RIO — Um adolescente morreu após ser baleado na cabeça, na noite desta quinta-feira, durante uma ação da Polícia Militar no Morro do Borel. Jhonata Dalber Matos Alves, de 16 anos, que morava na Usina, tinha ido à comunidade visitar o tio. O adolescente ficou no meio do fogo cruzado durante um confronto entre policiais e criminosos. A vítima foi encaminhada em estado grave para o Hospital do Andaraí, mas não resistiu aos ferimentos.
Na unidade hospitalar, parentes e amigos do rapaz aguardavam apreensivos notícias do jovem. Minutos antes de saber da morte do filho, a mãe, Janaína Alves, havia dito no hospital:
— Ele só tem 16 anos, é uma criança. Só queria entender o que aconteceu com ele. Meu filho tinha ido à casa do tio, com dois amigos, para buscar pipoca para uma festa junina.
Logo após saber da morte, a mãe se desesperou e começou a gritar:
— A minha vida acabou!
O cenário foi de revolta após a confirmação da morte de Jhonata. Janaína precisou ser amparada por parentes, que também choravam. Na unidade hospitalar, familiares e amigos atribuíram aos policiais a responsabilidade pelo desfecho trágico da ação na comunidade. Eles negaram que tenha havido um confronto com bandidos no local.
— Não teve tiroteio. Eles acertaram a cabeça do meu filho, acabaram com a minha vida. Todo mundo viu ele com o saquinho de pipoca na não. O amigo que estava com ele se jogou em um monte de areia (no chão) — disse a mãe, aos prantos, mostrando as mãos com manchas de sangue, oriundas do boné que Jhonata usava no momento em que foi atingido pelo disparo. Bastante abalada, ela deixou a unidade o hospital em seguida.
Primogênito de Janaína, Jhonata tinha outros quatro irmãos. Ele cursava o primeiro ano do esnido médio em um colégio estadual. Parentes contaram que, como a mãe precisava trabalhar, ele ajudava a cuidar dos irmãos mais novos.
— Era um garoto do bem, tinhe 16 anos com cara de 12. Soltava pipa e amava a namorada. Era muito carinhoso — disse uma tia do rapaz.
— Ele foi buscar o saquinho de pipoca (na minha casa). Quando ele descia (a via), confundiram o saquinho de pipoca com drigas — afirmou, chorando, outra tia do adolescente, Luana Santos, que esteve com o jovem momentos antes de ele ser atingido.
Segundo testemunhas, os disparos teriam sido realizados no momento em que uma moto com criminosos passava próximo ao jovem. Sem se identificar, um morador do Borel contou contou como foi a ação:
— A polícia atirou na direção de um grupo de bandidos que estava passando, mas um dos disparos acabou pegando nele, que não tinha nada a ver com o confronto.
O objetivo da ação, que conta com o apoio do 6º BPM (Tijuca), não foi divulgado. Segundo a PM, alguns moradores chegaram a arremessar pedras em direção às equipes. O Morro do Borel conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde junho de 2010.
Pelas redes sociais, moradores da região fizeram relatos da operação: “Acabei de chegar no morro. O clima está tenso”, escreveu um deles.
Segundo o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Borel, “dois homens em uma motocicleta foram abordados na localidade conhecida como Curva do Horácio, na noite dessa quinta-feira. Antes da parada, eles sofreram uma queda e um dos ocupantes, de acordo com os policiais, estava armado e atirou contra a equipe. Em seguida, suspeitos em um beco próximo ao local, também armados, iniciaram um confronto com os agentes. Um homem foi baleado e socorrido pelos policiais para o Hospital do Andaraí. O outro ocupante da moto e os demais suspeitos conseguiram fugir”.
Ainda de acordo a PM, o policiamento foi reforçado com o apoio de outras UPPs e também do 6º BPM (Tijuca). A Divisão de Homicídios está investigando o caso.
ÔNIBUS DEPREDADO
Após o adolescente ser baleado no Borel, alguns moradores da comunidade depredaram um ônibus na Rua São Miguel, que margeia a favela. As janelas do coletivo ficaram destruídas. A ação foi controlada por policiais militares. Ninguém ficou ferido. O policiamento foi reforçado na região.
De acordo com o Centro de Operações da prefeitura, a Rua São Miguel foi interditada, e um trecho da Rua Conde de Bonfim também terminou bloqueado devido à operação. As vias já foram liberadas.
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