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Por Daniel Mundim — Rio de Janeiro


Na derrota por 2 a 1 contra o Lyon, Thiago Mendes fez o gol do Lille, um de seus quatro pelo clube

Na derrota por 2 a 1 contra o Lyon, Thiago Mendes fez o gol do Lille, um de seus quatro pelo clube

Nada como encarar a melhor equipe do campeonato, com 34 pontos à sua frente, e ter que marcar um dos melhores jogadores do mundo para afastar a crise. Assim o volante, ou melhor, o meia Thiago Mendes encara a partida entre o Lille e o PSG. O ex-São Paulo enfrentará Neymar e companhia pela primeira vez na França, neste sábado, às 14h. E está confiante. Mas reforça que sofrerá, como todos no futebol francês, para parar o camisa 10 do Paris.

– É difícil. Você não sabe nada do que ele vai fazer, se falar que a gente vai bater, eu estaria mentindo. Não dá para saber. Vamos tentar não deixar ele jogar, tentar dar um jeito – declarou, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Lille x PSG será neste sábado, às 14h, com transmissão do SporTV e acompanhamento em Tempo Real no GloboEsporte.com

Thiago Mendes tem quatro gols em 21 jogos no Lille: curte a fase como meia e mais liberdade para jogar — Foto: Divulgação/Lille

Thiago não menciona a palavra “bater” em vão. Foi uma reclamação recente de Neymar. O atacante do PSG diz que recebe muitas pancadas dos marcadores do futebol francês. E o meia do Lille concorda.

– Ele realmente apanha bastante, mas quanto mais ele apanha, mais ele joga – sentencia Thiago.

Mais do que parar Neymar, Thiago vislumbra no duelo com o PSG deste sábado uma oportunidade para emendar uma reação. Com 25 pontos, o Lille ainda está perto da zona de rebaixamento, onde ficou na maior parte do campeonato. Mas o jogador vê sua equipe em um melhor momento daquele enfrentado quando os dois times se encontraram pela primeira vez, na 17ª rodada.

– Naquele momento, tudo estava complicado. A diretoria não podia contratar jogador, e também com a falta de treinador. Teve que mudar. Agora estamos com um treinador. Viemos de uma vitória. Com certeza estamos melhores. Agora temos um treinador (Christophe Galtier). Naquela ocasião tínhamos um interino (João Sacramento). Estamos mais tranquilos agora – avalia.

Christophe Galtier, técnico do Lille: "Thiago Mendes é um jogador com habilidade de ser decisivo finalizando, passando... Eu quero ele o mais perto do gol adversário possível. Mas ele também pode jogar em outras posições"

A má fase do Lille veio no primeiro turno, quando a equipe era comandada por Marcelo Bielsa. O argentino esteve à frente do time por 15 jogos: venceu na estreia e depois emendou uma sequência de 10 jogos sem vencer. Foi afastado com três vitórias, cinco empates e sete derrotas. Agora, o treinador cobra uma dívida milionária do clube. Para Thiago Mendes, a experiência com Bielsa foi muito válida. No entanto, os resultados foram frustrantes.

– A diretoria se baseou no resultado, que não vinha. Sempre no final a gente sofria um gol e não tinha poder de reação. O resultado não vinha. Poderia jogar dois dias, que o resultado não vinha. É justamente isso. Infelizmente – lamentou.

Thiago Mendes foi eleito o melhor jogador de dezembro do Lille — Foto: Divulgação/Lille

Thiago falou mais sobre Bielsa. E sobre sua primeira temporada no futebol europeu. Veja mais trechos da entrevista do meia brasileiro, que tem quatro gols em 21 jogos pelo Lille:

Como foi o impacto da chegada do Neymar? Lembra quando vocês receberam a notícia de que ele havia sido contratado pelo PSG?

– A gente estava almoçando na hora e já tinha a especulação. Quando aconteceu, todo mundo ficou surpreso por ter saído do Barcelona, onde ele estava muito bem. O que pesou mais é que ele tinha que sair da aba do Messi. Um jogador como o Neymar, ele tinha que sair. Saiu no momento certo e escolheu o PSG. A gente pode acompanhar, ele realmente apanha bastante, quanto mais ele apanha, mais ele joga. Quem sabe um dia ele consiga o objetivo dele, que é ser o melhor do mundo.

E como vai ser no jogo? Como se marca o Neymar sem bater nele?

– É difícil. Você não sabe nada do que ele vai fazer, se falar que vai bater, eu estaria mentindo. Não dá para saber. Vamos tentar não deixar ele jogar, tentar dar um jeito. Quando ele mata uma bola no pé, com a qualidade que tem, pode fazer qualquer coisa. A gente vai ter que tentar parar ele de alguma forma.

Como foi a passagem do Bielsa?

Não tenho nada do que reclamar. Tenho que agradecer por tudo que ele fez por mim no nosso time. Foi meio complicado. A gente jogava, tentava fazer o que ele pedia, mas perdia. O treinador sempre sofre quando o time tem muitas derrotas, ou empata muito. O clube tem que dar um jeito. O clube achou melhor afastá-lo e depois demiti-lo. Mas passou, temos que seguir adiante. Vida que segue.

O que deu errado?

– A diretoria se baseou no resultado, que não vinha. Sempre no final a gente sofria um gol e não tinha poder de reação. O resultado não vinha. Poderia jogar dois dias, que o resultado não vinha. É justamente isso. Infelizmente.

Mesmo vivendo o pior momento da carreira, "El Loco" Bielsa canta em preleção e é aplaudido

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Mas o que você pode dizer do Bielsa? Ele é diferente?

– Ele é muito exigente em todos os momentos. No treino, no jogo. Cobra bastante. Tenta te ajudar onde você não está 100%. Tenta tirar de você os 100% sempre. Ele sempre vai estar no seu pé. Me ajudou muito.

Como ele é no dia a dia? Circulou um vídeo dele cantando tango, é sempre assim?

– É raro, né? Um treinador como ele, sempre sério, em um momento animado. Mas era começo de temporada, estávamos nos apresentando. Primeiro foram os jogadores. Então todos estavam cantando, ou contando piada, bem alegres. Depois ele ficou normal, sério.

O Lille vive uma crise financeira, e agora o Bielsa está pedindo um alto valor pela rescisão com o clube. Isso tem afetado vocês?

– Não sei exatamente o que aconteceu. O que fiquei sabendo é que o clube não consegue contratar. Nos passaram que estão com problemas da diretoria passada e não resolveram. O clube não pôde contratar nessa janela. É um pouco complicado. Os times se reforçam, mas temos jogadores que dão conta do recado.

Como avalia sua primeira temporada na Europa?

Eu acho boa. Não esperava me adequar tão rápido ao futebol francês. Não tive muita dificuldade. Pelo primeiro semestre que tivemos, fiz um bom campeonato. Estou tentando evoluir mais ainda. Não sou muito de fazer gols, e fiz quatro. Não tinha tanta liberdade. Tive oportunidade de no Brasil com o Rogério, foi quando eu pude fazer. Aqui o Bielsa me deu essa oportunidade de subir (para o ataque) também e pude estar mostrando o mesmo futebol do começo do Paulista no ano passado.

Brasileiros do Lille respondem perguntas de torcedores e se arriscam no francês

Brasileiros do Lille respondem perguntas de torcedores e se arriscam no francês

Como tem sido sua vida? A convivência é mais com os brasileiros?

– É um pouco complicado para nós. Nós não falamos francês ainda. Fazemos aula três vezes na semana. A língua ajuda, mas não atrapalha em nada. A língua do futebol é a bola. A gente brinca com todo mundo, mas eles também brincam com a gente também. É um bom ambiente, alegre, e a torcida também sempre procura saber um pouco sobre nós. A gente se entende.

Como você se vê no futebol europeu? Vê o Lille como um trampolim para outro clube grande na Europa?

– Eu sempre quero dar um passo de cada vez. Primeiro quero honrar a camisa do Lille e pensar no Lille. O que vier pela frente, pode ser estudado não só por mim, pelo clube também. Se o presidente falar que não, é não. É assim que sempre pensei.

Tem saudade do São Paulo?

Eu acompanho. Mesmo de longe, eu acompanho. Vi os três últimos jogos. Às vezes bate saudade de poder jogar no São Paulo. É normal ter saudade do ex-clube. Mas a vida agora é diferente. A gente acompanha os bastidores do clube, que está difícil, mas logo, logo, se encaixa.

Thiago Mendes ouve Rogério Ceni: "Sempre fui fã do Rogério" — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net

Te incomodou a saída do Rogério do São Paulo?

O que aconteceu com o Bielsa, aconteceu com o Rogério. Quando o resultando não vem, é complicado para o treinador. Faltou um pouco mais de calma para o Rogério demonstrar o trabalho dele. Acho que a diretoria do São Paulo tinha que ter um pouco mais de paciência também. O São Paulo ia sair daquela situação. Sempre fui fã do Rogério. Ele até passou por aqui, falou comigo, com o Luiz (Araújo), ficamos alegres de poder ver ele seguindo a carreira. Torço muito por ele. Me ensinou muito quando ele era jogador e como treinador. É um ídolo para mim, sou muito fã. Sou são-paulino desde criança. Pude participar dessa história. Infelizmente, não ganhei títulos com ele quando ele era jogador, mas conquistamos o Torneio da Flórida com ele de treinador. Para mim foi bacana. Acompanho ele agora no Fortaleza. Ele merece. Um cara do bem.

"Acho que a diretoria do São Paulo tinha que ter um pouco mais de paciência também. O São Paulo ia sair daquela situação. Sempre fui fã do Rogério"

Gostaria de voltar a trabalhar com ele?

Com certeza. No futebol, tem tempo para tudo ainda. Um dia gostaria de voltar a trabalhar. Ele estava inovando o futebol brasileiro, com métodos de fora do Brasil. Mas, infelizmente, quando o resultado não vem, sobra para alguém. Espero que um dia a gente possa se encontrar e eu possa conquistar um título com ele como treinador.

O que você viu do futebol francês?

– É mais jogado, mas também pegado. É mais dinâmico. Não é aquele futebol que aceita fazer o que se faz no Brasil, de segurar muito a bola e não dá dinâmica no passe. É um pouco diferente do Brasil nesse sentido. Vários jogadores, quando vêm jogar, devem pensar e falar o mesmo que eu. É bem diferente.

Você tem mais espaços no futebol francês?

Eu praticamente jogo de meia agora, como um terceiro homem de meio-campo. O treinador me deu mais liberdade para isso. Isso fez com que eu tenha feito os quatro gols. Com treinador dando liberdade, tudo é possível. Tenho muitas chegadas de trás, é essencial para a carreira de um volante.

Você pensa em seleção?

Sempre pensei, mas tenho que fazer meu trabalho. Jogadores da seleção estão todos em alto nível, mas pretendo estar jogando em alto nível por muito tempo. Mas se não vier, vou continuar trabalhando da mesma forma.

Thiago Mendes, Thiago Maia e Luiz Araújo: os brasileiros do Lille — Foto: Divulgação/Lille

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