Em meio ao polo industrial e tecnológico que cresce no entorno da Baía de Guanabara, uma comunidade fundada há quase 92 anos tenta manter suas raízes. A Colônia de Pescadores Z-10, cujo acesso é feito por uma ponte que a liga ao bairro da Ribeira, ainda preserva ares de cidadezinha do interior. No local, jovens herdam o ofício de seus pais — que, por sua vez, o herdaram de seus avós — e vivem da pesca artesanal, uma atividade que enfrenta, a cada ano, mais dificuldades, seja pela competição desigual com a praticada em larga escala, pela poluição ou pelo aumento das áreas nas quais a atividade é proibida, por conta de ações petrolíferas. Atualmente, a renda mensal de um pescador varia entre R$ 500 e mil reais, e uma forma encontrada por alguns para complementá-la é divulgar a colônia e seu potencial turístico.
Aníbal Ferreira, presidente da colônia, diz que, para quem vive ali, trabalhar está ficando cada vez mais difícil:
— A vida do pescador artesanal é marcada por muito sacrifício. A maioria tem barcos pequenos e precisa ir para longe, já que, por aqui, praticamente não há mais áreas boas para pegar peixes. Mas nossa luta não para; prova disso é que temos, hoje, 1.600 trabalhadores cadastrados.
A venda da maior parte do pescado acontece na própria colônia, numa banca que fica logo na entrada. Com frutos do mar frescos e preços abaixo dos cobrados no mercado, consumidores de todos os cantos da cidade aparecem por lá.
Américo Gonçalves de Araújo, um dos pescadores da Z-10, vive desde criança na colônia. Ele aprendeu a pescar com o pai e, triste, conta que, algumas vezes, é mais vantajoso levar o peixe para casa do que vendê-lo.
— Algumas espécies não dão muito retorno, então nós mesmo comemos. O camarão é bem lucrativo, mas praticamente desapareceu da região — conta Américo.
Ele é irmão de Arilson Gonçalves de Araújo, conhecido como Camarão, dono de um dos pontos mais frequentados da colônia: o Bar do Camarão, na Rua Antônio Salles.
— Recebemos estrangeiros e até celebridades no almoço. Jogadores de futebol como Júlio César, do Grêmio, e Diego Souza, do Vasco, vêm sempre aqui — diz, orgulhoso.
Entre as especialidades da casa estão a salada de corvina (R$ 25) e o pastelzinho de camarão (R$ 0,95, cada). O bar funciona quarta e quinta-feira, das 15h à meia-noite; sexta, das 13h à 1h; sábado, do meio-dia à 1h; e domingo, do meio-dia às 22h.
Outro atrativo da colônia é o manguezal do Rio Jequiá, que vem se reerguendo gradativamente desde um vazamento de óleo ocorrido em 1974. Os méritos por essa recuperação são de José Luiz de Castro Ferreira, conhecido na colônia como Zé Luiz do Jequiá.
Ele dedicou boa parte da sua vida ao manguezal e perdeu a conta de quantas mudas já plantou no local — há uns dois anos, calculava mais de 700 mil.
Sem qualquer formação na área ambiental, Zé Luiz aprendeu tudo que sabe por conta própria, e já foi alvo de uma ação judicial por promover o replantio.
— Fui processado por produzir mudas sem ter formação de engenheiro ambiental. Tive de brigar com muita gente, sofri muita pressão para não levar essa luta à diante — conta.
Nos anos 70, com base em livros do Instituto de Pesquisas da Marinha, Zé Luiz elaborou um relatório e conseguiu impedir que o manguezal fosse aterrado. Na década seguinte, criou a Associação Amigos do Manguezal do Jequiá, da qual é presidente até hoje. Em 1990, participou do movimento que impediu a prefeitura de construir uma estrada que passaria pelo local. Em 1993, conseguiu fazer com que um decreto transformasse o manguezal em área de proteção ambiental.
— Enquanto estiver vivo, vou lutar pela preservação desse local — afirma.