Matéria em associação com a Bulgari (Foto: GQ Brasil)

Esqueça por um momento Paulo Mendes da Rocha, Isay Weinfeld, Arthur Casas, Marcio Kogan e Paulo Jacobsen, todos arquitetos brasileiros que dispensam apresentações. Há uma nova geração com notório sucesso e estilos bem demarcados arrebatando a preferência de muita gente. Os 10 arquitetos escolhidos pela GQ e aqui perfilados têm até 50 e poucos anos de idade, uma trajetória bastante consolidada e clientes que são figuras importantes nas áreas em que atuam. Numa profissão de fôlego, em que o ápice costuma vir mais tarde do que em outros ramos, esses proeminentes arquitetos se destacam com um trabalho sólido e de muita personalidade, têm o reconhecimento do mercado brasileiro e já podem ser apontados como mestres do amanhã.

Felipe Diniz

Felipe Diniz (Foto: Romulo Fialdini)

A faceta mais famosa de Diniz, além do elo com o Grupo Pão de Açúcar, fundado pelo avô, é a de anfitrião do gala beneficente da amfAR. Seu trabalho como arquiteto, porém, talvez seja o melhor exemplo da forma como enxerga o mundo. Após cursar administração e trabalhar num banco, optou tardiamente pela arquitetura. E a formação na área (em 2006) lhe forneceu os princípios que defende hoje, aos 48 anos: “Menos carros, menos espaço na casa, menos coisas”. Defende e pratica. Ele trocou uma casa espaçosa que demandava três empregados por um apartamento.  

Seus projetos, dentre eles a casa do irmão Dinho, onde acontece a festa da amfAR, são pautados pelo bem-estar. “O conforto dita todos os meus projetos. Eles têm de funcionar acima de tudo, acima de estilo e estética.” Daí a opção pelo uso da madeira e de pedras naturais em muitas de suas obras – quanto menos sintéticos os materiais, maior a sensação de aconchego.
 


Felipe é um andarilho. Impedido de jogar tênis e polo, duas grandes paixões, por um problema no fêmur, nos fins de semana que fica em São Paulo nada o agrada mais do que caminhar – chega a andar por quatro horas. Sinal de que a carreira vai bem, acaba de ser chamado para coordenar a decoração da Torre Rosewood, o ambicioso hotel e residencial seis estrelas em construção junto ao antigo Hospital Matarazzo, na região da Avenida Paulista. Com projeto do Pritzker Jean Nouvel e interiores concebidos por Philippe Starck, Diniz será o responsável por adaptar o conceito do designer ao gosto da exigente clientela.

Estilo: se por fora linhas retas e materiais naturais dominam, por dentro há espaço para muranos, flores e cores usadas com inteligência.
Clientes: o chef Alex Atala, a estilista Fernanda de Goeye e o publicitário anuar tacach. A casa do irmão Dinho é um xodó.

Sarkis Semerdjian

Sarkis Semerdjian (Foto: Romulo Fialdini)

Há um provérbio armênio que diz algo como: “É mais forte a raposa que anda do que o leão que dorme”. Sarkis cansou de ouvi-lo da boca de sua avó, e colocou-o em prática tão logo se formou em arquitetura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Sua primeira incursão foi pedir emprego ao profissional que mais admirava, Isay Weinfeld. A cara de pau rendeu-lhe uma vaga e a amizade do homem com quem hoje divide as pranchetas do Pascali Semerdjian Arquitetos, Domingos Pascali, então braço direito de Weinfeld. A parceria iniciada num quarto de empregada onde começaram o escritório ofereceu ao jovem a chance de dar vazão à criatividade influenciada pelos seriados japoneses, quadrinhos e heavy metal consumidos na adolescência. “Eu adorava copiar as capas do Iron Maiden, mas hoje sei que não são o design mais cool do mundo.”


As casas e apartamentos que desenham para os clientes,  a maioria executivos do mercado financeiro, juntam-se a luminárias e móveis que não repetem o que existe por aí. Os dois, na verdade, têm horror à repetição. Preferem delinear meticulosamente cada detalhe dos projetos – uma porta de latão perfurado aqui, uns nichos coloridos de estante ali, uma parede de quadrados de vidro acolá.  “Não queremos virar uma fábrica de salsicha arquitetônica”, diz Sarkis, de 35 anos, bem aproveitados em viagens para lugares exóticos como a Islândia, o interior do Panamá e a própria Armênia. E aprofunda: “Tem aquela mulher que você bate o olho e acha linda. E tem aquela que num primeiro momento você pode não achar, mas com o tempo se dá conta de que é maravilhosa. Queremos ser essa mulher”.

Estilo: a base é a arquitetura modernista e cada detalhe é customizado à exaustão, sempre em busca de conforto tátil e visual.
Clientes: a publicitária Beia Carvalho e os médicos Alberto Cordeiro e Augusto Romão. Entre os clientes comerciais está o grupo Grendene.

Fernando Forte

Fernando Forte (Foto: Romulo Fialdini)

Não há tempo, escala ou briefing ruim para ele, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, os três sócios que formam o FGMF Arquitetos. Casas, prédios comerciais, escolas, fábricas, cafés, salões de cabeleireiros e até um sofá fazem parte do repertório dos rapazes de São Paulo, que montaram o escritório ainda nas salas de aula da FAU-USP. “A gente não tem preconceito de fazer nada. As coisas vão ser construídas – você pode fazer o melhor possível para que sejam boas ou pode virar as costas, como fizeram os grandes arquitetos nos anos 70 e 80”, diz Forte, de 39 anos.

Nascido e criado no bairro paulistano de Higienópolis, onde ainda mora, festeiro e cinéfilo, ele quase se surpreende com o quão longe já foi na profissão. São mais de 90 os prêmios nacionais e internacionais ganhos pelo FGMF desde a fundação, na virada do ano 2000. As conquistas são atribuídas ao approach experimental do trio, que envolve desde a mistura de materiais como metal e madeira nas estruturas até a decomposição de uma residência em vários blocos separados, unidos por inovadores terraços, corredores e até pontes. Uma das mais recentes realizações do escritório foi o Prêmio de Arquitetura AkzoNobel de 2014, com o projeto da chamada Casa Grelha, no interior de São Paulo.


Em matéria de estilo pessoal, prefere investir em móveis a gastar em roupas. “Estou sempre de camiseta, calça jeans e tênis New Balance, que uso desde os anos 90”, diverte-se. Também não é afeito a muitas viagens. “Eu faço um esforço para ir, sei que é importante para minha formação”, diz. “Gosto mesmo de sair da cama para ver obra de pé.”

Estilo: a escola moderna paulista trazida para os dias de hoje, com projetos mais fragmentados, experimentais e sustentáveis.
Clientes: de estilo mais low profile. O DJ Gui Boratto, a escritora Noemi Jaffe e a designer Amélia Tarozzo.

Beto Figueiredo

Beto Figueiredo (Foto: Romulo Fialdini)

O acaso sempre jogou a seu favor. Quando o Plano Collor lançou o país à lama, o carioca, hoje com 52 anos, arrumou as malas e foi para Portugal, onde os bons ventos da União Europeia viabilizaram sua carreira solo, iniciada no aperto de um sótão em Cascais, em que desenhava lojas na companhia de um poodle chamado Ouriço. Anos depois, de volta ao Brasil, andava pelo Leblon desesperado por ter recebido, num mesmo dia, quatro encomendas de projetos de que jamais daria conta sozinho, quando encontrou Luiz Eduardo Almeida – o arquiteto que lhe dera o primeiro estágio. E que se tornaria, ali, seu sócio na Ouriço Arquitetura e Design. Outra coincidência? Sua mulher lhe trouxe sua cliente mais importante: Malu Mader, amiga da adolescência, para quem fez uma casa em Penedo e uma cobertura no Leblon, ambos projetos bastante badalados. Embora já tivesse trabalhado para Martinho da Vila e Maitê Proença, Malu lhe abriu as portas para inúmeros globais.


Figueiredo aproveita ao máximo as possibilidades outdoor que o Rio oferece: corre, caminha, faz exercícios e medita. Fora do Rio, viajar é seu hobby. A fotografia também. Os dois se combinam nas cidades que visita – em especial Nova York, onde se sente em casa. As duas metrópoles, aliás, inspiram marcas registradas de seus projetos, como luminárias de estilo industrial ou persianas de madeira. Ele sabe por que a Ouriço agrada tanta gente: “Queremos que o projeto pareça espontâneo, com a cara do cliente. É a tal casa com cara de casa”.

Estilo: despojado e aconchegante, com elementos pop, rústicos e industriais. Os interiores detalhados são sempre o ponto alto

Clientes: globais como Malu Mader, Maitê Proença, Cláudia Abreu, Betty gofman e Helena Ranaldi, além dA estilista isabela capeto.

Felipe Hess

 Felipe Hess (Foto: Romulo Fialdini)

Muitas das casas imaginadas por ele possuem, em algum ponto da sala, uma grande estante desenhada sob medida para cada proprietário. Reflexo, talvez, da paixão do arquiteto por música e livros, que nutre com tanta intensidade quanto o entusiasmo pela profissão. Apesar dos parcos 31 anos, Hess vasculha lojas atrás de CDs raros e aprendeu quase tudo o que sabe na biblioteca da Escola da Cidade, em São Paulo, onde se formou. Essa pegada old school permeia tudo o que faz, do mobiliário vintage brasileiro e escandinavo que emprega em seus projetos às roupas que traja. “Sempre me vesti de um jeito meio careta”, diz. “Comecei a trabalhar sozinho muito novo, precisava passar uma impressão de que era um cara responsável.”

No segundo ano de faculdade, descobriu quem era Isay Weinfeld e pôs na cabeça que deveria trabalhar com ele. “Eu virei um maníaco obsessivo: pulava muro de obra, encontrava com ele em show, era uma coisa meio doentia.” Até que, após algumas tentativas, finalmente conseguiu. E passou quase cinco anos no escritório do ídolo, absorvendo tudo o que podia até sair de lá e abrir a própria empresa. Contratou a primeira estagiária porque ela ficara dois dias na fila de um show do Paul McCartney. E colheu cedo os louros do sucesso, graças à inspirada reforma de um apartamento no Edifício Copan, publicada à exaustão dentro e fora do Brasil.


Entre um trabalho e outro (muitos para executivos do mercado financeiro ou advogados), Hess tem se dedicado à restauração de um BMW da série 02, de 1974, é claro. Suas surpreendentes residências mais novas atestam um estilo em formação, em que o melhor ainda está por vir.

Estilo: minimalista, reverente à arquitetura e ao design do Mid-century. Espaços abertos, com poucos e Bons móveis, são uma marca.
Clientes: as casas do antiquário rafael moraes, da artista plástica Marina Saleme e a galeria Mendes Wood DM têm sua assinatura.

Maurício Arruda

Maurício Arruda (Foto: Romulo Fialdini)

A trajetória desse londrinense de 42 anos em nada se parece com a de seus colegas de profissão. Ao se formar arquiteto pela Universidade Estadual de Londrina, Arruda não largou a escola – partiu para um mestrado na USP e logo se viu dando aulas de design de interiores, antes mesmo de abrir um escritório próprio. No início, as muitas reformas que tocou pouco fizeram pelo seu nome em comparação com as subsequentes incursões pelo design de móveis e objetos de simplicidade e beleza fulminantes, rapidamente pescados pelas revistas especializadas. Só depois disso o mundo viria a descobrir seu talento para resolver espaços de forma prática, acessível e bem-humorada, com olho afiado para cores e bom desenho. “Eu tento fazer tudo com coisas disponíveis no mercado, de uma maneira economicamente viável”, diz.


O arquiteto tem hoje o tempo dividido entre dois estúdios – Maurício Arruda Design (de produtos) e Todos (de arquitetura e branding 3D), além do programa Decora, do GNT. Este último, aliás, fez o paranaense atingir um novo ápice de popularidade, o que tem lhe agradado bastante não só pela fama. Ao adentrar casas e apartamentos de pessoas comuns para redecorar a sala ou fazer caber três crianças num quarto onde dormia apenas uma, Arruda espera “mostrar que o design é uma ferramenta para resolver problemas e melhorar a qualidade de vida”. Quando não mexe com a vida alheia pela via da arquitetura, tenta fazê-lo pelo estômago. “Gosto muito de cozinhar e de ter a casa cheia, e a comida tem esse poder de reunir as pessoas e transformar tudo.”

Estilo: pop sem cair no popular. os interiores sempre aparecem com muita força visual graças às cores, detalhes gráficos e bom design.
Clientes: famílias de classe média e média alta interessadas em design. No lado corporativo, já fez ambientes para a rede Accor.

Martin Corullon

Martin Corullon (Foto: Romulo Fialdini)

Quem gosta de arte provavelmente gosta do que a gente faz”, vaticina Corullon, sócio-fundador do Metro Arquitetos Associados. Tendo projetado as novas sedes das galerias Casa Triângulo e Leme – esta última em parceria com Paulo Mendes da Rocha, com quem, aliás, assina também o complexo cultural Cais das Artes, em construção em Vitória (ES), entre outros edifícios –, ele sabe o que fala, apesar de não se considerar um colecionador de arte.

O envolvimento com a cultura e com nosso maior arquiteto vivo vem dos tempos de FAU-USP, quando foi chamado pelo então professor Paulo a estagiar no seu escritório – a primeira coisa que desenhou para o mestre foi um guarda-corpo para o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE). A colaboração se manteve após a fundação do Metro. O casal Fernanda Feitosa, todo-poderosa da SP-Arte, e Heitor Martins, presidente do MASP, tem anexo à sua casa paulistana um pavilhão concebido por  Corullon para expor sua coleção de arte.


Para as residências que cria, o arquiteto de 43 anos e os sócios são capazes de transpor o mesmo tipo de arquitetura das galerias, “na fronteira entre o expressivo e o discreto”. “Não fazemos algo genérico, e existe uma demanda hoje por uma arquitetura não genérica”, afirma. A exemplo do mentor, tende a distinguir pouco o trabalho da vida pessoal, transformando,  muitas vezes, viagens profissionais em jornadas de lazer. Quando não está pedalando com as três filhas, adora ir a museus, onde aprecia tanto a exposição como a construção do edifício.

Estilo: o brutalismo de Artigas e Paulo Mendes da Rocha versão século 21. concreto e materiais crus, mas com luz natural abundante
Clientes: figuras capitais do mercado das artes, como os casais Fernanda Feitosa e Heitor Martins e Isabella prata e Idel Arcuschin.

Marcelo Alvarenga

Marcelo Alvarenga (Foto: Romulo Fialdini)

Como bom mineiro, criado no pequeno município de Lavras e radicado em Belo Horizonte, ele gosta de bater papo. E ao prosear com o arquiteto logo se percebe que a inteligência e a clareza com que se expressa são as mesmas observadas nas residências e lojas que projeta, como a Coven ou a Casa EG, seus dois trabalhos mais conhecidos, e também nos móveis e acessórios que cria em parceria com a irmã, sob a marca Alva.

O segredo do sucesso? Alvarenga, de 41 anos, jamais subestimou o poder do traço bem-feito. Exímio desenhista, herdou de sua primeira mestra, a também mineira e arquiteta Freusa Zechmeister, um conhecimento enciclopédico de detalhes arquitetônicos. E de Isay Weinfeld, com quem atuou por sete anos, o gosto pela troca de informações e pela criação propriamente dita.


O passo seguinte foi a fundação do Play Arquitetura, assim batizado em homenagem ao seu próprio apelido (a origem é o brinquedo Playmobil, caso você esteja se perguntando). Ligado às suas origens, mas aberto para o mundo, o profissional equilibra a tradição modernista aprendida em São Paulo com algo mais ancestral: “Não gosto muito da tecnologia, me encanta mais o ser humano, a dúvida – isso vem do barroco”. Não é raro encontrar presenças marcantes de concreto
e tijolos em seus projetos de arquitetura, bem como madeiras e couros nas peças
de design. “Meu cliente é o cara que quer um relacionamento sério com o projeto, que valoriza realmente um bom desenho”, conta. Para a sorte dessa freguesia, o cara também é bom companheiro de conversa.

Estilo: contemporâneo, com as linhas retas do modernismo mas sem ser impessoal, graças ao uso de materiais quentes e design assinado.
Clientes: tem projetos para pessoas de mercados criativos como artes e moda. assina as casas de Fernanda Motta e Patrycia Travassos.

Miguel Pinto Guimarães

Miguel Pinto Guimarães (Foto: Romulo Fialdini)

Não é difícil trombar com ele nos bares mais clássicos do Leblon, como o Jobi ou o Diagonal. Nesses dois templos da boêmia carioca, ele provavelmente estará cercado daquilo de que mais gosta: gente. Seus clientes (e amigos) vão “de ricos a alternativos, de coxinhas a petralhas”, conta. A lista é extensa. Vai do autor de novelas João Emanuel Carneiro, para quem fez uma casa em Petrópolis (RJ), ao bilionário Jorge Paulo Lemann e sua fundação, para quem está transformando a antiga Casa Daros na aguardada Escola Eleva.

Precoce, Guimarães levou poucos anos para percorrer o caminho entre o seu quarto de infância, onde se trancava a desenhar por horas a fio, e o primeiro escritório, aberto em sociedade com o amigo Thiago Bernardes, aos 18 anos. Demorou mais uma década para sair e fazer sua própria firma, mas pouco tempo para concluir que “as casas do Brasil são as melhores do mundo, sem a menor dúvida”. “É o único segmento da arquitetura que é valorizado no país; as obras públicas com design de qualidade são poucas”, diz o carioca de 41 anos.


Seus projetos misturam-se à paisagem ao redor. “Minha meta hoje é simplificar a vida do sujeito. Mas essa simplicidade nem sempre é fácil de vender. Muitos clientes aqui querem comprar o exagerado”, afirma o profissional, de cuja sanha simplificadora nem suas roupas escapam. Ganha um chope no bar Bracarense quem encontrá-lo por aquelas bandas usando qualquer coisa muito diferente do seu uniforme camisa azul (ou camiseta branca), calça jeans e sapatos Camper.

Estilo: quase minimalista, incorpora muitos elementos brasileiros. Suas casas de formas limpas são iluminadas e bastante arejadas.
Clientes: os globais João Emanuel Carneiro, Bruno Gagliasso, Murilo Benício e Adriana Esteves, além do prédio da Fundação Lemann no Rio.

Thiago Bernardes

Thiago Bernardes (Foto: Romulo Fialdini)

Estar diante de uma casa desenhada por ele – ou de fotos dela, já que a maioria está isolada por muros ou pela geografia selvagem – exerce um fascínio único a que mesmo o mais desatento dos mortais não consegue passar incólume. Sua presença, no entanto, é discreta. O profissional de 41 anos diz preferir ouvir a falar, mas há um assunto do qual não consegue fugir: a incalculável importância do sobrenome que carrega. Filho e neto de dois gênios da arquitetura nacional  – respectivamente Claudio Bernardes, que incorporava elementos de ocas indígenas e do estilo colonial português às moradias que criava, e Sergio Bernardes, o maior arquiteto residencial moderno do Rio de Janeiro –, Thiago jura que tentou fazer outra coisa da vida (flertou com a fotografia na adolescência). Mas não deu. “Não é que a arquitetura estava no meu sangue; estava na minha vista”, conta, sobre crescer rodeado de pranchetas.

Sua história divide-se em três: o início ainda jovem com Miguel Pinto Guimarães; a sociedade com Paulo Jacobsen após a morte do pai; e a abertura do Bernardes Arquitetura, onde hoje comanda cerca de 60 pessoas entre Rio, seu berço e base principal, e São Paulo. Ali, cria casas de vulto, feitas quase artesanalmente, mas trabalha também num projeto de casas pré-fabricadas. “Essa é uma maneira de oferecer o meu trabalho para outro público”, diz. “Eu sofria muito com essa coisa: ‘Pô, eu só trabalho pra rico’. Tolice. A arquitetura, em qualquer época, precisa de dinheiro para ser feita.”


Surfista desde moleque e hoje grande entusiasta do kitesurfe, tem nas artes plásticas uma grande motivação: “As sensações que eu tenho vendo arte de qualquer tipo são aquelas que eu busco provocar com a arquitetura; mas sei da diferença entre as duas, arquitetura não é arte”.

Estilo: contemporâneo e global – com mobiliário e ambientação de primeira –, sem deixar a brasilidade e o modernismo herdados da família.
Clientes: Luciano Huck (mansão no Joá e a pousada que fez com João Paulo Diniz em Fernando de Noronha) e Fernanda Torres. Assina Também o Museu de Arte do Rio.