos fictícios, através de lobistas e assim sucessivamente”, explicou o delegado da Polícia Federal Rodrigo de Campos Costa.

A força-tarefa diz que quem comandava a fraude era Paulo Bernardo, do PT do Paraná. Quando ele era ministro do Planejamento no governo Lula, ele recebeu 9,5% do que o esquema arrecadou. Quando virou ministro das Comunicações, no governo Dilma, a parcela foi caindo até chegar a 2,5%. O dinheiro ilícito pagou contas dele, através do advogado de Curitiba Guilherme Gonçalves – que não foi preso na quinta-feira (23), porque não está no brasil.

“É difícil a gente ter um valor preciso, porque tem, isso foi alterando ao longo, inclusive, havia disputas internas pela propina. Havia uma briga, um querendo que a parte do outro diminuísse, então havia discussões às vezes até acaloradas entre eles, pelos e-mails, se havia, se verificava uma certa insatisfação de determinados parceiros que vinham perdendo percentual, em face de outro”, afirmou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça.

O ex-ministro Paulo Bernardo foi preso em Brasília, no apartamento funcional da mulher dele, Gleisi Hoffmann. Por ser senadora, ela tem foro privilegiado e não está sendo investigada pela força-tarefa. O apartamento do ex-ministro em Curitiba também foi alvo de apreensões.

Outro beneficiário do esquema é Carlos Gabas, que foi ministro da Previdência no governo Dilma.

Ainda segundo os procuradores, uma boa parte do dinheiro passou pelas mãos de Alexandre Romano, lobista e ex-vereador do PT em Americana, no interior de São Paulo. Ele foi preso no ano passado, liberado depois de dois meses e está com tornozeleira eletrônica.

Foi Alexandre Romano quem contou como foi criado o esquema da Consist. Ele ficou com R$ 4 milhões e repassou R$ 16 milhões para o Partido dos Trabalhadores.

No centro de São Paulo, policiais federais vasculharam a sede do PT e apreenderam documentos. O advogado do Partido dos Trabalhadores reclamou.

“Achei desnecessário o ato, poderia ser obtido de mil outras formas, mas não houve nenhuma violência, não entraram na sala da presidência, não houve nada na sala da presidência, limitou-se a questões contábeis. E quando eu digo "contábeis", faz parte do meu espanto, porque documentos contábeis são documentos públicos. Que não há necessidade de busca e apreensão. Basta uma simples requisição, que se tem os documentos.  É, eu acho que faz parte do espetáculo midiático. Ponto final”, disse o advogado do PT, Luiz José Bueno de Aguiar.

Além dos dois ex-ministros, foram presas mais 6 pessoas, entre elas o secretário municipal de Gestão de São Paulo, Valter Correia da Silva, que tinha trabalhado no Ministério do Planejamento.

Outro que teve prisão decretada foi o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que já está na cadeia, em Curitiba, cumprindo pena por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

A polícia não encontrou outro ex-tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, antecessor de Vaccari. A Justiça Federal determinou as 11 prisões preventivas para que os suspeitos não atrapalhem as investigações.

“Porque se apurou ao longo da investigação, nesse caso especificamente, que era bastante comum haver, não só fraudes documentais, ou seja, simular contratação, prestação de serviço que não havia, mas também se apurou a tentativa de cooptar pessoas para uma determinada versão. Então, essa foi a fundamentação para que se trouxesse todos para serem ouvidos nesse tempo”, disse o procurador da República, Andrey Borges de Mendonça.

Os presos levados na quinta (23) de avião para São Paulo foram levados à Polícia Federal e devem ser ouvidos nesta sexta-feira (24).

A assessoria de Guilherme Gonçalves disse que ele vai se apresentar nesta sexta (24), quando chegar ao Brasil. E negou envolvimento em qualquer irregularidade.

A defesa de Paulo Ferreira disse que ele vai se apresentar e que nada tem a temer.

O advogado de João Vaccari Neto disse que as acusações contra o ex-tesoureiro do PT são improcedentes e não tem qualquer comprovação.

O Bom Dia Brasil não conseguiu contato com Valter Correia da Silva, mas a Prefeitura de São Paulo informou que ele pediu na quinta-feira (23) exoneração do cargo.

Carlos Gabas disse que nunca assinou contrato com a empresa Consist.

E a empresa Consist disse que sempre colaborou e que vai continuar colaborando com a Justiça e os órgãos de investigação.

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