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Brendan McDermid/Reuters

A investigação independente que apura as circunstâncias do escândalo do caso do ex-médico da seleção americana, Larry Nassar, afirmou que o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) se mostrou conivente e facilitou o abuso sexual de centenas de ginastas americanas. De acordo com o relatório emitido nesta segunda, outras organizações também não agiram conforme o esperado diante da situação e, dentro de suas estruturas, facilitaram o abuso em mais de cem mulheres.

O relatório do escritório de advocacia "Ropes & Gray" também acusou o diretor-executivo do Comitê Olímpico dos Estados Unidos, Scott Blackmun, e o chefe do desempenho esportivo, Alan Ashley, de estarem cientes das acusações sobre Nassar mais de um ano antes delas se tornarem públicas.

A investigação independente concluiu que os dois dirigentes não "se envolveram com a USA Gymnastics nas preocupações relatadas, compartilharam as informações com outras pessoas no USOC ou tomaram qualquer outra medida" quando souberam das alegações contra Nassar em julho de 2015.

O relatório diz que o ex-médico, que foi considerado culpado, em janeiro, de abusar sexualmente de dezenas de ginastas americanas sob o disfarce de tratamento médico e agora cumpre 175 anos de prisão, "agiu dentro de um ecossistema que facilitou seus atos criminosos".

- Várias instituições e indivíduos permitiram seu abuso e não conseguiram detê-lo, incluindo treinadores do nível de clubes e de elite, treinadores e profissionais da área médica, administradores e técnicos da Universidade Estadual de Michigan e funcionários da US Gymnastics e do USOC - indica o relatório.

A investigação acrescenta ainda que Nassar "encontrou um ambiente de ginástica de elite e esportes olímpicos que provou ser favorável aos seus projetos criminosos".

Comitê Olímpico dos Estados Unidos pede desculpas por falhar com as vítimas

Em resposta ao relatório, Sarah Hirshland, chefe-executiva do USOC, pediu desculpas e admitiu que a comunidade olímpica no país "falhou com as vítimas, sobreviventes e suas famílias".

- O conselho do USOC encomendou essa investigação independente porque sabíamos que tínhamos a obrigação de descobrir como isso aconteceu e de tomar medidas importantes para prevenir e detectar abusos. Agora temos uma visão muito mais abrangente das falhas individuais e institucionais. Todos na comunidade olímpica e paraolímpica, incluindo o USOC, devem aprender com o relatório e tomar as medidas apropriadas para fortalecer as proteções aos atletas - disse Sarah Hirshland.

Depoimentos durante o julgamento de Larry Nassar foram emocionados e chocantes — Foto: REUTERS/Brendan McDermid

USA Gymnastics é citada por não proteger os atletas

O lançamento do relatório confirma muitas das críticas que o USOC e a USA Gymnastics enfrentaram durante todo o escândalo dos abusos sexuais. Ambas as organizações foram acusadas de não proteger os atletas e de ignorar as alegações feitas contra Nassar. O escritório de advocacia de Boston foi contratado pelo Comitê Olímpico em fevereiro para investigar e revisar mais de 1,3 milhão de documentos. Foram ouvidas mais de 100 pessoas.

Relembre o escândalo na ginástica americana

O ex-médico americano Larry Nassar recebeu sentença referente a sete dos seus crimes cometidos em Michigan, nos Estados Unidos, por abuso sexual. A juíza Rosemarie Aquilina cumpriu o prometido às sobreviventes que compartilharam suas histórias e deu a pena para Nassar: entre 40 e 175 anos de prisão.

Nassar, de 54 anos, já estava cumprindo 60 anos de prisão por pornografia infantil. Ele se declarou culpado por molestar sete mulheres no Condado de Ingham e três em Eaton.

Uma das primeiras providências da USA Gymnastics após o escândalo Larry Nassar foi trocar toda a equipe médica da entidade, contou uma fonte ligada à modalidade. Para ajudar na criação da cartilha, a Federação solicitou ajuda a Deborah J. Daniels, uma ex-promotora federal especializada em casos de pedofilia. Deborah trabalhou em parceria com a Praesidium, empresa especializada na prevenção de abuso sexual em organizações que atendem jovens e adultos vulneráveis.

Além do rigor nas consultas médicas, a nova cartilha proíbe adultos de ficarem sozinhos com ginastas menores, incluindo dormir em um quarto de hotel. Os adultos também estão proibidos de terem contato fora do programa com ginastas por e-mail, texto ou mídia social.

As recomendações foram divididas em dez áreas, incluindo gestão administrativa; educação, treinamento e apoio ao atleta; relato de suspeitas de violações; e triagem e seleção de treinadores, voluntários e outros adultos com acesso a atletas.

Ginasta Bailey Lorencen depõe contra o médico Larry Nassar — Foto: REUTERS/Brendan McDermid

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