A corrida é definitivamente um dos esportes mais
democráticos que existem. Claro que há diversos aparatos capazes de otimizar os
resultados como relógios modernos, meias de compressão, géis especiais, entre
outros. Mas na prática não é preciso mais do que um par de tênis, roupas confortáveis,
uma rua segura e disposição para sair correndo. E é assim, apenas contanto com a
própria força de vontade, que muitos atletas amadores conseguem chegar longe na
modalidade. Alguns deles marcaram presença na Corrida Noturna Eu Atleta SP - que
ocorreu na noite desse sábado, no campus da USP -, fizeram bonito e subiram ao
pódio. Para tentar desvendar o segredo que os fazem mais rápidos do que a grande
maioria, o Eu Atleta conversou com os primeiros colocados e descobriu histórias que podem te
inspirar a calçar o tênis e sair por aí (veja vídeo abaixo).
Noite no campus: Corrida Eu Atleta aquece São Paulo com prova na USP
Claro que talento é importante. A genética também conta a
favor do corredor. Mas mesmo quem não “nasceu para correr” pode conseguir um
bom desempenho se se apoiar em dois pilares: treino e disposição.
- O segredo é treinar. Se você não treinar, não chega lá na
frente. Não adianta querer se equipar. O pessoal
faz isso para sair na foto. Eu corro até de cueca! O importante é o treino - garantiu,
com bom humor, Cristóvão da Silva, 30 anos, que tem se especializado em provas
de 5km e beliscou o pódio com a quinta colocação na Corrida Eu Atleta.
E é com muita dedicação aos treinos que o coletor de lixo Fernando
Bezerra da Silva vem conseguindo bons resultados em provas longas, como a
Maratona de São Paulo, que ele disputa há 10 anos, e nas curtas. Nesse sábado,
o atleta de 33 anos, que treina sem orientação profissional e conta apenas com
dicas e a ajuda de amigos, foi o terceiro colocado nos 10km.
- Essa rotina é muito difícil. Pela força de vontade, garra
e determinação, eu procuro treinar de duas a três vezes por semana para
aprimorar a velocidade, porque resistência eu já treino durante a semana, trabalhando,
de segunda a sábado. Treino há três anos e sou autodidata. Tenho algumas
orientações de colegas corredores de assessorias amigas. Tem sempre alguém que
vê minha força de vontade e acaba me ajudando na compra dos suplementos, por
exemplo. A empresa que eu trabalho me dá apoio dando reembolso das inscrições
- contou Fernando.
Equilíbrio entre treino e descanso é a chave do sucesso de uma boa corrida
E parcerias são fundamentais para os corredores com menos
recursos financeiros. Além da troca de informações, apoio de treinadores amigos
e ajuda com suplementação, outra prática que ao menos alivia o bolso dos
atletas amadores é a colaboração no pagamento das inscrições.
- Tenho apoio para pagar as inscrições de uma pessoa que é como
se fosse minha mãe. Treino às 5h40 da manhã e vou trabalhar. À tarde treino de
novo, 18h30, para melhorar meus resultados. E tenho um treinador, que é um cara
gente boa, que está sempre me apoiando, me passa treinos pelo celular - contou Cristóvão,
que tem um lava a jato na capital paulista e garante que não se preocupa em fazer
uma alimentação balanceada:
- Como de tudo, mas no treino eu me mato. Nutricionista vou
raramente, porque tem que pagar.
Quem não tem apoio se vira como pode para tentar tornar o
amadorismo o mais profissional possível. É o caso da fiscal de caixa Michele
Fonseca. Aos 37 anos ela foi a quinta colocada na prova feminina de 10km, sendo
a única no pódio que não se dedica exclusivamente às corridas.
- Tenho acompanhamento com personal na academia, médico,
tudo certinho. Mas é tudo do meu bolso. Tenho uma equipe em Mogi-Guaçu e
conto com eles para me ajudar nos treinos. Mas é só. Suplementação, academia, é tudo
por minha conta. Para mim é gratificante. O esforço é todo meu. É tudo do seu
bolso. Pago minhas inscrições. E isso não tem preço - disse, emocionada.
Veja como inserir os treinos de vez na rotina e garantir uma evolução gradual
Se viver de esporte no Brasil é complicado, quando o assunto
é corrida, pode ser ainda mais. Vencedor dos 5km com um tempo de 16 minutos, Claudinei
Souza, 32 anos, tentou, mas não conseguiu...
- Esse mundo do esporte é muito injusto, cheguei a tentar
viver disso, mas não dá. Curso educação física e graças a Deus consegui um
emprego como auxiliar administrativo.
E fica a questão... Se sem apoio esses atletas conseguem vencer
provas, chegar muito à frente de quem lança mão de vários recursos para
otimizar suas corridas, até onde será que eles poderiam ir se a história fosse
diferente?
- Fico surpreso pela minha capacidade. Acredito que se eu
tivesse condições poderia ir mais longe. Me apaixonei por esse esporte. Fico muito
feliz pela superação e força. Nem acredito que as vezes consigo subir ao pódio -
disse o coletor de lixo Fernando.