14/07/2016 19h40 - Atualizado em 23/09/2016 21h54

Mineiros cuidam de máquinas de mina para obrigar donos a pagar dívidas

Grupo se arrisca para que valor dos aparelhos seja usado em pagamento.
Mais de 600 trabalhadores foram demitidos após abandono de mina.

Do G1 SC

Mineiros que foram demitidos após uma mina ser abandonada entre Criciúma e Forquilhinha, no Sul catarinense, arriscam-se no local para cuidar das máquinas. O objetivo deles é que o valor dos equipamentos seja usado para pagar dívidas trabalhistas.

Mais de 600 mineiros foram demitidos após o abandono da mina, como mostrou a segunda reportagem de uma série especial do RBS Notícias, nesta quinta-feira (14).

Desde que a mina parou de render carvão, em junho de 2015, foi abandonada pelos donos e virou alvo de arrombamentos e saques. No começo deste ano, um grupo de mineiros que ficou sem receber a rescisão decidiu cuidar do patrimônio, que pode servir para a Justiça obrigar os donos a pagar a dívida trabalhista.

"A gente está tentando nos organizar e manter as coisas de uma forma que a gente consiga manter o valor das peças e dos equipamentos para que isso se reverta a nosso favor", afirmou o mineiro Emerson de Bona Sartor".

A mina abandonada se tornou um dos maiores problemas ambientais do estado. As galerias abertas para a extração de carvão podem inundar a qualquer momento, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

Riscos
São 47 mineiros que se arriscam. Para fazer drenagem da água e evitar que inundações atinjam os equipamentos avaliados em R$ 30 milhões, eles descem até o subsolo em um elevador, que já não recebe a manutenção exigida pelas normas de segurança.

Todo dia, o grupo de mineiros desce 150 metros da superfície até chegar na mina. Atualmente, eles não têm mais um engenheiro de minas que seja reponsável pela segurança. Além disso, o controle de gases já não é mais tão rigoroso. Porém, eles são experientes. Sabem exatamente até onde ir e onde devem parar.

Mineiros pedem donativos em praça de Criciúma (Foto: Sindicato de Mineiros de Forquilha/Divulgação)Em novembro, mineiros fizeram campanha no Centro de Criciúma para arrecadar cestas básicas
(Foto: Sindicato de Mineiros de Forquilha/Divulgação)

O mineiro Nereu Dalmaso sentiu o risco na pele quando o elevador, conhecido como gaiola, começou a dar sinais da falta de manutenção. Ele fazia parte do grupo que tentou resistir ao abandono da mina.

Porém, depois de quase um ano trabalhando praticamente sem receber salário, não teve alternativa. "Saí para pegar outro rumo. Porque a mina parou, mas a gente não pode parar, tem que trabalhar", afirmou Dalmaso

O mineiro estava quase se aposentando e ainda não achou um emprego fixo. Atualmente, faz bicos como servente de pedreiro.

Luta na Justiça
A situação das centenas de mineiros como Dalmaso se arrasta na Justiça. Sem emprego ou salário, muitos tiveram que contar com a solidariedade das pessoas até para comer. Em novembro do ano passado, eles fizeram uma campanha no Centro de Criciúma para arrecadar cestas básicas.

Depois de muita luta, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 30 milhões dos bens dos donos da Carbonífera Criciúma e de parentes deles. Só que, sem uma decisão judicial definitiva, esse dinheiro, até hoje, nunca chegou na mão dos trabalhadores.

"Realmente patrimônio eles têm, mas, se não tiver a boa vontade para pagar os trabalhadores, também não adianta de nada", afirmou o presidente do Sindicato dos Mineiros de Forquilhinha, Fernando Maurício Nunes.

Pelos cálculos do sindicato, a dívida trabalhista da empresa pode chegar a R$ 50 milhões. A conta é cobrada pelo Ministério Público do Trabalho, mas não há data certa para o julgamento definitivo.

A Carbonífera Criciúma não quis comentar sobre a mina.

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